Classe de 2013

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      — X! Sorri para a porra da foto, desgraçado! — Risos. Muitos deles. Moon assistia a tudo aquilo afastada da agitação, sentada na ponta da mesa, balançando o copo de refrigerante de melancia que já estava pela metade, querendo fugir dali o quanto antes.

A classe de 2013 se encontrava todos os anos naquele mesmo bar, na noite de todo segundo domingo de outubro, há 11 anos.

Eles jogavam conversa fora, enchiam a cara, atualizavam uns aos outros sobre suas esplêndidas (para alguns, miseráveis) vidas adultas e pintavam abóboras, que no final da noite trocariam entre si.

Moon já havia deixado de lado o pincel e a própria abóbora com os quais tentou trabalhar durante toda a noite — ela não tinha o menor talento para as artes plásticas, mas, em compensação, era ótima em se sujar inteira e em pesar o clima quando abria a boca. Por isso, ela não falava muito.

Moon não entendia por que insistia em estar ali — ou em qualquer lugar onde, querendo ou não, estaria cercada por pessoas, ouvindo-as tagarelar por horas e tendo que fingir interesse no que diziam.

Se ainda não ficou claro, Moon não era exatamente o ser humano mais sociável ou agradável do mundo.

Ela era sincera demais, mas, ao mesmo tempo, reservada demais. Reclamava constantemente de dor nas costas, de dor de cabeça ou das duas coisas ao mesmo tempo. Não bebia, mas, em compensação, comia demais e tinha um hiperfoco estranho em aves — qualquer ave, mas, em especial, calopsitas. E ela comentava muito sobre isso sempre que tinha oportunidade.

— Desgraçado é você! — retrucou o desgraçado que não sorriu para a foto quando David pediu. Moon olhou por cima dos óculos de grau, revirou os olhos, mas logo voltou a encarar o fundo do próprio copo, onde seu refrigerante de melancia quente já estava completamente sem gás. Parecia muito mais interessante. — Filho da puta! — ouviu Nicholas xingar de volta, rindo e sendo acompanhado por outras risadas. Será que mesmo depois de tantos anos esses idiotas ainda não tinham saído do ensino médio?, pensou Moon.

— Sorri de uma vez, Nick, não é tão difícil facilitar as coisas, certo? — disse Brenda, uma loira muito bonita, cujo cabelo e personalidade eram radiantes como o sol, a pessoa favorita de todos ali — e, é claro, a favorita de Moon, sua melhor amiga desde a infância — bufando.

— Tudo é muito difícil quando se trata de facilitar a vida do David — Nicholas deu de ombros, ainda concentrado na própria abóbora — ou fingindo estar. Como se pintar aquela coisinha laranja de rosa e deixá-la toda manchada exigisse muita atenção. — Mas, como é você que está pedindo, vou abrir uma exceção — flertou descaradamente com ela, piscando para a garota bonita e, em seguida, esboçando um sorriso fechado para David.

— Finalmente! — David exclamou. — Ok, olha para a câmera, Nicholas. X!!!!

— Xxxx!!!! — Metade da mesa vibrou.

Flash.

Todos estavam tão bêbados. Moon certamente ficaria responsável por dar carona para pelo menos cinco deles.

Ela estava sóbria, ela tinha carro.

Tudo se encaixava perfeitamente.

Talvez fosse por isso que eles sempre faziam questão de que ela estivesse ali todos os anos — certamente era por isso. Talvez também o fato de Brenda ser uma das pessoas que sempre organizava “coisas”, como aquele encontro anual da turma de 2013, e de ser a melhor amiga de Moon, ajudasse a incluir Moon em muitas dessas reuniões para socializar com aquelas pessoas, mesmo que ela nunca tivesse sido realmente amiga de todos eles.

Brenda a adorava e fazia questão de incluí-la no máximo de atividades possíveis — sempre tinha feito questão de fazer Moon se sentir lembrada por todos e pertencente ao grupo. Moon também adorava a borboleta social que Brenda era, vale deixar ressaltar.

— Tá vendo? Não foi tão ruim, certo? — perguntou Cooper, se aproximando do primo e tocando seu ombro, provocando-o com seu sorriso charmoso de sempre. Nicholas revirou os olhos.

— Foi péssimo — Nicholas exagerou, o que fez Brenda, Cooper e as pessoas ainda atentas àquele pequeno drama rirem. Moon revirou os olhos mais uma vez.

— Idiota. — resmungou ela, talvez alto demais.

— Tudo bem, Moonzinha? — Cooper a olhou, piscou, com a testa levemente franzida, parecendo realmente preocupado. Ele tinha aquela mania de se importar com todo mundo, de verdade. Ele era um cara muito legal — e absurdamente bonito.

Moon sentiu o rosto automaticamente esquentar. — E-eu...

— Óbvio que ela não tá bem, a garota tá com cara de quem quer morrer por ter que respirar o mesmo ar que um bando de idiotas desde o início da noite — Nicholas respondeu antes que Moon pudesse falar por si mesma, mas ele não a olhava. Moon sentiu o próprio rosto esquentar ainda mais por causa daquilo. — Ela parece estar bem?

Moon e Nicholas não eram amigos.

Desde o ensino médio, quando tiveram o desprazer de cair na mesma turma durante três anos seguidos e conviver por esse tempo, nunca tiveram uma conversa de verdade. Raramente trocavam saudações educadas e superficiais, mas geralmente apenas se ignoravam. Raramente havia algumas rusgas pontuais, mas eram quase desconhecidos.

— Não provoca ela! — Brenda o repreendeu, dando um soquinho no braço musculoso de Nicholas, que talvez não tenha nem feito cosquinha, mas o fez choramingar enquanto alisava dramaticamente o local acertado.

— Agressiva — resmungou Nicholas. — Eu só falei a verdade! — se defendeu. Brenda revirou os olhos.

— Ignora, ele tá bêbado — disse ela baixinho, estendendo a mão e tocando o antebraço de Moon, acariciando ali, com um sorriso reconfortante. Moon retribuiu o toque, sorrindo.

— Tá tudo bem — Moon respondeu no mesmo tom, tentando sorrir. Ela não estava chateada por Nicholas Alexander Chaves estar sendo um babaca — ele era daquele jeito há anos, e era assim com quase todo mundo. Ela só não gostava de sentir que estava no radar daquele cara odioso, mesmo que por alguns segundos.

— Tudo bem mesmo, Moon? — Cooper também se aproximou, sorrindo condescendente, tocando o ombro de Moon como tinha feito alguns minutos antes com o primo.

— Sim — confirmou ela mais uma vez, sorrindo para ele também. Tirando a dor de cabeça, nas costas e as bolhas nos pés por ter ficado de pé o dia todo naquele petshop, e tirando também o fato de que ela preferia estar em casa assistindo algum filme de terror ou revendo uma comédia romântica dos anos 2000, enquanto comia pizza requentada e tomava chocolate quente, estava tudo bem, sim.

— Promete? — ele estreitou os olhos. Moon confirmou com a cabeça. — Ok, qualquer coisa, é só gritar e eu apareço ao seu lado em uns… — ele pensou, enumerando com os dedos. — 2 segundos? — Brenda riu, e Moon fez o mesmo.

— Dois segundos, eu vou contar, viu? — ela respondeu.

— Faça isso! — ele riu ainda mais, afastando-se e indo até o bar atrás de mais cerveja.

— Eu preciso fazer uma ligação, volto já. Você vai ficar bem? — perguntou Brenda, se levantando.

— Vou sim, pode ir — respondeu Moon sorrindo fechado.

— Já volto! — disse a loira, saindo.

Moon a viu se afastar e depois sumir entre as pessoas. Cooper tinha engatado uma conversa animada no bar com algumas pessoas enquanto esperava seu pedido. David não se aproximava; eles namoraram por uns dois meses na adolescência, mas não se tornaram exatamente amigos depois daquilo. As outras 13 pessoas na mesa conversavam animadamente entre si, mas Moon não estava com a mínima vontade de participar daquilo.

Moon bocejou; a música de fundo era abafada pelas conversas que aconteciam em cada canto daquele lugar.

Embora ali dentro estivesse quente e movimentado, e o barulho e o frio quase ficassem totalmente presos lá fora, Moon se viu muito concentrada em uma gota de chuva que escorria lentamente pelo vidro da janela.

Talvez alguns engarrafamentos estivessem prestes a acontecer pela cidade.

No celular: "Previsão para a noite e madrugada de hoje: tempestade".

Continua

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⏰ Última atualização: Oct 12 ⏰

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