Já se passou um ano desde a restauração da Estátua da Liberdade, um marco importante para muitos em Nova York. Porém, para um certo garoto, aquela data não trazia celebração, mas sim lembranças de uma batalha. Era o dia em que ele perdeu todos os que amava, sacrificando o convívio com eles para protegê-los de algo maior. Mesmo sabendo que não poderia envolvê-los novamente, ele mantinha o hábito de passar em frente àquela pequena cafeteria onde seus amigos costumavam se reunir. De vez em quando, o vislumbre de um sorriso conhecido fazia seu coração apertar, uma lembrança amarga do que já fora. No entanto, ele sabia que não podia ceder àquela tentação. Nunca entrava no café. Apenas seguia em frente, sozinho, como um vigilante fantasma em meio à multidão.
Na manhã seguinte, a sinfonia caótica de Nova York despertava a cidade. O trânsito intenso formava uma cacofonia de buzinas e motores, misturando-se ao som apressado dos passos de quem corria para o trabalho. A vida pulsava, frenética e constante. No meio disso, um rádio ligado em uma janela qualquer transmitia, com familiaridade, os comunicados da polícia:
— Atenção! Assalto em andamento na Rua Rivington! — A voz, grave e urgente, era interrompida logo por outra chamada.
— Carro em fuga pela Clinton, indo em direção ao sul!
— Solicitação de apoio médico próximo ao Edifício Baxter.
Enquanto o rádio continuava a transmitir, batidas impacientes ecoaram pela porta de um pequeno apartamento. Do lado de fora, um homem de meia-idade, expressão sisuda e braços cruzados, insistia:
— Senhor Parker! O aluguel está atrasado de novo. Abra a porta e trate de pagar!
Lá dentro, o cenário era o de um caos silencioso. A cama estava mal arrumada, com lençóis pendurados à beira do chão. Componentes eletrônicos e peças de aparelhos estavam espalhados pelo quarto: sobre a cama, no criado-mudo, e até em cima da mesa de estudos, onde três objetos guardavam memórias preciosas. Uma foto de May Parker, o sorriso dela congelado no tempo, uma minifigura LEGO do Imperador Palpatine e um colar de dália negra, ainda pendurado de forma desleixada. Roupas coloridas, indistintas, cobriam o chão como um manto desorganizado.
Em meio ao desarranjo, a figura jovem que ali vivia se preparava para um novo dia. Sem dizer uma palavra, ele saltou pela janela, deixando para trás a confusão do quarto e lançando-se no caos organizado da cidade.
O som de "Thwip! Thwip!" ecoou pelos altos edifícios de Nova York. Como se fosse uma segunda natureza, o jovem homem balançava entre os prédios, prendendo suas teias às estruturas e voando com agilidade. Seu uniforme era inconfundível: vermelho e azul, com padrões de teia que percorriam o traje e olhos brancos grandes que cobriam sua máscara. Em suas costas, a aranha vermelha se destacava, enquanto outra menor, preta, adornava seu peito.
Era o Homem-Aranha, o herói da cidade. Ele se balançava com graça e velocidade em direção ao chamado da polícia, enquanto os cidadãos, ao notá-lo, paravam para admirar seu breve voo sobre a metrópole. Aplausos e gritos surgiam, tentando chamar sua atenção, mas o Aranha estava concentrado em seu destino: um assalto a banco.
Ao chegar no local, ele notou a hesitação dos policiais que cercavam o prédio, incapazes de agir. Diferente deles, o Aranha não pensou duas vezes. Entrou rapidamente pela janela quebrada, pendurando-se de cabeça para baixo enquanto analisava o ambiente. O salão estava tenso, os reféns escondidos, mas algo mais estava errado. Seu sentido aranha o alertou — uma ameaça estava perto.
Sem aviso, uma mesa foi arremessada contra ele. Com reflexos aguçados, o Aranha desviou facilmente, caindo em uma pose heroica no chão. Diante dele, o agressor se revelou: Shocker, um velho inimigo, vestindo seu traje amarelo e portando as temíveis manoplas sônicas.
Peter sorriu sob a máscara. Como de costume, ele não resistiu a uma provocação.
— Olha só, Shocker! Surpresa te ver aqui... ou melhor, nem estou tão chocado assim!
A provocação irritou o vilão, que respondeu com fúria.
— Cala a boca, Aranha! — gritou ele, arremessando mais móveis.
Desviando com agilidade de cada ataque, o Homem-Aranha quase riu da facilidade com que se movia. Mas a brincadeira acabou quando Shocker disparou suas ondas sônicas. Peter foi atingido em cheio, arremessado contra a parede, que rachou com o impacto. O golpe o pegou desprevenido, mas não o derrubou. Antes que pudesse reagir, seu sentido aranha disparou novamente. Algo mais estava por vir.
Mac Gargan, também conhecido como Escorpião, apareceu de repente, disparando balas em sua direção. Peter sabia que Gargan guardava rancor desde o último confronto, quando o herói o havia prendido e frustrado seus planos com o Abutre.
— Você vai morrer hoje, Aranha! — gritou Gargan, enquanto suas balas zuniam pelo ar.
Peter desviava dos disparos com habilidade, aproveitando uma brecha para puxar a arma do criminoso com sua teia. Enquanto isso, Shocker preparava mais um ataque com suas manoplas. Mas Peter foi mais rápido: lançou suas teias nas manoplas, sobrecarregando o equipamento e causando uma explosão que incapacitou os dois vilões.
Com ambos desacordados, o Homem-Aranha os pendurou de cabeça para baixo com suas teias, prendeu os sacos de dinheiro na parede e, antes de partir, deixou um recado para a polícia: "De nada por fazer o trabalho de vocês, do seu amigão da vizinhança, o Homem-Aranha!"
Voltando para seu apartamento, Peter entrou pela janela e, exausto, tirou o traje, trocando-o por roupas casuais. Seus olhos vagaram pelo quarto, até que se fixaram na foto de sua tia May. Ele suspirou, algo dentro dele ainda inquieto. Sem pensar duas vezes, saiu novamente, agora andando pelas ruas movimentadas da cidade.
O mundo ao seu redor continuava o mesmo. Horas antes, ele era celebrado como o herói mascarado, mas agora, como Peter Parker, ele se sentia invisível, apenas mais um rosto entre a multidão. Cabeça baixa, ele caminhou até um lugar familiar: o cemitério.
Lá, ajoelhou-se diante de uma lápide e, por um momento, o peso de suas responsabilidades parecia esmagá-lo.
— Você não ia acreditar como foram essas últimas semanas, tia May. Uma verdadeira loucura... Eu só queria ouvir sua voz de novo. Estou fazendo o meu melhor, mas... nada parece dar certo. Eu sei o que você me diria: "Um herói nunca desiste". E eu não estou desistindo, mas, honestamente, eu não sei mais o que fazer. Parece que tudo que eu toco desmorona, e se eu tentar ter amigos de novo, tudo vai dar errado... Eu só queria ter você de volta. Queria poder ter amigos... mas acho que tudo que eu posso ser é o Homem-Aranha. E vou dar conta disso. Sozinho, se for preciso... Mas, por favor, me deseje sorte.
Ele se levantou, lançando um último olhar para a lápide, onde estava escrito: May Parker. "Com grandes poderes, vêm grandes responsabilidades."
Continua...
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Homem-Aranha: Em busca de um lar
Science FictionEsta história explora a vida de Peter Parker após o feitiço de Doutor Estranho, que apagou sua existência da memória de todos. Agora, ele enfrenta a difícil tarefa de equilibrar sua identidade entre ser Peter Parker e o Homem-Aranha, enquanto lida c...