O som abafado dos passos ecoava pelos corredores silenciosos da universidade. Eram as últimas semanas do semestre, e o ambiente, normalmente agitado, parecia sufocado pela pressão das provas e dos trabalhos finais. Na sala de debate, porém, o clima era outro. O auditório estava lotado de estudantes ansiosos, prontos para assistir à última competição de debates do ano, aquela que definiria quem sairia vitorioso.
No centro da arena, Helena Alves e Luísa Cardoso estavam frente a frente, como sempre. Para muitos, as duas representavam o auge do espírito competitivo. Helena, a estrela brilhante do curso de Direito, sempre racional e estratégica. Luísa, estudante de Sociologia, era apaixonada, falava com o coração, e suas palavras carregavam uma força bruta que movia as massas. Elas não eram apenas oponentes em um simples debate; eram rivais de longa data.
Helena sabia jogar com as palavras como ninguém. Seus argumentos eram afiados, precisos, capazes de destruir qualquer ponto de vista adversário com uma elegância quase cruel. Naquele momento, ela observava Luísa do outro lado da mesa, o olhar firme, enquanto a jovem começava seu discurso final.
Luísa, por outro lado, estava determinada a provar que não era inferior a Helena. Ela sempre havia sentido que havia algo pessoal no jeito que Helena a encarava, como se a presença de Luísa fosse um desafio que precisava ser vencido a qualquer custo. E isso a enfurecia. Não importava o quanto se esforçasse, parecia que Helena sempre estava um passo à frente, sempre pronta para derrubar qualquer coisa que Luísa construísse com tanto esforço.
"O sistema que você defende é opressor, Helena," Luísa declarou, sua voz carregada de emoção. "Não é sobre justiça, é sobre poder. E enquanto pessoas como você continuarem cegas pela ilusão de controle, o mundo jamais será um lugar justo."
Helena manteve sua expressão neutra. Ela era conhecida por isso, por sua habilidade de manter a compostura, independentemente da situação. No entanto, por trás daquela fachada calma, ela sentia uma raiva sutil crescendo. Era sempre a mesma história com Luísa: muita paixão, pouco raciocínio. E, para Helena, esse tipo de argumento emocional era fraco, fácil de desmantelar.
Quando chegou a vez de Helena, ela se levantou devagar, ajeitou os papéis na mesa e lançou um último olhar frio para Luísa antes de começar. Sua voz, baixa e controlada, silenciou o auditório.
"Paixão não constrói uma sociedade justa, Luísa. O que você propõe é um caos descontrolado. Justiça sem leis é anarquia, e o que você está sugerindo, ao final, é que deixemos o mundo queimar na esperança de que algo melhor surja das cinzas."
Ela fez uma pausa, deixando o impacto de suas palavras assentar, e então continuou: "Eu prefiro trabalhar com o que temos, mudar o sistema por dentro, com lógica, clareza e, acima de tudo, ordem."
O silêncio que se seguiu foi esmagador. O público parecia prender a respiração, absorvendo o golpe. Os olhos de Luísa brilharam de raiva, e ela mordeu o lábio, sabendo que tinha perdido. Mais uma vez, Helena a humilhara publicamente, destruindo seus argumentos com frieza cirúrgica.
Quando o debate terminou e Helena foi declarada a vencedora, Luísa não esperou as formalidades. Ela saiu da sala, o coração martelando no peito, os punhos cerrados. O ódio que sentia por Helena parecia arder em sua pele, queimando com uma intensidade que ela mal conseguia controlar.
Do lado de fora do prédio, a chuva começava a cair, como se o céu estivesse refletindo o caos interno que Luísa sentia. Ela respirou fundo, tentando acalmar a tempestade dentro de si. Sabia que não podia continuar assim, perdendo para Helena repetidamente, deixando que essa rivalidade a consumisse. Mas, ao mesmo tempo, não conseguia evitar. A cada derrota, sua raiva por Helena crescia, e com ela, algo mais, algo que Luísa não queria admitir nem para si mesma.