PRÓLOGO

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Aquira, o reino mais glorioso entre os quatro – Pyra, Terraza, Shiu e, claro, Aquira. Majestoso, vasto, e inegavelmente orgulhoso, como sempre deve ser. Porque, afinal, quem não se orgulharia de dominar as terras, os mares e até os egos de quem ousasse cruzar seu caminho?
E no centro desse império estava César, o grande rei. Ah, César, tão amado pelo povo, tão admirado por seus aliados e, ironicamente, tão incapaz de amar a própria esposa. Porque, sim, o casamento de César e Celeste foi, no mínimo, um espetáculo. Pompa e circunstância para todos verem, mas com um pequeno detalhe: amor? Bom, amor é para os poetas, não para os reis. E César não era exatamente conhecido por sua veia poética.
Na noite do casamento, enquanto a corte celebrava a união, César – sempre um exemplo de sinceridade brutal – olhou para sua nova esposa com o olhar gélido de quem está prestes a dar uma notícia realmente "agradável". Ele, calmamente, declarou:
"Minha querida, considere-se honrada. Você será minha rainha, e, quem sabe, mãe de meus filhos. Mas amor? Não. Meu coração já tem dona, mesmo que ela ainda não tenha surgido neste palco... mas que sorte a nossa, não é? Afinal, quem precisa de amor quando se tem deveres reais?"
Celeste, claro, ficou encantada. Que mulher não ficaria com uma declaração dessas? Na verdade, ela ficou paralisada entre a vontade de gritar e a tentação de enfiar a coroa de César em algum lugar menos nobre. Mas ela engoliu em seco e vestiu a máscara de rainha, como era esperado.

Meses se passaram. Celeste, sempre a boa esposa, tentou encontrar uma faísca de propósito em sua nova vida. Talvez um filho? Ah, sim. Um herdeiro resolveria tudo. Quem sabe, com um bebê nos braços, ela conseguisse preencher o vazio que César insistia em cavar. E por um breve momento, pareceu que a sorte estava ao seu lado: a notícia de sua gravidez ecoou pelos corredores do palácio, e as pessoas começaram a imaginar o futuro glorioso.

Mas, como Aquira tinha o hábito de relembrar a todos, a sorte é uma dama caprichosa. E, sem grandes cerimônias, Celeste sofreu um aborto espontâneo. A esperança de que um herdeiro traria alguma estabilidade desfez-se como fumaça, e a rainha foi deixada com nada além de sua tristeza e a amarga realização de que, no jogo político, ela era só mais uma peça sacrificável.

Enquanto isso, nos reinos vizinhos, a coisa estava bem mais "divertida". Pyra e Terraza, sempre competitivos em sua corrida para ver quem era mais "progressista", começaram a conceder títulos nobres para famílias negras. Um gesto ousado, sim, mas também bastante conveniente, dado o cenário político em mudança. E foi nesse contexto de revoluções sociais que Petrovia nasceu – uma pequena princesa de Pyra, cujo nome um dia ecoaria até nos salões gelados de Aquira.

Enquanto Pyra se abria para um futuro mais inclusivo, em Aquira, o clima continuava igualmente frio, tanto fora quanto dentro do castelo. César, sempre o rei dedicado, cumpria seu papel com precisão militar, mas com a alma de uma estátua de mármore. E Celeste? Bem, ela apenas afundava mais em sua solidão dourada, cada vez mais ciente de que sua única chance de importância talvez já tivesse se esvaído junto com seu filho.

E assim, o reino mais poderoso do continente continuava a funcionar, como um relógio perfeitamente cronometrado, mas sem um pingo de emoção. Porque, no final das contas, quem precisa de sentimentos quando se tem um império a comandar, não é mesmo?

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