Cap. 4: No rancho fundo

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   O resto da viagem foi seguida por assuntos banais entre nós dois, Naná dormiu quase o caminho inteiro, quando ela acordava eu pegava ela no colo e ela logo voltava a dormir.

   Nossa viagem foi tranquila, até demais, não discutimos e isso é surpreendente.

   Sul estacionou o carro, quando olhei vi que era uma estrutura enorme com uma cruz gigante no meio, e ao lado várias bandeiras.

-Esse é o Monumento ao Imigrante Italiano, quer descer ver? - Diz o loiro.

-Quero - Respondo simplório e logo descemos do carro.

   Naná continuou dormindo no carro enquanto eu e o gaúcho nos aproximamos da beira.

   Admiro a vista que era de fato linda, os raios do quase meio dia iluminando a paisagem florestal.

   Tirei meu celular do bolso e tirei uma foto da paisagem.

   Vi que o gaúcho fez a mesma coisa.

-Roberto, como eu sei que o Brasil vai cobrar... vamos tirar uma foto? - Olho para ele.

   Ele parece pensar um pouco mas logo concorda e se posiciona ao meu lado de costas pra vista.

   Fico ao lado dele e levanto o celular, logo sorrindo. Assim que o loiro faz a mesma coisa, tiro uma foto.

-Pronto? - Pergunta.

-Sim.

   Confiro se a foto estava boa e vou até o Instagram, lá público a foto nos storys.

-Foi.

   Volto a olhar o loiro, que tinha os olhos centrados na paisagem.

   Por algum motivo meus olhos se prenderam naquele homem, ele estava sem seu costumeiro chapéu, na verdade diferente de sempre, ele estava de camisa amarela, e bombacha verde, no pé, uma alpargata da mesma cor.

   Ele não estava feio, estava aceitável.

-Tá olhando muito guri, me achando bonito? - Saio do transe percebendo os olhos dele já em mim.

   Sinto meu rosto esquentar, logo me virando e tentando disfarçar.

-Você bonito? Não sei onde - Disfarço.

   O loiro solta uma leve risada.

-Aqui não é muito conhecido né? - Pergunto voltando a olhar ele.

-Não, quando visitam a quarta colônia normalmente escolhem outras cidades.

-Entendi.

-Escolhi aqui de propósito, para...ficar longe do resto do mundo.

   Penso nas palavras dele, logo volto a apreciar a vista, e pude finalmente pensar melhor em tudo que está acontecendo.

   Eu e o Rio grande do Sul viveremos um mês juntos, na mesma casa, sendo supervisionados virtualmente por um município. Não podemos discutir, nem brigar, o que é difícil - mesmo que até agora não tenhamos discutido nenhuma vez.

    Eu vou passar um mês com ele, tem tudo pra isso dar errado, tudo mesmo.

    Por que o Brasil tinha que ser cruel a esse ponto? Talvez a gente nem volte amigos, provavelmente eu e Roberto nem voltemos, vamos ter nos matado até lá.

   Roberto...nunca chamei ele assim.

   Esse com toda a certeza vai ser o pior mês da minha vida.

-Phillipe?

   Me assusto com a voz dele e saio dos pensamentos, olho pro loiro.

-Que foi? - Ponho a mão no peito.

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⏰ Última atualização: Nov 29, 2024 ⏰

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