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BELLA ESTAVA sentada no degrau de entrada da casa de seu pai, o olhar distante, focado em nada específico, enquanto o som leve das movimentações dentro da casa indicava que ele estava ocupado, mexendo em suas bagunças. Ela aguardava a chegada de Luzia, sua namorada, o coração um tanto ansioso, não só pela visita, mas pela tempestade de pensamentos que rodavam incessantemente em sua cabeça desde a briga com sua mãe.

A lembrança da discussão ainda estava viva, cravada em sua mente como um espinho incômodo. Clara não sabia de fato que ela era lésbica, mas isso não impedia sua mãe de já condenar sua relação com Luzia, lançando olhares desconfiados e deixando claro que desaprovava qualquer proximidade entre as duas. "Já não basta a sua prima, que deu uma de querer namorar mulher... não admito isso com filha minha", ecoava na cabeça de Bella, como se a voz de Clara estivesse ali, sussurrando a cada segundo.

Bella apertava as mãos sobre os joelhos, tentando controlar a respiração. A raiva e o medo se misturavam de forma estranha, criando um nó em seu peito. Como podia sua mãe ser tão fechada, tão cega ao que ela sentia? Por que era tão difícil para Clara aceitar que ela tinha o direito de ser feliz com quem quisesse, de gostar de quem quisesse?

Ela sabia que a situação era complicada, que a sociedade em si não facilitava. Em muitas conversas, ela escutava comentários homofóbicos de pessoas próximas, e isso só intensificava o medo de ser quem realmente era. Pensava em como seria o futuro, se teria de esconder o tempo todo essa parte de si, se sempre teria que lidar com o desprezo que sua mãe deixou claro durante a briga.

"Será que um dia vai ser diferente?" ela pensava, os olhos agora fixos no horizonte. A luta interna era constante. Ela queria ser livre para viver sua verdade, mas ao mesmo tempo, o peso da rejeição e o medo da perda do apoio familiar a mantinham presa. Afinal, o que importava mais? A felicidade com Luzia ou manter as aparências com sua mãe?

Ela suspirou, quase resignada. Sabia que não era uma escolha fácil. Amava sua mãe, por mais difícil que Clara fosse, e mesmo com todo o desgaste, ainda havia uma parte de Bella que queria desesperadamente ser aceita. Mas o desejo de viver livre, de não precisar esconder o que sentia por Luzia, era cada vez mais forte.

Por um momento, ela fechou os olhos, relembrando o último abraço que deu em Luzia. Aquele simples gesto carregava tanto... o calor, a conexão que existia entre elas, tudo parecia certo quando estavam juntas. Mesmo que, na maior parte do tempo, fosse difícil colocar em palavras o que sentiam uma pela outra, as ações falavam por si.

Mas, naquele momento, o mundo lá fora parecia querer mantê-las separadas. Bella respirou fundo, tentando afastar os pensamentos negativos. Luzia estava prestes a chegar, e ela não queria que sua namorada visse a preocupação estampada em seu rosto. Precisava focar no presente, viver aquele momento, ainda que o turbilhão dentro dela insistisse em tentar tomar conta.

Seu pai, Marcos, não estava longe. Ela sabia que ele estava por perto, e apesar dos defeitos que sua mãe adorava listar, ele sempre foi uma espécie de porto seguro. Ele nunca questionou suas escolhas de amizades, nunca impôs nada como Clara fazia. Bella só esperava que, se um dia ela contasse para ele sobre quem realmente era, ele também a acolhesse. Porque o que ela mais queria, naquele momento, era ter alguém que dissesse que estava tudo bem ser quem ela era.

Ela só queria ser amada e aceita como Bella, sem precisar esconder a parte mais verdadeira de si.

Bella estava sentada no degrau da casa de seu pai, os pensamentos a mil. A briga com a mãe ainda reverberava em sua cabeça, e tudo por causa de Luzia. Clara tinha sido dura, homofóbica como sempre, e agora Bella estava ali, esperando Luzia chegar, sem saber como contar tudo o que tinha acontecido.

𝐍𝐚̃𝐨 𝐒𝐞𝐢 𝐃𝐚𝐧𝐜̧𝐚𝐫 | Luzia Nezzo Onde histórias criam vida. Descubra agora