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Na segunda noite de caça eles voltaram gritando e comemorando, aquilo só significava uma coisa, eles haviam conseguido.

Todos se reuniram em frente a igreja e os cavalos que puxavam uma carroça com uma grande Jaula apareceu, ela estava coberta com um pano preto e do nada meu pai começou a gritar.

–Aqui está o motivo de todo os nossos temores!

Ele puxou aquele pano e lá dentro havia um rapaz acoado no canto daquela jaula.

–Esse feiticeiro é responsável por aquela morte!

Ele estava com suas mãos acorrentadas e estava bem machucado, aparentemente tinha a minha idade e tinha muitos desenhos espalhados pelo seu corpo. Todos ali estavam assustados e alguns deferiam insultos a ele, e ele permanecia o tempo todo de cabeça baixa sem dizer nada, aquela era a primeira vez em toda minha vida em que via um feiticeiro e confesso que esperava algo mais assustador.

–Amanhã a noite ele será queimado aqui em frente a igreja, onde terá todos os seus pecados consumidos pela chama divina!–Gritava meu pai.

Todos ali comemoravam, já eu não conseguia tirar meus olhos dele, queria ver seu rosto seus olhos algo me chamava atenção nele.
Meu pai e os outros passaram a noite comemorando e me levaram junto com eles, uma noite regada a cerveja histórias e muitas palhaçadas também. Mais tarde naquela noite decidi ir pra casa e no caminho passei em frente a jaula onde o feiticeiro estava, ele continuava imóvel no mesmo local, eu fiquei um pouco distante da jaula.

–Olá.

Ele nem sequer se mexeu, então decidi chegar mais perto.

–Você consegue me entender?

O silêncio tomava conta do ambiente e eu dei mais alguns passos até a jaula.

–Por que você matou aquele cara?

Ele permanecia imóvel e aquilo já estava me dando nos nervos.

–Você é surdo demônio?

Do nada ele olhou para mim, aqueles olhos negros me fitaram por alguns segundos e eu senti meu corpo gelar, aquele rosto pálido e com uma expressão neutra me prendeu, ele não era um monstro aparentemente, na verdade ele tinha algo chamativo em seus olhos.

–O que faz perto desse demônio Zeca?

A voz do meu pai ecoou em meus ouvidos me fazendo voltar a realidade.

–Oi pai eu só fiquei curioso!
–Afaste-se, não se deixe enganar por esse rosto comum, aí por trás está o verdadeiro diabo! Agora vá pra casa já está tarde!
–Já estou indo!

Eu passei o resto da noite lembrando daquele olhar, o que estava acontecendo comigo? Será que eu havia sido enfeitiçado? Do nada minha cabeça estava a mil.
No dia seguinte todos estavam ocupados com os preparativos do sacrifício, na verdade seria uma grande festa para mostrar que tínhamos vencido as trevas, mesmo de longe eu o observava e ele continuava imóvel.

–A senhora acha que ele está com fome?–Perguntei a minha mãe.
–Ele está cheio de almas inocentes das quais se alimentou, esse demônio não senti fome.

Ele realmente não era assustador, talvez todas as histórias contadas foram um pouco exageradas ou ele era uma exceção.
Quando a noite caiu uma enorme fogueira já estava pronta e todos já esperavam pelo momento em que ele seria queimado vivo. Não demorou muito para o padre chegar e cerimônia se iniciar.

–Hoje estamos aqui reunidos em algo que não queríamos a muito tempo, algo que achávamos que nunca mais veríamos, mas fomos pegos de surpresa com a volta desses seres mandados diretamente do inferno, mas graças a nossos caçadores hoje faremos justiça por aqueles inocentes que perderam suas almas pelas mãos desse monstro das trevas!

Meu pai e os outros caçadores cercaram a jaula e em seguida seguiu até ela para abri-la, meu pai estava calmo pois as correntes que o prendiam eram feitas do metal que o deixava fraco, meu pai pediu para que ele se levantasse e aparentemente ele não estava resistindo e estava obedecendo tudo que ele pedia. Meu pai o levou até a fogueira que ainda não estava acessa e o deixou parado bem ao lado dela, ele em nenhum momento levantou sua cabeça, enquanto o padre e todos ali rezavam eu o observava e do nada senti um aperto no peito, no fundo eu sabia que estava com pena dele pois sempre mentalizei bruxas e feiticeiros como seres grotescos, mas ali na minha frente estava um jovem assim como eu prestes a morrer.
Logo que o padre terminou meu pai gritou.

–Que o hoje fique marcado na memória de cada um de vocês! O dia em que vencemos o mau!

A gritaria tomou conta do local e quando os outros caçadores se preparavam para o amarrar na fogueira uma estranha neblina surgiu do nada deixando todos ali assustados, o feiticeiro então começou a rir como se soubesse o que estava acontecendo, meu pai então sacou a espada em foi em sua direção.

–Não sei como está fazendo isso demônio mas é obra sua! Que fogueira que nada eu vou lhe cortar a cabeça!

No exato momento em que meu pai baixou a espada contra ele, ele ergueu seus braços fazendo com que as correntes fossem quebradas pelo impacto da espada.

–Ele está solto peguem ele!

Uma correia começou e minha mãe tentava me puxar para cada.

–Vai a senhora eu vou ficar e ajudar o papai!

Ele foi cercado pelos caçadores e aparentava estar fraco.

–Não adianta resistir demônio, você está fraco e não pode usar sua bruxaria imunda e além disso essas flechas e essas espadas são feitas de cerilia!–Gritou meu pai

Ele parecia buscar uma forma de escapar dali mas não sabia como, foi então que a neblina se intensificou a ponto de não se enxergar nada, só se ouvia os gritos das pessoas correndo desesperadas para sair dali, decidi fazer o mesmo mas de repente senti alguém me segurar com muita força e torcer meu braço para traz.

–Não ouse se mexer ou você morre.

Aquela voz ecoou nos meus ouvidos me fazendo ficar imóvel, sim era ele, ele estava tão próximo a mim que podia sentir sua respiração, do nada senti a ponta de uma lâmina tocar minha garganta, meu pai e os outros caçadores nos cercaram apontando duas espadas e suas flechas, a névoa foi se dissipando ao ponte de sumir por completo.

–Não se aproximem ou ele morre!
–Solta meu filho!

Eu não conseguia falar nada estava em choque.

–Você acha mesmo que sairá daqui vivo seu demônio? Está muito enganado!

Ele então sussurrou algumas palavras e de repente uma corda escura surgiu amarrada em meu braço e a outra ponta ao dele, aquilo me deixou mais assustado ainda eu nunca havia presenciado magia.

–Mas que truque é esse?–Perguntou meu pai.
–Eu e seu filho estamos ligados agora, somos um só e se tentarem fazer alguma coisa comigo será refletido nele! Se eu morrer ele morre!

Todos ali pareciam incrédulos mas meu pai deu um passo a frente, ele então assustado cortou seu próprio rosto com aquela adaga e do nada senti aquela lâmina cortar meu rosto também.

–Você ousa enfeitiçar meu filho?
–Eu não estou para brincadeira, eu só quero ir embora!
–Nunca! Você não sairá vivo daqui!
–Então morreremos eu e ele!

Meu pai ficou parado me olhando como se não acreditasse no que estava acontecendo.

–Deixem ele ir!
–Não podemos fazer isso!–Disse outro caçador.
–Eu estou mandando deixar ele ir!

Eles se olharam e abriram caminho, ele saiu bem devagar ainda com seu braço envolto ao meu pescoço, meu pai e os outros ficaram lá imóveis sem poder fazer nada e eu comecei a gritar por socorro mas eles não podiam atacá-lo, ele então pegou um dos cavalos e o montou eu não queria montar mas ele a todo instante me ameaçava, acabei montando também e ele saiu em disparada em direção a floresta enquanto nos afastávamos eu podia ver a correria dos caçadores e do meu pai para nos perseguir, entramos de floresta a dentro e quase não se enxergava nada, quando olhei para trás comecei a avistar as luzes das tochas, eles estavam nos perseguindo.
Já estávamos bem distantes do vilarejo e as luzes das tochas estavam cada vez mais perto e a única coisa que eu queria era poder voltar pra casa vivo mas de repente caímos no que parecia ser um penhasco, caímos na água e eu bati com a cabeça e apaguei.

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⏰ Última atualização: Oct 09 ⏰

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