O Nascimento

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Internada, uma mulher nem tem a ousadia de sentir as dores do parto, essa mulher era Samanta Santos, minha mãe.
Ela me disse que quando eu nasci fazia frio, meu pai estava apreensivo sentado na sala de espera.
Eu só podia nascer por cirurgia, por causa do tamanho da minha coluna, médicos diziam que ao me retirar eu teria que fazer uma cirurgia e que mesmo com grandes chances de vida, as chances de mim ser natimorta era grande.
Minha mãe contou que os médicos fizeram uma ultrassonografia alguns minutos antes da cirurgia, para conferir se eu não estava morta.
- Ela está viva - Dizia o médico, para acalmar minha mãe - Agora você vai sentir um breve sono.
Minha mãe conta que alguns segundos depois ela cochilou.
Nasci algumas horas depois, já fui rapidamente encaminhada a sala de cirurgia.
- Ela é branca como você e tem o cabelo preto e olhos negros como o pai - Disse o médico a minha mãe.
Algumas horas depois eu saí da sala de cirurgia e fui direto para a sala de recuperação, onde segundo minha mãe eu fiquei por duas semanas.
Eu era magra demais e meus braços eram grandes em comparação ao meu tronco.
Eu chorava muito, dizia minha mãe, quase não deixava-os dormir a noite.
Meu primeiro dente apareceu quando eu tinha dois anos, eu media 60 centímetros e pesava seis quilos.

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Meu primeiro dia no jardim de infância foi perfeito, as crianças me olhavam normalmente, sem preconceitos e ódio.
Eu recebi um pote com massinha de modelar fiz várias formas diferentes, animaizinhos, árvores, eu amava, brincava com as cores e o cheiro gostoso de massinha penetrava em minhas mãos.
No final da aula, eu coloquei a massinha no pote, eu enfiava o dedo na boca só para sentir o sabor da massinha, mas meu pai disse que era "tóxico" e eu parei com isso.
Os preconceitos começaram no terceiro ano do fundamental, tinha uma menina, o nome era Ana e todos chamavam de Aninha.
- Você é um monstro - Aninha me disse uma vez - Parece o extraterrestre do filme.
Eu ia para a casa triste, me trancava no banheiro e chorava.
Seguido por uma série de preconceitos Aninha fez mais amigos, começando uma perseguição em massa contra mim, eu... Sem amigos tinha que me virar.
Uma vez, em um passeio ao parque, o restaurante onde a turma ia acampar tinha uma placa, escrito "proibido animais"
- Olha Maria, não vá desrespeitar o aviso - Disse Aninha e todos começaram a rir - É melhor que você fique aqui fora.
Eu não comi naquele dia, meu estômago já estava digerindo tudo o que a Ana tinha me dito.
Meu primeiro pensamento suicida aconteceu quando eu estava no quinto ano, na minha terceira escola, a Escola José Antônio de Mogi das Cruzes, Mario um garoto da sala tinha puxado meu cabelo deixando vários fios soltos e minutos depois a "namorada" dele Ingrid jogou terra no meu cabelo repetindo "Terra é bom para minhocas" A suspensão dos dois não tinha diminuído a dor que eu senti, foi nessa noite que eu peguei a faca e comecei a deslizar sobre minha barriga, porém no início da dor eu parei.
Soube dias depois que a Ingrid foi atropelada e morreu, não fiquei feliz por isso, eu valorizava a vida, independente de quem pertencia.
No sétimo ano já na minha quarta escola, meus colegas fizeram uma votação de pessoa mais feia da sala e adivinha, eu ganhei com cem por cento dos votos "a testa dela é enorme" "a boca dela é maior que a abertura da janela de um ônibus" essas eram desculpas usadas para justificar os votos e foi assim que eu mudei de escola novamente.

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