Eu nasci e cresci em um pequeno vilarejo em meio as montanhas cercado por grandes florestas de coníferas, e também cresci cercado por lendas e histórias que eram passadas de geração em geração, mas elas não eram apenas lendas, elas eram reais.
De tempos em tempos fomos atormentados por bruxas e feiticeiros que viviam pelas florestas ao redor do vilarejo, sequestravam crianças matavam animais, por muitas noites faziam sacrifícios humanos e aquilo colocava medo em todos os moradores da região, mas um dia cansados de serem atacados um grupo de homens se uniu para começar a caçar essas criaturas, com armas especiais feitas com um tipo de metal que era o ponto fraco desses seres eles começaram a dizimar todos os que viam pela frente, e assim com o passar dos anos as bruxas e feiticeiros foram sumindo das florestas e com o tempo nenhum sinal delas foi encontrado, por enquanto.–Zeck acorda você precisa ir buscar água! Anda!
Eu acordava todas as manhãs para buscar água no rio, éramos só eu e meus pais, ou só eu e minha mãe pois meu pai passava mais tempo fora do que em casa caçando bruxas em outras regiões com seu grupo em troca de dinheiro, então toda a responsabilidade de casa ficava em minhas costas.
Naquela manhã peguei meu balde e segui até o rio que ficava um distante do vilarejo mas eu já tinha o costume de fazer aquele trajeto praticamente todos os dias, o único som que se ouvia era o vento entre os galhos e alguns pássaros, quando cheguei ao rio enchi o balde e em seguida tirei minha roupa para dar um breve mergulho, a água estava gelada mas uma delícia, eu adorava aquela temperatura, de repente a floresta ficou em silêncio até o vento parou de soprar, eu achei aquilo muito estranho e saí da água, me vesti rapidamente e quando já estava pronto para voltar uma gota pingou em meu rosto, passei a mão no intuito de limpa lá mas quando olhei me assustei, aquilo era sangue, e quando olhei pra cima fiquei completamente congelado, havia vários pedaços de corpo humano empalados nos galhos daquela árvore, quando recuperei minhas forças corri de volta pra casa e quando cheguei comecei a gritar e a dizer o que tinha visto, com o tempo muita gente se dirigiu ao local inclusive os chefes do vilarejo, na volta todos se reuniram na praça central em frente à igreja e dava pra ver o medo e o pânico na cara daquelas pessoas, todo ali sabiam o que aquilo significava, elas haviam voltado.O pânico se instalou na região pois aquela notícia se espalhou como fogo em palha, as crianças foram impedidas de sair de suas casas e a única coisa que importava era volta dos caçadores para o vilarejo.
Dava pra ver o medo nos olhos da minha mãe, a mesma teve um irmão levado pelas bruxas quando era criança.–Mãe a senhora está bem?
–Está tudo bem meu filho.
–Tudo vai ficar bem, o pai vai voltar com os caçadores e resolver isso!
–Anos, anos que elas não apareciam, estava começando a achar que haviam sido extintas por aqui!
–Mas quem garante que foram elas que fizeram aquilo? Talvez tenha sido um urso.
–Você sabe muito bem que ursos não esquartejam suas vítimas e as empalam em árvores por aí, e aliás você foi ensinado na escola os sinais que elas deixam!Eu nunca imaginei que presenciaria algo como o retorno dessas criaturas, no fundo eu estava morrendo de medo. Cinco dias se passaram e meu pai chegou ao vilarejo com o restante dos caçadores, ficou a par da situação e logo foi se reunir com os líderes, logo depois voltou para casa, o meu não era muito carinhoso não demonstrava muito afeto por mim mesmo assim sempre se preocupava comigo.
Na primeira noite de caça eles não encontraram nada, nem sequer um sinal deixado por elas.–Não tiveram sorte pai?
–Não, seja lá o que for não deixou mais rastros além daquele cadáver nas árvores.
–E já sabem quem era aquele cadáver?
–Possivelmente um viajante, não deram falta de ninguém nos vilarejos vizinhos.
–E se tiverem ido embora?
–Mesmo assim devemos continuar procurando para termos a certeza, você tem muito que aprender até ser um caçador um dia Zeck.Meu pai sempre falava que um dia eu seria como ele, e aquela ideia as vezes me fazia ter medo, mas no fundo era algo que eu queria.