Prólogo

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Mark

       Há dezoito anos

       Não tenho vontade de fazer nada. As pessoas apenas olham para mim com pena e não param de dizer que lamentam cada vez que cruzam o meu caminho. Eu não consigo chorar na frente delas, apenas quando estou sozinho.
      Primeiro foi a minha mãe, agora o meu pai, gostaria de saber por que isso tem que acontecer? Por que eles não podiam ficar comigo e sermos uma família feliz como antes?
       Agora eu sinto que nunca mais serei feliz. Não sei como vou sobreviver sem eles, sem ouvir os conselhos dos meus pais, sem o amor deles, como posso ser feliz?
      A mansão se tornou tão grande e sombria nos últimos dias, tanto que parece estar assombrada. Os galhos de árvores que batem na janela do meu quarto é assustador, e a casa está toda escura, porque não há luz, não há felicidade.
      Saio do meu quarto e caminho pelo corredor longo para ir ao quarto onde meus tios estão, mas não os vejo, por isso desço e vou para o escritório para poder conversar com ele, mas paro os meus passos quando ouço as vozes que saem da porta entreaberta.
        — Agora Mark é o principal herdeiro. — Meu tio diz num tom nada agradável.
        — Quer dizer que o nosso futuro está nas mãos de um pirralho? — minha tia pergunta. — Não podemos fazer nada?
        — A lei o protege. Tudo o que eu posso fazer é administrar os bens até ele completar dezoito anos.
       — Isso é bom. Até lá, podemos fazer muita coisa, podemos pegar um pouco da parte dele. — Ela parece mais animada.
       — Sim. Temos que conseguir a confiança dele também, trazê-lo para o nosso lado. Acho que não vai ser difícil já que nós somos tudo o que ele tem.
       — Não vai me obrigar a tratar ele como filho. Eu já tenho os meus filhos.
       — Mas Mark é muito rico e nós não. Agora somos a família dele. — Meu tio insiste.
       Começo a chorar em silêncio, confirmando tudo o que eu pensava. Eu realmente estou sozinho e nunca mais serei feliz de novo. Meus tios só querem o meu dinheiro, eles não gostam de mim.
        — Só por isso. Se não fosse por esse motivo, nós podíamos dar ele para adoção, Otto.
       — O problema é que meu querido irmão não quis deixar nada para mim. Se a criança desaparece, não teremos nada. Mark é a nossa melhor hipótese.
        — Está bem. Vou tentar ser boa com ele. — Minha tia não parece contente com a ideia.
        Desisto de continuar a ouvir a conversa. Ouvi o suficiente para saber que meus tios estão comigo pelo dinheiro e que planejavam se livrar de mim. O dinheiro me salvou de ir parar na casa de um estranho.
        Caminho em silêncio para a biblioteca, onde meu pai passava a maior parte do seu tempo e enxugo as lágrimas, sentando na sua cadeira. O espaço também está escuro, mas não tenho medo, ligo o abajur e as coisas aparecem na minha frente. Por cima da mesa há um livro e mesmo que eu não goste muito de ler, eu começo a fazê-lo para tentar me conectar com o meu pai e fugir dos meus tios, mas não esperava que fosse um livro sobre estratégias de batalhas.
       Eu não posso fazer nada, como a minha tia disse, sou apenas um pirralho, eu não entendo muita coisa, principalmente sobre herança. Tenho apenas onze anos e estou sozinho, não sou capaz de enfrentar ninguém.
       Eu poderia fingir que meus tios eram meus inimigos, afinal aquele livro não estava ali sem motivos. Talvez fosse um sinal ou um salvamento.
        E depois daquele dia, eu nunca mais fui o mesmo.

DESASTRE [SERÁ RETIRADO DIA 20/02]Onde histórias criam vida. Descubra agora