Cap 3: Bem vindos ao seu pior pesadelo

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O relógio marcava 8h em ponto quando o primeiro ônibus de calouros finalmente atravessou os portões da Universidade de Sunderville. O sol já estava alto no céu, iluminando o campus com uma luz dourada suave, como se o dia tivesse sido pintado à mão para aquela ocasião. O clima estava perfeito — uma brisa leve soprava, as árvores balançavam delicadamente, e o cheiro de grama recém-cortada completava a manhã quase idílica.

Os veteranos já estavam de prontidão, alinhados perto do edifício principal, prontos para dar as "boas-vindas" à nova turma. Vestidos com camisetas personalizadas e faixas coloridas, eles seguravam balões e cartazes. Um deles lia: "Sobreviva à recepção, e você sobreviverá ao resto do curso." Outro, mais irônico, dizia: "Bem-vindos ao inferno com wi-fi!"

O som do motor do ônibus diminuiu, e o barulho crescente das vozes dos veteranos explodiu em comemorações. Assim que as portas se abriram, os calouros começaram a descer, carregando suas mochilas e malas, alguns sorrindo nervosamente, outros olhando ao redor com olhares de admiração.

— "Aí vem eles!" gritou um veterano, acenando para os outros. Em questão de segundos, uma chuva de confetes coloridos foi lançada no ar, cobrindo os calouros com uma fina camada brilhante. Balões subiam ao céu enquanto as risadas e gritos ecoavam pelo campus.

Os calouros, um misto de curiosidade e receio, tentavam absorver tudo de uma vez. Alguns veteranos corriam para cumprimentá-los, abraçando-os com entusiasmo exagerado, enquanto outros faziam pequenas pegadinhas: jogando tinta lavável nos braços ou entregando cartazes com frases absurdas como "Eu sou o rei do trote."

Do lado de fora, mais dois ônibus chegavam. Conforme os calouros iam descendo, mais veteranos se aproximavam. Um grupo de veteranas, de salto e maquiagens impecáveis, gritava animadamente:

— "Vocês são da turma mais linda que já passou por aqui!"

Outros veteranos mais brincalhões organizavam uma fila de "trote leve". Eles amarravam fitas coloridas nas mochilas dos novatos ou faziam desafios como responder perguntas bobas sobre a universidade, tudo em meio a gargalhadas.

— "Vamos lá, galera! Bem-vindos ao primeiro dia do resto da vida acadêmica de vocês!" disse um rapaz de cabelos despenteados e sorriso aberto. Ele parecia ser um dos líderes da recepção, coordenando os veteranos com bom humor e uma energia contagiante.

Enquanto os calouros andavam pelo corredor humano que os veteranos formaram, uma menina baixinha e tímida, carregando uma mala vermelha, olhou ao redor, confusa e um pouco sobrecarregada com a quantidade de estímulos. Ao seu lado, um garoto de óculos redondos e cabelos bagunçados parecia tentar se esconder no meio da multidão, com uma expressão de quem queria passar despercebido.

Porém, não havia como evitar o entusiasmo dos veteranos. Assim que passavam pela entrada principal do campus, os calouros eram bombardeados com desafios engraçados, pegadinhas leves e gritos de boas-vindas.

Um dos veteranos, de boné virado para trás e uma prancheta na mão, abordou um dos grupos de calouros que acabara de descer do ônibus:

— "Vocês já estão prontos para o melhor e pior momento da vida de vocês?!"

O grupo riu, um pouco nervoso, mas aceitou a energia que vinha com a recepção.

As horas seguintes foram um turbilhão de atividades — apresentações, piadas e uma leve tensão no ar que deixava claro que aquela não seria uma simples recepção.

O grupo de calouros seguia animadamente em direção aos estandes de seus respectivos cursos, prontos para iniciar o tour pelo campus. Cada curso tinha uma tenda decorada, com professores e alunos veteranos esperando para conduzir os novatos através das áreas específicas.

Os alunos de Artes Gerais se destacavam pela sua diversidade, com roupas alternativas, cabelos coloridos, piercings, tatuagens. Eles estavam ansiosos, curiosos para conhecer o curso que haviam escolhido. À frente do grupo estava a coordenadora, Lourandes. Ela parecia estar na casa dos 30, com cabelo curto e pintado de verde, piercings nas sobrancelhas, e uma voz rouca, como alguém que já foi fumante ou passava tempo com quem era.

— "Vamos começar o tour por um dos lugares mais importantes pra vocês, o teatro," anunciou Lourandes, gesticulando para que todos a seguissem.

Os alunos entraram no grande teatro da universidade, onde o cheiro de madeira e cortinas pesadas criava uma atmosfera inspiradora. O palco estava à meia-luz, e enquanto o grupo se acomodava nas poltronas vermelhas, Lourandes continuava:

— "Aqui, vocês vão ter suas aulas de encenação. A professora Lillian é quem vai comandar essa parte do curso. Ela tem anos de experiência no palco e, com certeza, vai desafiar vocês em maneiras que vocês nem imaginam."

Nesse momento, as cortinas do palco se abriram lentamente, e, de trás delas, surgiu a professora Lillian, fazendo uma entrada dramática. Ela usava uma saia preta longa e um casaco elegante, como se tivesse acabado de sair de uma peça clássica. Seus cabelos curtos e cacheados estavam perfeitamente arrumados, e seu rosto, ainda que já marcasse 50 anos, mostrava um ar vivaz.

— "Bem-vindos, futuros artistas," começou Lillian, sua voz aguda ecoando pelo teatro. "A arte é a essência da humanidade. Desde os primeiros desenhos nas cavernas até as obras mais contemporâneas, ela nos define. Aqui, vocês não só aprenderão a representar personagens, mas a compreender a alma por trás de cada expressão artística. E, acreditem, isso vai além de decorar falas."

Ela caminhava de um lado para o outro no palco enquanto falava, suas palavras carregando uma intensidade que prendia a atenção de todos.

— "A história da arte é, de fato, a história da civilização. Da Grécia antiga ao Renascimento, cada obra conta uma história, cada movimento reflete uma sociedade. E vocês, meus queridos, estão prestes a se unir a essa tradição."

O grupo de calouros ouvia em silêncio, alguns impressionados com a presença de Lillian. Outros, como Endrews, já começavam a se sentir ansiosos. Ele revirou os olhos discretamente e murmurou para si mesmo:

— "Pelo visto, vai ser um longo semestre..."

Só que ele falou mais alto do que pretendia, e Lillian imediatamente parou de falar e olhou diretamente para ele, franzindo o cenho.

— "Interessante, meu jovem," disse Lillian, com um tom ácido na voz. "Pra quem acha que arte é só desenho e flores, é bom abrir os olhos. O teatro, a música, a pintura... tudo isso exige esforço, dedicação e, principalmente, respeito." Ela deu um passo em direção ao final do palco, apontando diretamente para Endrews. "Você vai descobrir isso em breve."

O grupo inteiro ficou em silêncio. Endrews ficou um pouco envergonhado, mas não se deixou abalar.

— "Se apresente, meu jovem. E já que está tão à vontade, diga o que espera encontrar aqui."

Endrews suspirou. Ele sabia que não tinha como escapar dessa. Então, levantou a cabeça e disse:

— "Meu nome é Endrews. Eu vim de Angelside, da parte rural. Amo escrever, minha avó me inspirou nisso. Poderia ter escolhido Letras, mas Artes Gerais me dá a chance de experimentar várias áreas, e isso me dá mais oportunidades no futuro." Ele fez uma pausa, lançando um olhar para Lillian. "Estou aqui pela escrita e produção, e odeio qualquer coisa que envolva apresentação. Mas é isso."

A turma olhou para ele, alguns com sorrisos de compreensão, outros com olhares curiosos. Era difícil não notar Endrews, com seus cabelos tingidos de vermelho e seu estilo emo. Ele se destacava ainda mais naquele grupo cheio de individualidade.

Lillian sorriu, ainda que um pouco sarcasticamente.

— "Bom, Endrews, espero que até o final do semestre, você perca esse desgosto por apresentações. Porque aqui, todos vão ter que se expor, em mais de um sentido." Ela virou-se para o resto da turma. "Agora, temos outros prédios para visitar."

Lourandes tomou a frente novamente, sinalizando para o grupo seguir adiante. O tour continuaria, e Endrews mal podia esperar para conhecer o restante do curso – longe do teatro, de preferência.

Cruel Summer: Mentiras SangrentasOnde histórias criam vida. Descubra agora