AGATHA'S POV
A dor veio antes da luz, antes mesmo que eu pudesse abrir os olhos. Minha cabeça dói tanto quanto este despertador está me irritando, ouso me movimentar rápido demais na tentativa de desligá-lo mas a intensa claridade me incomoda.
Me acostumo abrindo os olhos aos poucos e ao começar a realmente reparar no ambiente, me dou conta de que o barulho não vinha de um despertador.
Estou em um... hospital?
Minha dor não me impede de tentar entender o porquê de eu estar aqui e neste estado, mas não consigo me lembrar.
- Que bom que acordou, estávamos começando a ficar preocupados. - um homem alto entra no quarto sorrindo, certamente um médico por suas roupas.
"O que aconteceu comigo?" Tento dizer, mas não sai nada quando abro a boca.
- Não precisa se esforçar. Foi um acidente feio mas a senhora vai ficar bem. - ele liga uma luz tão irritante quanto o barulho das máquinas e me pede para seguir com os olhos. - Tem alguns exames que precisa fazer antes de ir para casa, mas posso chamar uma companhia que vai tornar o tempo aqui mais agradável.
O homem se retira me deixando neste quarto branco e vazio ainda mais confusa do que estava antes de ele entrar.
Acidente? Que tipo de acidente?Companhia? Tento pensar em quem poderia ser mas não consigo puxar absolutamente nada de minha memória.
Não demora muito para que uma mulher apareça mas apesar da eminente sensação de que a conheço, não faço ideia de quem seja.
Diferente de mim, a morena veste roupas comuns mas o que realmente me chama atenção é a maneira como ela me olha, com cautela. Como se estivesse olhando para um animal que fosse mordê-la e mesmo assim desejando se aproximar.
- Como está se sentindo?
Sério? Como pareço estar?
Não digo nada mas minha expressão certamente comunica algo, já que a mulher esboça um sorriso. Do que essa louca está rindo?
- Sinto um certo alívio em ver que você ainda é você. - diz como se estivesse respondendo a pergunta que fiz a mim mesma, como se soubesse exatamente o que eu havia pensado.
Sinto uma sensação estranha. Se ela está aqui e parece me conhecer tão bem, eu não deveria saber quem ela é?
- Tem alguma coisa errada comigo. - digo por um fio, reunindo toda a voz que forcei a aparecer e enterrando o rosto nas mãos.
Sinto uma forte pontada no cotovelo esquerdo ao flexionar os braços e só então percebo que está enfaixado. Ela se aproxima e hesita antes de passar uma de suas mãos por meu cabelo, como se tentasse me consolar.
Me viro em sua direção para oferecer um meio sorriso como agradecimento mas encontro olhos tão sombrios me encarando que paro antes mesmo de realizar a ação, a morena transparece tanta preocupação que começo a temer que as coisas estejam bem piores do que já sinto que estão.
Não perguntei seu nome.
Não sei se ela notou que não sei.
Apenas se afasta e se perde sozinha em seus próprios pensamentos encarando um ponto fixo na parede.
O silêncio preenche o local até o médico voltar alegando que iriam me encaminhar para os exames neurológicos.
E ele errou, a companhia não havia tornado o tempo alí mais agradável.
RIO'S POV
Agradeço internamente quando o Doutor Banner retorna e todos seguimos para fora do quarto sem aquele silêncio agonizante.
Agatha passou dez dias em coma após o acidente. Foram os piores dez dias de toda a minha vida, enquanto ela ainda dormia a única coisa em que me agarrei foi a cega esperança em sua recuperação.
Quando recebi a notícia de que ela havia acordado, fiquei esperando pelo enorme alívio que achei que sentiria mas só o que preenche minha mente é medo e culpa. Pelo estado de sua voz não posso crucificá-la pelo silêncio mas há uma certa estranheza em seus olhos quando direcionados à mim que não sei se faz parte da possível confusão mental que os médicos me avisaram que poderia vir no inicio da recuperação ou se no fundo ela sabia o que eu havia feito.
O que me assombra é a pergunta que ela ainda não fez.
A pergunta que me obriga a encarar a realidade e admitir que destruí nossa família, que uma parte de nós está faltando e por mais que Agatha fique bem, as coisas não tem como voltarem a ser o que eram antes.
E a culpa é minha.
Notas da autora
Pois é... voltei :) parece que alguém não consegue ficar longe de uma história com um grande potencial dramático.
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SCARS.
RomanceRio Vidal e Agatha Harkness passaram anos sendo um casal harmonioso e feliz, até que um acidente de carro leva de uma única vez as memórias de Agatha e o filho do casal, Nicholas.