𝗖𝗮𝘁𝗮𝗿𝗶𝗻𝗮 𝗕𝗲𝗻𝗻𝗲𝘁𝘁
27 de Agosto de 2023.O som constante das teclas ecoava pela sala silenciosa, interrompido apenas pelas notificações dos aparelhos ao redor. Eu estava concentrada na tela do computador, revisando os últimos resultados de um paciente. Desde que ingressei na medicina esportiva, me dedicava a cada caso para garantir que nada saísse errado ou fugisse do controle.
Nada menos era aceitável quando se tinha o sobrenome Mancini e um pai como Abel Ferreira, cuja reputação no futebol brasileiro era quase tão imponente quanto sua própria paixão pelo esporte. Para muitos, ele era um exemplo de determinação e sucesso. Para mim, ele era a prova viva de que grandes conquistas exigem sacrifícios, e, às vezes, esses sacrifícios eram nossa própria família.
Naquela noite, no entanto, minha mente estava mais agitada do que o normal. Talvez fosse cansaço, já que o dia havia sido exaustivo. Não que eu estivesse reclamando, eu amava trabalhar com medicina. Era uma satisfação cuidar das pessoas e ver que elas confiavam em mim para ajudá-las a superar suas limitações. Mas, mesmo assim, a rotina pesada deixava suas marcas.
Perdida nos pensamentos, mal percebi o horário passar. Quando finalmente olhei para o relógio, suspirei profundamente. Já havia ultrapassado meu expediente. Recolhi minhas coisas rapidamente, como se quisesse encerrar o dia o mais depressa possível. O cansaço estampado no meu rosto não deixava dúvidas, tudo o que eu queria naquele momento era um banho, um miojo e a minha cama.
Após dar uma última olhada na minha sala para me certificar de que não estava esquecendo nada, apaguei as luzes e caminhei até a recepção, cumprimentando a equipe que ainda estava por lá.
— Tchau, pessoal! Tenham um bom descanso! — disse com um sorriso gentil, recebendo acenos e despedidas calorosas em resposta.
Assim que cheguei em casa, me joguei no sofá, sentindo cada músculo do meu corpo finalmente relaxar. Mas minha mente ainda resistia. De repente, me lembrei de que meu pai tinha um jogo importante naquela noite. Mesmo depois de tantos anos, a rotina dele como técnico ainda era imprevisível. Jogos, entrevistas, estratégias. E, como filha, eu sabia que, por mais difícil que nosso relacionamento já tivesse sido no passado, ele sempre adorava meu apoio.
— Não custa nada ligar — Murmurei para mim mesma, pegando o celular. Respirei fundo e procurei o contato dele. Fazia tempo que eu não o via pessoalmente, então, ao menos uma ligação seria um gesto de consideração.
A linha chamou duas vezes antes que ele atendesse.
— Catarina? — A voz de Abel soou levemente surpresa, mas calorosa. — Achei que você estaria ocupada no hospital.
Sorri, imaginando ele do outro lado da linha, provavelmente ainda com a mente presa ao jogo.
— Oi, pai. Sim, o dia foi longo, mas já cheguei em casa. Só queria saber como você está. — Me recostei no sofá, sentindo o cansaço se dissipar um pouco.
— Bem, estou focado no jogo de hoje. É um confronto difícil, você sabe como é. — Meu pai riu levemente, mas havia uma tensão subjacente em seu tom.
— Tenho certeza de que vai dar tudo certo — Disse, tentando transmitir confiança. — Como sempre.
Um silêncio se seguiu. Não era um silêncio desconfortável, mas cheio de coisas não ditas, de memórias antigas e palavras que ainda precisavam ser resolvidas entre nós.
— Eu… agradeço por ligar — Disse ele, mais sério desta vez. — É importante para mim.
Senti um aperto no peito. Meu pai nunca foi de expressar sentimentos com facilidade, então aquelas palavras carregavam um peso maior do que ele provavelmente imaginava.
— Não precisa agradecer, pai — Respondi suavemente. — Você sabe que estarei sempre torcendo por você.
— Sei. E isso significa muito, mesmo que eu nem sempre demonstre. — Ele suspirou, e, por um instante, parecia mais vulnerável do que eu jamais tinha ouvido.
Nos despedimos pouco depois, com ele prometendo me ligar assim que pudesse e eu desejando sorte no jogo e que dará tudo certo. Quando a ligação terminou, fiquei olhando para o teto, ainda absorvendo o breve, mas importante, momento que compartilhamos.
As coisas entre mim e meu pai nunca foram simples, mas, aos poucos, estávamos construindo um relacionamento diferente. Não era perfeito, estava longe disso, mas era honesto e verdadeiro, e, de alguma forma, isso era tudo o que eu poderia querer.
Fechei os olhos por um instante, permitindo que o silêncio da sala me acalmasse. Aquele era o típico momento em que as memórias pareciam voltar com a maior força do mundo, trazendo consigo lembranças de tempos mais complicados. De decepções passadas e de tudo o que ficou para trás.
E, inevitavelmente, uma dessas memórias tinha o rosto de alguém que eu me esforçava para esquecer, mas que, de alguma forma, sempre retornava.
Joaquín Piquerez.
Balancei a cabeça, tentando afastar o pensamento, mas seu nome parecia ecoar na minha mente. Ele fazia parte de um capítulo que eu nunca havia realmente superado.
Suspirei e me levantei do sofá. Se eu ia lidar com meu passado, ao menos faria isso de cabeça erguida.
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𝐌𝐀𝐊𝐓𝐔𝐁, 𝘗𝘪𝘲𝘶𝘦𝘳𝘦𝘻
Fanfiction" ━ 𝐓𝐇𝐄𝐑𝐄'𝐒 𝐓𝐇𝐈𝐍𝐆𝐒 𝐈 𝐖𝐀𝐍𝐓 𝐒𝐀𝐘 𝐓𝐎 𝐘𝐎𝐔, 𝐁𝐔𝐓 𝐈 𝐉𝐔𝐒𝐓 𝐋𝐄𝐓 𝐘𝐎𝐔 𝐋𝐈𝐕𝐄. " Catarina Bennett é uma mulher bem-sucedida, especialista em medicina esportiva, e poucos sabem que ela é filha do técnico do Palmeiras, Abel...