capítulo 1.

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Notas da autora

Aos leitores antigos um lembrete e aos novos um aviso, sou carente de comentários e estrelinhas, é bom começar avisando que aqui é tudo na base da chantagem!

NARRADOR'S POV

Levou mais uma semana para que Harkness recebesse alta do hospital. Os resultados dos exames neurológicos não haviam sido animadores, embora os médicos insistissem que as sequelas poderiam ser temporárias. Mas o verdadeiro problema não parecia físico. Era mais profundo. Um vazio incômodo crescia dentro dela, inquieto, como se algo essencial estivesse faltando, embora não soubesse exatamente o quê.

Àquela altura, já sabia o nome da mulher que a acompanhava, mas não muito mais do que isso. Elas trocavam poucas palavras, quase nenhuma, e isso fazia com que Agatha questionasse o motivo da presença constante daquela jovem ao seu lado. Amizade? Ou apenas um compromisso de sangue, um parentesco que obrigava a outra a ficar?

O que ela não sabia era que, na verdade, Rio estava completamente perdida. Não fazia ideia de como agir. Como poderia? Se Agatha não se lembrava dela, então também não se lembrava de Nicholas.

E se não se lembrava de Nicholas, então não sabia o quão devastador havia sido o acidente.

A simples ideia de ter que contar a verdade fazia a garganta de Vidal se fechar e os olhos arderem. Mais do que tudo, o que a aterrorizava era a incerteza - o não saber quando a memória voltaria, nem qual seria a reação da mulher ao descobrir que perdera o velório do próprio filho enquanto ainda estava em coma.

Era um tipo de dor que Rio preferia enfrentar sozinha. Carregá-la em silêncio parecia mais seguro.

E talvez por isso, por puro instinto de autopreservação, começou a desejar que a memória de Agatha jamais voltasse.

- Acabei. - A voz da mais velha soou repentina, quase estranha, puxando Rio de seus devaneios sombrios. A mala já estava fechada, os olhos azuis a encaravam com certa expectativa.

Sem dizer uma palavra, a morena pegou a mala da mão da outra e se adiantou no corredor, saindo do quarto e, logo depois, do hospital. Agatha apenas a seguiu. Primeiro por obrigação, depois por inércia.

Ao sair, esperava que fossem pegar um dos táxis estacionados na entrada. Mas Rio continuou andando, sem sequer hesitar.

Ela a acompanhou sem protestar nos primeiros minutos, mas conforme seus músculos - ainda frágeis, ainda se recuperando - começaram a reclamar, o incômodo cresceu até não poder mais ser ignorado.

- Tenho certeza de que eu não deveria estar fazendo tanto esforço físico. - O comentário veio ríspido, desprovido de qualquer esforço para soar cordial. Durante toda a semana, a mulher ao seu lado havia mantido um silêncio quase absoluto, então Agatha não sentia qualquer obrigação de ser gentil.

A mulher virou o rosto apenas o suficiente para responder, com um tom igualmente cortante:

- Prefere entrar em um carro?

A pergunta a desarmou. Não soube o que responder. Rio, então, voltou a caminhar, sem esperar uma resposta:

- Pois é, imaginei. Nós vamos andando. Não é longe.

O silêncio voltou a se instalar entre elas, denso, opressor. Os óculos de sol escondiam boa parte do rosto da morena, o que só aumentava a irritação dela. Sentia-se invisível. Excluída de algo que não compreendia.

- O gato comeu a sua língua, por um acaso? - As palavras escaparam antes que pudesse se conter, carregadas de impaciência.

A resposta não veio em forma de fala. Rio apenas parou de andar e a encarou, em absoluto silêncio, como se a observasse por dentro.

SCARS. [ EM ADAPTAÇÃO ]Onde histórias criam vida. Descubra agora