A Cantiga Esquecida - Coriolanus Snow x Lucy Gray Baird

I - O símbolo

O tempo passa para todos, sua existência pode ser extraordinária e, ao mesmo tempo, assustadora. Eis a grande beleza do tempo.

E, mais belo que o próprio tempo, é ver como vidas podem mudar junto a sua passagem.

Sete anos se passaram, e a vida mudou, e muito.

A Capital prosseguia em toda a sua glória, evoluindo e crescendo a cada dia que passava, tanto em avanços tecnológicos, quanto no civil. Enquanto isso, seus moradores viviam em paz. Tudo parecia melhor, tudo estava de fato melhor, desde que os Jogos Vorazes foram completamente aderidos pela Capital.

E, não havia pessoa mais beneficiada com tal fato, do que Coriolanus Snow. Ele sim foi muito agraciado pelo tempo.

Em sete anos, Coriolanus se formou na Academia, ingressou na Universidade, tendo seus estudos completamente financiados pela família Plinth, e tornando-se aprendiz da Doutora Gaul por quatro anos.

E, como o rapaz nunca foi do tipo que se deixava ficar muito tempo em uma única posição, suas ótimas ideias para os Jogos e novas encrementações chamaram a atenção do grande presidente Ravinstill. Não demorou muito para que o garoto logo se formasse na Universidade e fosse convidado a assumir o cargo de idealizador dos jogos.

Ser idealizador não era seu sonho, ele sabia muito bem aonde queria chegar, Coriolanus queria a cadeira presidencial. Mas, o rapaz sempre entendeu o sucesso como um longo lance de escadas, que leva tempo para acabar, para chegar ao topo, por isso, precisava começar de algum lugar.

Ele aceitou o cargo e, verdade seja dita, todos sabiam o quanto ele era bom no que fazia. Nos últimos três anos, o público nunca aclamou tanto pelos jogos. A forma com que as pessoas aguardavam ansiosas pela colheita, pelas novas ideias que Coriolanus apresentaria, pelas festas, glamour, competição e sangue. Era um entretenimento estranho e visceral, no qual ele se destacava na criação.

Aquilo era a arte do caos, da guerra, do estado de selvageria humana.

"Quatro, cinco...droga, a conta não fecha." Coriolanus pensou, levantando de sua mesa e indo até uma grande estante de livros. Ele estava em seu escritório, na cobertura do prédio central.

Ah, o Prédio Central, um edifício com paredes de mármore, vinte andares e janelas adornadas. Com o crescimento exacerbado da cidade, no coração da Capital, o Prédio Central foi erguido, três anos atrás,  para decisões administrativas, econômicas e jurídicas básicas. Coisas com as quais o próprio presidente não queria perder seu tempo, deixando nas mãos dos seus funcionários mais bem preparados. Além de claro, ser a sede de administração dos Jogos Vorazes, a ossada de Coriolanus Snow.

O primeiro andar era o único de acesso ao público, do segundo para cima, apenas os funcionários podiam acessar.

E, do décimo sexto andar, para cima, todos obedeciam a ele, o chefe, Coriolanus.

Seu escritório foi completamente planejado e feito para si. Paredes brancas, pregadas com certificados de excelência, armas de arena penduradas, troféus, fotos com os magnatas mais importantes da cidade; uma mesa de trabalho extensa com uma poltrona de couro branco; pilastras de mármore entre as estantes de livro que iam até o teto; uma extensa janela com vista para toda a Capital e, no canto do local, um pequeno bar vidrado, com algumas coleções de bebida, ao lado de um sofá.

Passar o dia inteiro trabalhando ali dentro definitivamente não era um problema, ele ficava mais lá do que em sua própria casa.

Tudo estava tranquilo, ele seguia sua perfeita linha de raciocínio, atrás de um livro em específico...