Cap 1: Prazeres na tempestade

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A tempestade desabava implacável, transformando as estradas sinuosas em rios de água e lama. O limpador do para-brisa de Denise lutava para acompanhar o ritmo da chuva torrencial, enquanto ela apertava o volante com força, tentando manter o controle sobre o carro. Sua visão era limitada a poucos metros à frente, e cada curva parecia mais traiçoeira que a anterior.

Denise odiava seu trabalho. Ser professora na faculdade de Sunderville era uma tarefa árdua, e o salário nem de longe justificava o esforço. Ela havia deixado Holdenwood, sua cidade natal, mais cedo naquela manhã, sabendo que a jornada de nove horas de carro seria exaustiva. Pior do que o cansaço, era a sensação de abandono que sempre a acompanhava — abandonar sua família por um semestre inteiro era uma dor que ela já não conseguia ignorar. Mas a necessidade falava mais alto, e a rotina exigia sacrifícios.

No rádio, uma voz abafada relatava notícias sobre acidentes na chuva, além de uma possível tempestade de granizo que se aproximava. O coração de Denise afundou no peito ao ouvir aquilo. A estrada já era perigosa o suficiente com a chuva forte; com granizo, seria impossível continuar.

— Droga, vou ter que parar em algum hotel! — resmungou para si mesma.

Ela olhou rapidamente para o GPS. Faltavam ainda duas horas para chegar a Sunderville. A ideia de dirigir mais tanto tempo em meio àquela tempestade era assustadora, mas o que a preocupava ainda mais era a ausência de um lugar seguro para parar. Pegou o celular, esperando encontrar o hotel mais próximo. Sem sinal.

— Droga... drogaa!

Ela voltou a atenção para a estrada, seu corpo tenso, enquanto o carro avançava entre as árvores que cercavam os dois lados da via. A vegetação parecia ganhar vida com o vento e a chuva, como se o mundo ao seu redor estivesse conspirando contra ela. As copas das árvores balançavam violentamente, e os arbustos na beira da estrada se curvavam sob o peso da água. A luz fraca dos faróis mal penetrava a escuridão que envolvia a estrada, criando uma sensação de isolamento profundo.

O som de uma pancada no teto do carro fez seu corpo inteiro enrijecer. Era o granizo. Pequenas bolas de gelo começaram a cair com mais força, batendo contra o carro como pedras. Denise queria gritar, queria se desesperar, mas respirou fundo, tentando manter o controle. O granizo se intensificava, e a estrada, já perigosa, tornava-se uma armadilha mortal. Se ela não encontrasse abrigo logo, poderia perder o controle do carro.

Finalmente, depois de longos minutos de tensão, ela avistou uma pequena placa de madeira na beira da estrada, quase invisível em meio à chuva. A letra desbotada anunciava uma pousada a poucos metros dali. Sem pensar duas vezes, Denise virou o volante, seguindo o caminho de terra que levava até o local.

A pousada era pequena e modesta, cercada pela escuridão das árvores e pelo som constante da chuva. Denise manobrou o carro sob uma pequena cobertura de madeira, que mal protegia o veículo, mas pelo menos a impediria de ser atingido pelo granizo.

Ela saiu do carro às pressas, correndo em direção à entrada. As botas salpicavam água e lama a cada passo, e seu casaco estava encharcado antes mesmo de atravessar a porta da recepção.

Lá dentro, o silêncio a recebeu com um peso estranho. A pequena recepção estava vazia. Nenhuma pessoa, nenhum som. Apenas o tique-taque de um relógio de parede ao fundo. Denise olhou ao redor, frustrada, e tocou a campainha sobre o balcão. Nada. Ninguém apareceu.

Seus olhos caíram sobre uma lista de hóspedes aberta sobre o balcão, e ao lado, uma série de chaves penduradas. Havia um quarto livre. Exausta e sem disposição para esperar por atendimento, Denise pegou a caneta, assinou seu nome e estendeu a mão para pegar a chave.

O corredor era estreito e abafado, iluminado por lâmpadas fracas que lançavam sombras irregulares nas paredes. Denise caminhou com passos rápidos até o quarto 12, tentando ignorar a estranha sensação de isolamento que o lugar lhe causava. A chave girou na fechadura com um estalo seco, e a porta se abriu para revelar um pequeno cubículo de paredes alaranjadas e descascadas.

Cruel Summer: Mentiras SangrentasOnde histórias criam vida. Descubra agora