Kauan Kauan..

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Crescendo em uma geração não muito pesada, lidei com situações desagradáveis na hora, e no fim era para que algo bom acontecesse.

Com apenas 7 anos de idade, conheci um garoto chamado Kauan, meu vizinho, um dos meninos mais populares da rua e da escola. Quando éramos novos, brincávamos juntos, mas quando estávamos no segundo ano do fundamental, coisas aconteceram com ele e não conversamos mais.

Bom, um novo ciclo e um bando de amigos. Conheci pessoas muito legais e outras nem tanto. Um exemplo é um grupo de meninas que, por um motivo não aparente no início do ano, infernizaram minha vida nos dois primeiros bimestres.

Em uma certa ocasião, meu ódio me dominou sobre uma delas e eu não aguentei e bati até ver ela ter algum ferimento. Mas quando ia dar um soco forte no meio do rosto dela, a diretora apareceu e nos separou. Fomos até a diretoria e lá chamaram nossas mães. A menina teve a audácia de dizer que eu a estava perseguindo desde o início das aulas e tudo por causa do Kauan.

Minha mãe saiu me zoando da situação e também não demorou muito até todos do bairro saberem. Justamente na mesma semana, Kauan estava viajando. Quando voltou, riu tanto de mim.

~ 1 mês depois

Foi anunciado um passeio ao zoológico. Eu não estava nada ansiosa, motivo: tinha brigado com meus amigos por acreditarem na menina que eu agredi. Então, iria ficar sozinha no ônibus e no passeio todo. Mas ao voltar do intervalo, um papel estava na minha mesa onde Kauan pedia para me acompanhar no passeio.

Eu não fui boba de acreditar, então fui tirar minhas satisfações se aquilo era verdade ou não. Fui até a quadra onde ele se encontrava (que vergonha) e falei em alto e bom tom se ele estava de brincadeira e se ele queria mesmo ir comigo. Ele, porém, ficou constrangido e me jogou a bola para jogarmos. Jogando vôlei com ele, Kauan falava em código e eu não entendia nada. Então, fui e me aproximei bem do seu rosto e disse:

- Você está brincando comigo!

Aquele sorriso bobo me dava vontade de enfiar a mão na cara dele, mas ele foi e mexeu em meus cabelos e disse:
- Vou levar o salgadinho pra gente. (e se retirou da quadra.)

De alguma maneira, aquele toque me acalmou tanto que não consegui dizer mais nada. Ali mesmo, vermelha, sentindo borboletas em meu estômago, foi o meu primeiro toque e contato com um menino.

~ No dia do passeio

Kauan me esperava no portão da escola e entramos juntos. Os alunos que estavam por lá nos olharam dos pés à cabeça. Eu decidi me afastar dele, mas ele, porém, me seguiu em cada canto que eu ia e me disse para parar de andar, que eu parecia uma cachorra andando nos lugares. Ficamos conversando e zoando até nos liberarem para ir ao ônibus. (E não, ele não foi cavalheiro e deixou eu entrar na frente; ele caiu ainda quando estava subindo.) Demos tchau às nossas famílias e, durante o caminho, Kauan deitou em meu ombro.

Mais uma vez, misturas de sentimentos e batimento forte. Kauan percebeu algo de errado em mim e disse:

- Terezinha, está tudo bem?

Sacudi a cabeça como um sinal de sim. Então, ele pegou em minha mão e disse:

- Sua mão é tão pequena.

O ônibus todo estava agitado com o que aconteceu. Fui e o afastei de mim, mas ele não soltava minha mão. (Que momento foi aquele! Me lembro de mandar uma menina calar a boca ainda e ele me acalmou.)

Durante o passeio todo, foram acontecendo momentos inesquecíveis e eu me senti uma princesa em cada detalhe. Mas na volta, o senhor Kauan sentou do lado da menina que agredi e lá riam e conversavam alto a volta da viagem toda. Pude sentir o olhar daquela menina através das minhas costas como facadas. O que mais me doeu foi quando eu olhava para trás e ela ia para perto do rosto dele.

Não fiz questão de correr atrás, afinal tinha outras coisas para fazer e aproveitei minha infância. Mas Kauan, depois de duas semanas, me procurou e me pediu desculpas. Insistiu tanto para sermos como éramos, mas meu coração estava apenas não ligando para aquilo.

Kauan trocou de casa e escola, não o vi mais.

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