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Eu estava em casa, como de costume, seguindo minha rotina cansativa e entediante. Não que fosse uma rotina insuportável, apenas a vida comum de um estudante universitário. Havia até uma apresentação no auditório do campus em um desses dias, mas isso agora não importa, nem importará depois. Peguei um copo d'água na cozinha, quando senti um vento frio passando pelo meu pescoço. Olhei ao redor e vi uma das janelas aberta. Caminhei até ela para fechá-la, mas, ao tocá-la, algo estranho aconteceu. Um frio intenso percorreu minha mão, como se uma corrente elétrica passasse pelo meu pulso, subisse pelo braço e se espalhasse por todo o meu corpo.

Pulei para trás, tomado por um súbito susto. Olhei para minha mão, balançando-a como se pudesse dissipar aquela sensação. Depois de um breve momento de raciocínio, aproximei-me novamente da janela, tentando entender o que tinha acabado de ocorrer. Foi então que percebi uma pequena rachadura no vidro. À medida que eu a observava, a fissura começou a se expandir, lenta e meticulosamente, até que o vidro começou a estalar e quebrar. O som do vidro trincando ressoava de maneira assustadora.

— Mas o que é isso?! — gritei para mim mesmo, confuso. Não era medo o que eu sentia, pois nunca tive medo de fantasmas, mas aquela situação inesperada me deixou inquieto.

Enquanto eu tentava entender o que estava acontecendo, notei que a rachadura começava a formar um símbolo peculiar, como um triângulo, que logo começou a brilhar. A luz crescia em intensidade, cegando-me, até que só conseguia enxergar o brilho vermelho através de minhas pálpebras fechadas. Junto com a luz, uma estranha sensação tomou conta de mim: calor, frio e vento, todos ao mesmo tempo, como se estivesse sendo puxado para o inferno e, ao mesmo tempo, flutuando nas alturas. Meus olhos permaneceram cerrados, incapazes de suportar a claridade.

De repente, um som alto me fez gritar e abrir os olhos. Mas, quando o fiz, não vi nada. Apenas escuridão, um vazio absoluto. Nada daquilo fazia sentido. "O que está acontecendo?", pensei.

Antes que pudesse processar o que estava ocorrendo, senti uma pancada forte em meu estômago, tão violenta que perdi a consciência. Não sei quanto tempo se passou. Horas? Minutos? Dias? Quando finalmente despertei, estava em um campo. Ao abrir os olhos, tudo que vi foi o verde da grama e um céu azul, límpido. Havia montanhas à distância e, ao redor delas, uma floresta densa.

— Onde estou? — perguntei em voz alta, ainda atordoado. — Mas que diabos é isso? — gritei, enquanto me levantava, sentindo uma tontura crescente.

Eu estava confuso, com medo, sujo de lama, e nada fazia sentido. "Como vim parar aqui?", pensei. Minutos antes, eu estava na minha casa, mas agora me encontrava no meio de um campo estranho. Bati na minha roupa, tentando limpar a lama, mas logo percebi que a sujeira não era só lama...

De repente, senti uma nova pancada, desta vez nas costas. Virei-me rapidamente e vi uma ovelha, que me atacava com cabeçadas.

— Sai daqui! Xô, xô! — gritei, tentando espantar o animal.

Olhei ao redor e, para minha surpresa, vi várias outras ovelhas pastando tranquilamente à minha esquerda e direita. "Isso é uma fazenda?", perguntei a mim mesmo. Decidi caminhar em direção às ovelhas, na esperança de encontrar alguém. Onde há ovelhas, pode haver um cachorro... ou um dono. Era minha melhor aposta.

Continuei andando, sujo e fedendo, até que, ao longe, avistei a silhueta de uma pessoa. Parecia ser um garotinho, loiro e de estatura baixa, talvez com uns 1,50m. Não sou muito bom em estimar essas coisas, mas o fato é que ele estava ali, carregando um pedaço de madeira. Gritei, na tentativa de chamar sua atenção:

— Ei! Ei!

O garoto me olhou assustado e rapidamente levantou o pedaço de madeira, como se quisesse me atacar. Levantei as mãos, tentando acalmá-lo.

— Calma, garoto, calma... Não vou te fazer mal. Só quero saber onde estou.

Ele me observou por um instante, desconfiado, e então respondeu com palavras que não compreendi:

— Hvem est tu? Quid tu vult her! — disse ele, ainda apontando o pedaço de madeira em minha direção.

"Merda", pensei. "Ele não fala o meu idioma." Minha situação estava complicando-se ainda mais. Se mal conseguia falar inglês, como poderia entender o que ele dizia? Na tentativa de me comunicar, comecei a fazer gestos, apontando para mim e depois para ele, tentando mostrar que não éramos inimigos. Apontei para os arredores, gesticulando que estava perdido, esperando que ele entendesse.

Para minha surpresa, o garoto pareceu entender, pois suspirou e disse:

— Haah. Itaque tu es perditus. Veni hic mecum, credo avia potest scire facere aliquid.

Ele se virou e começou a andar, parando alguns passos depois para me chamar com um gesto. Apesar de não entender a língua, percebi que ele queria que eu o seguisse. Talvez pudesse me levar a algum lugar seguro... ou, pelo menos, a alguém que pudesse me ajudar.

Caminhamos por mais de dez minutos. O percurso foi uma confusão completa, eu tentando me comunicar, o garoto falando algo incompreensível, até as ovelhas pareciam participar daquele caos. De vez em quando, o menino olhava para trás com uma expressão de desconfiança, lançando olhares rápidos em minha direção. Depois de algum tempo, chegamos a um pequeno vilarejo em uma colina. As casas de madeira, algumas com acabamentos de pedra, eram cercadas por celeiros pintados de verde musgo e árvores rasteiras que pareciam formar uma espécie de proteção natural ao redor da vila. A estrada, perfeitamente raspada e meticulosa, serpenteava por entre as construções. Algumas galinhas corriam e voavam, completando a cena rústica, que mais parecia saída de uma França antiga, quase à beira de uma revolução industrial.



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⏰ Última atualização: Oct 08 ⏰

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