Sinopse: Isabela e Letícia sempre compartilharam uma amizade profunda, mas havia algo não dito entre elas, um sentimento que ambas tinham medo de admitir. Quando Letícia começa a se perder em um relacionamento abusivo, Isabela se vê consumida por ciúmes, raiva e arrependimento por nunca ter revelado seus verdadeiros sentimentos. Após uma tragédia devastadora, Isabela precisa lidar com a dor da perda e o peso das palavras não ditas. Uma história de amor, amizade e luto, inspirada na melancolia da música "Friends", do Chase Atlantic.Isabela encarava a tela do celular, os dedos apertando o aparelho com força. Na playlist, a música "Friends" do Chase Atlantic começava a tocar, o ritmo melancólico ecoando pelo quarto escuro. Ela ouvia aquela música repetidamente, quase como um castigo, como se as notas e as palavras pudessem de alguma forma amenizar a dor que consumia seu peito. Mas nada jamais aliviava o sufoco da perda, da culpa que pesava sobre seus ombros.
Na tela, as mensagens de Letícia continuavam lá, congeladas no tempo. A última troca de palavras entre elas permanecia gravada, uma cicatriz que nunca desapareceria. Isabela não conseguia evitar; ela lia e relia aquelas mensagens como se fossem um último fio de conexão com o passado, um passado que ela jamais teria de volta. Cada palavra, cada risada escrita, soava agora como uma lembrança cruel de tudo o que ela não disse, de tudo o que elas nunca tiveram.
Isabela sempre soube. Desde o primeiro dia em que conheceu Letícia, algo dentro dela mudou. A amizade entre as duas floresceu rapidamente, como uma faísca que se transformou em fogo. Mas, enquanto Letícia via em Isabela sua melhor amiga, sua confidente, Isabela se via presa em um labirinto de sentimentos que nunca poderiam ser revelados. Ela sorria quando Letícia sorria, ria de suas piadas, a escutava por horas, mas, por dentro, Isabela desejava mais. Sempre mais.
Ela nunca teve coragem de dizer. Como poderia? Letícia era livre, sempre correndo de braços abertos para o mundo, apaixonada por todas as possibilidades, pelos romances fáceis e sem compromisso. E Isabela era o oposto, sempre se protegendo, sempre escondendo as verdades mais dolorosas dentro de si. O amor que sentia por Letícia parecia uma maldição, algo que jamais poderia se concretizar sem destruir tudo o que elas haviam construído. Então, ela se calava.
Agora, no silêncio do quarto, Isabela percebia como seu silêncio tinha sido um veneno lento. Todas aquelas noites em que estiveram juntas, conversando até o amanhecer, rindo sobre os relacionamentos fracassados de Letícia, compartilhando segredos… Cada momento era uma oportunidade que Isabela deixava escapar. E agora, Letícia se fora, e com ela, qualquer chance de redenção.
A memória de uma noite específica voltou à mente de Isabela. Elas estavam sentadas no sofá da sala de Letícia, uma garrafa de vinho vazia entre elas, e Letícia, com aquele sorriso despreocupado que sempre iluminava o ambiente, perguntou:
"Você acha que algum dia a gente vai encontrar o amor de verdade? Ou será que estamos condenadas a ficar assim, só… amigas?"
Naquele momento, o coração de Isabela parou. Era como se Letícia estivesse lendo seus pensamentos mais profundos, como se tivesse percebido, finalmente, o que estava escondido por trás dos olhares, dos toques sutis, das palavras não ditas. Mas, em vez de confessar, Isabela riu. Riu porque era o que se esperava dela. Riu porque não sabia o que mais fazer.
"É claro que vamos encontrar", respondeu ela, a voz leve, mas o coração apertado. "Só precisamos continuar tentando."
E foi isso. O momento passou, como todos os outros antes dele. Isabela deixou escapar mais uma oportunidade, mais uma chance de dizer a Letícia o que realmente sentia. O que sempre sentiu.
Agora, deitada sozinha em sua cama, com a música tocando ao fundo, tudo o que Isabela tinha era arrependimento. Arrependimento por nunca ter sido honesta, por nunca ter lutado por Letícia de verdade. Elas eram mais que amigas – sempre foram, pelo menos para Isabela. Mas agora, nunca seriam nada além de uma lembrança.