Era uma vez...

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Era uma vez... Uma duquesa, que, no caso, sou eu. Tudo começou aos meus cinco anos de idade, em um reino um pouco distante dos demais. Eu nasci cerca de 15 anos após a abolição da escravidão. O rei havia concedido esse título a um dos meus antecessores por questões políticas, e apenas quando eu me casar poderei usar o título de duquesa. Como minha família possuía um título de nobreza, fomos convidados para um festival no reino de Aquira. Em vez de ficarmos apenas até o festival, acabamos permanecendo lá por anos. A única pessoa com título que participava daquele festival era quem estava presente no Castelo principal da família real, e foi lá que conheci Caio, o futuro herdeiro do trono.Aos meus cinco anos, eu não tinha a menor noção de quem era ele, ou de quem eu era. Eu apenas sabia que havia saído do castelo e encontrado um incrível jardim de flores. Era um jardim exuberante, onde as cores e os aromas se misturavam em uma sinfonia sensorial. O jardim era um deleite para os sentidos, repleto de tulipas em tons vibrantes de vermelho, rosa e amarelo, cujas pétalas delicadas balançavam suavemente com a brisa. As gardênias brancas, com suas flores grandes e perfumadas, contrastavam com o verde das folhas ao redor, exalando um aroma doce e envolvente. Entre as tulipas e as gardênias, um tapete de mosquitinho criava uma camada de flores pequenas e brancas, que adicionavam uma textura quase etérea ao cenário. Rosais, com suas flores que variavam de branco imaculado a tons profundos de vermelho e rosa, se erguiam majestosamente, oferecendo um espetáculo de cores e fragrâncias. Após uma caminhada de cinco minutos por esse paraíso floral, o jardim se abria para revelar um lago largo. A água era cristalina, refletindo o céu azul acima e as árvores ao redor. A superfície do lago era tranquila, interrompida apenas pelos suaves movimentos de peixes que nadavam em suas profundezas. O entorno do lago era emoldurado por uma vegetação luxuriante, com juncos e plantas aquáticas que conferiam um toque de serenidade ao ambiente. Esse oásis de tranquilidade oferecia uma visão deslumbrante e pacífica, completando a beleza natural do jardim. Foi nesse lago que vi um menino sentado perto da água, lendo um livro. Aproximando-me silenciosamente, antes que eu chegasse muito perto, ele fechou o livro e se levantou.
— Saudações, sou o jovem príncipe Caio. No futuro, sucederei ao trono como rei, mas, por ora, sou apenas um menino. E vós, como sois chamada? — ele disse, sério e coberto de formalidade. Confesso que sabia falar assim, mas era estranho um menino com quase a minha idade usar uma linguagem tão formal. Talvez fosse a maneira educada dos príncipes. Observei-o atentamente.
— Chamo-me Violet, sou a futura duquesa de Terraza. É um prazer conhecer o futuro rei de Aquira — respondi, fazendo uma saudação formal.
Perguntei-me o motivo de ele estar ali e não no salão com todos. Sabia que crianças não podiam estar presentes naquele local, mas ele era o futuro rei. Não consegui entender por que ele estava fora.
— Será que poderíamos conversar sem tantas formalidades? — Caio disse, me desconcentrando de meus pensamentos.
— Claro, até prefiro. Posso saber o motivo do futuro rei estar aqui? — perguntei, aproximando-me de uma árvore perto do lago.
— Só não gosto de estar com muitas pessoas. E você? Acredito que nem tenha autorização para estar aqui — Caio falou com seriedade, observando-me.
Surpreendi-me com o comentário sobre "autorização". Aqui era bem diferente do meu reino. Concluí que ele devia ser o dono do jardim e que não queria que eu estivesse ali.
— Se não quiser que eu fique, eu me retiro — disse, levantando-me para partir.
Senti-me chateada, achando que ele estava me expulsando, ou pelo menos foi assim que eu interpretei.
— Espere, não vá — ele disse, aproximando-se.
Sorrindo, ainda de costas para ele, virei-me com um sorriso brincalhão e disse:
— Então venha me pegar! — e comecei a correr em direção ao jardim novamente.
— Está falando sério? — Caio me olhou com um semblante analítico, mas logo sorriu de lado e começou a correr atrás de mim.
E assim começou o "era uma vez...". Passamos a tarde brincando e rindo juntos. Quando o sol começou a se pôr, sentávamos cansados com os pés dentro do lago, ainda rindo.
— Você sabia que damas não podem ficar a sós com cavalheiros? — Caio perguntou, olhando-me nos olhos.
— Bem... Sei, mas não entendo o motivo disso — respondi, brincando com meus pés na água do lago.
Caio riu de mim. Naquele momento, não entendi, mas ri de volta. Ele ficou me observando e pegou o livro que havia deixado embaixo da árvore. Mostrando-me o livro, perguntou:
— Você já leu? — alternando o olhar entre mim e o livro.
Olhei bem para o livro e, em seguida, para ele, dando um sorriso gentil.
— Na verdade, não. Sou uma grande admiradora de livros românticos — respondi, olhando para o céu.
Caio riu e revirou os olhos de forma sarcástica.
— Claro, não é surpreendente — disse, rindo.
Levantei uma sobrancelha e cruzei os braços, mas não consegui conter o sorriso. O dia havia sido incrível. Levantei-me, sequei meus pés, ajeitei os cabelos e o vestido.

— Bem, acredito que já esteja na hora de ir — disse tristemente a Caio.
Caio levantou-se, colocou os sapatos e, em seguida, se colocou em posição de genuflexão, colocando meus delicados calçados em meus pés. Fiquei surpreendida com o gesto e levantei meu vestido para ajudá-lo. Achei aquele cavalheirismo enorme, mas, convenhamos... Ele seria o rei e eu apenas uma duquesa de outro reino.
— Que cavalheirismo! — disse, sorrindo ao vê-lo levantar-se.
— Estou na presença de uma dama, devo fazer isso — ele disse, tocando minha mão e dando um beijo.
Aquele dia nunca saiu de minha memória. Ele era um verdadeiro cavalheiro comigo. Não esperava menos, para ser sincera, mas ele sempre teve uma personalidade mais reservada.
Brincávamos muito naquele jardim e naquele lago. Minha mãe nunca poderia imaginar. Eu tinha momentos incríveis naquele lugar. Sempre que ia lá no final da tarde, era o momento mais feliz da semana para mim.
Houve uma vez em que a água do lago caiu no meu vestido e não tive tempo de secá-lo. Menti para minha mãe, pois quem aceitaria uma dama a sós com um futuro rei em um lago tomando banho?
Nossas brincadeiras e inocências continuaram até eu completar 10 anos. Então, ocorreu um dia tenebroso. Caio chegou até mim e disse, por meio de uma carta, que não queria mais que eu fosse ao seu jardim. Disse que eu não era mais bem-vinda e que era para eu evitá-lo.
Receber essa carta partiu meu coração. Como assim? Por qual motivo? Eu queria entender. Fiz algo errado? O que estava acontecendo? Fiquei muito triste e evitei até mesmo ir ao castelo, embora quisesse saber sobre... Ele era o rei e não queria problemas.
Outra figura importante para mim desde sempre é Leoni. Eu cresci com ela; somos quase como irmãs. Eu ia todo dia ao castelo por causa dela, pois os pais dela sempre tinham reuniões com a família real. Sinceramente, nunca entendi muito bem e nem era isso que me importava.
Passaram-se dois anos e eu e Caio mal nos olhávamos. Leoni se cansou disso; ela sempre foi esquentada. Questionou Caio sobre o motivo de ele ter me enviado aquela carta, e, pasmem, ele disse que nunca me enviou nada, mas recebeu uma carta de mim. No entanto, eu não mandei nada a ele. Nessa carta, dizia coisas cruéis e pedia para ele me evitar a todo custo.
Infelizmente, não tínhamos como saber quem havia enviado a carta, pois tanto eu quanto ele encontramos a carta em nossos quartos. Eu não quis questionar ninguém em minha casa, pois ninguém sabia da relação que eu tinha com o futuro rei.
Com tudo esclarecido, voltamos a nos falar, mas com mais cuidado em relação às pessoas, e começamos a nos encontrar à noite nos fundos de minha casa. Confesso que essas eram as melhores noites. Fizemos isso por um bom tempo, até ele completar 17 anos. Ele precisou fazer uma viagem para outro reino, Pyra, o reino de Leoni, da qual ela viria a ser viscondessa.
Ficamos afastados novamente. O tempo passou e chegamos aos dias atuais. Estou com 17 anos e em idade núbil. A chegada de Caio será hoje, e estou aflita com isso. Faz tanto tempo que não nos víamos. Como ele deve estar? Será que mudou muito? Ele já deve estar comprometido? A cada pergunta, eu ficava mais nervosa. Mas será que ele vai se lembrar de mim?

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