VI

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Às vezes me pego a pensar em poesia
Desatino a fazer versos na minha mente
Nada com eira nem beira
Completamente sem rima

Faço, sem métrica
Versos ingratos
Contos maquiavélicos
De amor sem desastre
Inverídicos, cruéis e destemperados

Minha infeliz ficção,
Tem horror a realidade
Transformo todos meus muitos infortúnios
Em pequenos disparates

Só canso de versejar
Quando olho pra você
Meu mundo para
Meu coração dispara
Sonho acordado, tolo
Só de te ver

Penso nos seus abraços
Sinceros e presentes
E sorrio de novo, bobo
Nada mais deprimente

Ainda que eu fizesse mil versos
E esgotasse a poesia
Não seria suficiente
Pois, doente de você me encontro:
Paupérrimo
Sem versos
Cheio de sonhos
De amores guardados
De afetos rendidos
Com o caos em estilhaços

Mas, ainda que sem razão
Eu continuasse a versejar
Te falaria da vida
Desses dias
Do futuro
Dos sonhos
Dos mundos
Dos amores
De tudo
Falaria só por falar
Porque há quem diga que isso é amar

Tenho feito mais poesia do que Pessoa o fez
Travo batalhas hipotéticas
Contra os moinhos de Cervantes
Escrevo sonetos languidescentes e apaixonados
Que, se expostos
Fariam os versos de Florbela
Irem pelo ralo

Contudo, já contentei-me com a vista da mansarda
Deixo a água parada
Sabendo que ela ficará má
Tornando-se mágoa

Isso é saber o que sei do que serei
Só erra quem pensa em poesia
Acerta os que vivem náufragos
Alheios ao mar
Oferecendo oferendas à terra
Torrando grãos sob a luz do luar

Me assombro com os contrários
Há tanto na impossibilidade do viver
Me pego flertando com o inesperado:
Talvez seja certo amar você





As coisas de dentroWhere stories live. Discover now