"Então me avise quando você
ouvir meu coração parar.
Você é o único que conhece.
Me avise quando ouvir
meu silêncio.
Há uma possibilidade
de eu não saber..."
— Possibility, Lykke LiABEL CARLISLE
Sabe quando paramos em frente ao espelho, e vemos versões de nós mesmos? É como se estivéssemos vendo gêmeos. Uau, são dois de mim, como isso é legal. Não, não é nada legal. Deixa de ser legal quando se torna real, deixa de ser legal quando em vez de engraçado, torna-se assustador.
E quando é aquela sala de espelhos? Já entrou em um circo? Já foi em uma daquelas salas repletas de espelhos? Já reparou o quão repleta de espelhos ela sempre está? Várias versões de si mesmo, de diferentes ângulos, diferentes formas, diferentes, apenas diferentes.
Bom, eu já fui. E eu vi aquela sala, e ela me aterrorizou completamente.
Fui chamado de louco diversas vezes, diziam que eu via coisa, mas não. Eu não era louco. Eles sim eram. Não acreditaram em mim, não acreditaram quando quebrei os espelhos da casa, ou quando cobria qualquer vidro que pudesse refletir-me.
Eu me encaro no espelho, mas algo está errado. Minha mente parece estar se desfazendo, mergulhando em surtos psicóticos sombrios. Enquanto meus olhos percorrem a sala, vejo mais de uma figura refletida, cada uma delas distorcida e ameaçadora.
Entre elas, surge meu sócio do mal, um cara sinistro que compartilha minha aparência, mas não minha lucidez. Seus olhos brilham com malícia e seu sorriso é um convite para a escuridão. Sinto um calafrio percorrer minha espinha enquanto ele se move de forma independente, como se tivesse vida própria.
Tento afastar essas visões assustadoras da minha mente, mas elas persistem, cada vez mais intensas. A realidade se confunde com a ilusão, e eu me pergunto se estou enlouquecendo ou se há algo sobrenatural acontecendo.
Enquanto luto contra meus demônios internos, percebo que a única maneira de superar essa escuridão é enfrentá-la de frente. Respiro fundo e encarei meu reflexo no espelho, determinado a encontrar a força dentro de mim para derrotar meu sócio do mal e encontrar a paz que tanto desejo.
Aquela Laguna infinita parece que se abriu de novo. Em qual cratera eu vou me afundar dessa vez?
Me coloco em um lugar onde só se via o branco, onde só havia pessoas que não batem bem da cabeça. Eu batia perfeitamente bem, não entendo o porquê de me colocarem ali.
Eles me amarraram com camisas de força, me prenderam em uma sala cheia de espelhos e esperaram eu surtar. Mas não era assim que acontecia.
Eles não acreditaram em mim até ver.
No final não era apenas simples espelhos, era como se estivéssemos em frente a uma versão do mal nossa, bom, no meu caso, eram duas.
— Abel...
A voz da serpente rastejou por meu ouvido, tão maligno quanto ele. Eu ouço vozes sussurrando em minha mente, suas palavras malévolas me envolvendo como uma teia. Cada palavra é afiada como uma lâmina, corroendo minha sanidade e me deixando à beira da loucura.
Essas vozes sussurram obscenidades, dúvidas e medos profundos, alimentando minha angústia. Elas me dizem que sou indigno, que sou um fracasso e que nunca encontrarei a felicidade. Suas risadas cruéis ecoam em meus ouvidos, enchendo meu coração de desespero.
Eu tento bloquear essas vozes, mas elas persistem, implacáveis. Elas se entrelaçam em meus pensamentos, distorcendo a realidade ao meu redor. O mundo parece distante e irreal, enquanto as vozes malignas se tornam cada vez mais poderosas.
A solidão se torna minha única companheira, pois tenho medo de compartilhar minhas lutas com os outros. Afinal, como posso explicar algo que só eu posso ouvir? Minha mente é um campo de batalha constante entre o eu racional e as vozes insidiosas.
Mesmo na escuridão mais profunda, busco uma centelha de esperança. Luto para encontrar forças para resistir às vozes malignas e buscar ajuda. Acredito que um dia encontrarei a paz e a clareza mental que tanto desejo, mesmo que seja uma jornada árdua e desafiadora.
— Qual é seu pecado, Abel?
Mas então, aquela voz ardilosa e serpentina cobre uma camada da minha vontade de paz e enche ela apenas com uma áurea ardente de desejo e alívio.
Porque todo aquele ódio um dia se tornaria amor, o do mais puro e mais louco amor humano que ela me faria sentir. O meu pecado deixaria de existir em segundos quando seus lábios estivessem sobre os meus, e todo aquele corpo sobre mim, me levaria a delírio.
Delírio de paixão, uma paixão que seria expulsa de éden e me condenaria a uma vida eterna de sofrimento na terra, com toda aquela sua violência mascarada de elegância.
Pisquei algumas vezes, sussurrando seu nome.
— Me leve, me leve com você...
Não tinha forças em meu corpo para implorar, tudo o que eu podia fazer era ficar sentado naquela sala de espelho enquanto sua aparência totalmente borrada me deixava louco e entorpecido.
— Serpente, não me tire de Éden.
Suas mãos escorrem por minhas feridas, e eu sinto que quero viver para sempre.
— Não me tire do meu jardim sagrado.
Seria considerado o meu sacrílego eterno, ser arrancado do jardim secreto. Qual foi o meu pecado?
Eu quero ser dela, senti-la sobre mim novamente e ser castigado novamente, porque se eu pudesse arder no inferno apenas por amar loucamente, então sim, Jesus Cristo, me leve até minha amada e me deixe queimar junto de seus demônios.
— Éden, meu jardim secreto. Eu irei até você.
Eu iria cometer diversos sacrilégios, apenas para poder entrar e encontrar o jardim de Deus. E se Deus condena o meu amor, então que me condene junto a ela.
Porque nem mesmo a serpente mais traiçoeira me faria comer o fruto proibido, porque eu não viveria sem Éden, não suportaria uma eternidade sem ela ao meu lado.
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O Pecado de Abel | HIATUS
Storie d'amore[Está obra é um dark romance] Éden, uma mulher católica e de fé foi a busca por uma salvação que a levaria a loucura. Não existia pecado, apenas mentiras e manipulações. Vindo de uma família conflituosa, fardada a afundar em sua própria mente e soli...