Ele É Só Mais Alguém?

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Os corredores do prédio do campus já estavam ficando vazios, Peter via apenas alguns alunos saindo das salas de suas últimas aulas do dia. O silêncio dominava todo o lugar, exceto pelas vezes que alguém passava rindo baixo ou reclamando do dia cansativo.

Han andava um tanto atordoado, tinha acabado de chegar no lugar depois de uma noite conflituosa com Lee Minho. Desde o primeiro dia que havia o visto, sabia que ele era uma pessoa difícil de lidar, mas não podia negar que ele mesmo não conseguia colaborar. Peter era assim com a maioria das pessoas, talvez por isso que não tinha muitas pessoas que o suportassem ou que confiassem em si.

Ele riu sozinho. Queria acender um cigarro, tomar um gole de cerveja. Porém, ao invés de ir encher a cara ou fumar um baseado, estava terminando ali. Não costumava ir, sempre se recusava a concordar que precisava de alguém que o escutasse às vezes, então ia apenas quando julgava que não suportaria ficar sozinho. Em dias normais, teria ido rever Sam ou esperaria Christopher terminar seu turno, então ficaria ao lado deles de boca fechada enquanto esperava aquela sensação ruim sair do peito. Porém, Han não queria que Hyunjin o visse tão cabisbaixo e infeliz e a situação com Chris parecia ruim depois do último acontecimento.

Para ser sincero, Jisung não sabia como encarar Bang Chan depois de o fazer passar por aquilo, depois de cutucar a ferida já costurada que ele carregava. Sabia que era necessário, a conversa com o veterinário renderia algo para a investigação, mas não deixava de ser triste olhar para aqueles olhos receosos e cheios de lembranças do mais velho.

Han Jisung estava começando a questionar sua conduta, se era uma boa pessoa, por isso estava ali de novo.

Parou em frente à porta de madeira polida já conhecida, internamente satisfeito ao ver que a luz da sala estava acesa. Ergueu o punho e bateu levemente, mas as batidas ecoaram altas no silêncio do prédio. O que veio a seguir foi mais um momento quieto até Han conseguir escutar uma movimentação vindo de dentro, passos de sapatos sociais perfeitamente reluzentes e a arrumação de folhas. Alguns segundos depois, a porta foi aberta para revelar Gong Jichul, um dos terapeutas da faculdade.

Assim que o mais velho colocou os olhos no Han, ele abriu um sorriso que fez os cantos de seus olhos enrugarem. Sua face era sempre tão serena e despreocupada que Jisung se perguntava se estava vivendo errado para nunca ter vivido uma paz de espírito como aquela.

— Você aqui, Peter! — o outro disse, cruzando os braços. — Andou sumido, estava começando a ficar preocupado.

— O senhor sabe como sou bem resolvido comigo mesmo — respondeu e forçou um sorriso, esperava que tivesse soado confiante o suficiente. — Estava vendo uma aula e decidi ver se você ainda estava aqui.

Jichul acenou com a cabeça e entrou no papo do estudante, era assim que o britânico dizia que precisava de alguma companhia. O mais velho deu espaço e pediu que o mais novo entrasse, oferecendo um assento assim que fechou a sala. Han o observou andar até a cafeteria e começar a preparar um café grande, até brincou sobre o mais velho estar ingerindo tanta cafeína e descobriu que ele tinha uma longa jornada de trabalho pela noite.

Gong Jichul era um conhecido do Han há muito tempo, isso porque Bang Chan faz sessões frequentes com ele. Depois que Kang Hee Ran faleceu, Jisung temia que Christopher voltasse para os seus antigos vícios e se afundasse na depressão, então começou a o levar todas as semanas na sala do terapeuta bonito do campus. Han ficou ao seu lado nas primeiras sessões porque Chris o implorava, então teve ótimas chances de julgar o homem como um bom profissional e alguém que conseguiria dar conta das feridas do amigo.

O terapeuta também era psiquiatra e só estava naquela faculdade porque trabalhava voluntariamente. Além de auxiliar os alunos lá, Gong também trabalhava em muitos hospitais com terapias em grupo e exercia psiquiatria em uma clínica, então tinha uma carga de trabalho extensa. Mesmo assim, nunca deixava de sorrir para qualquer um que visse e sempre estava na sua melhor forma. Estava no auge dos 45 anos, mas era um dos homens mais bonitos que Jisung havia visto na vida, brincava constantemente que esperava envelhecer como ele. A mandíbula marcada, o rosto esculturado, a maneira como os cabelos negros emolduravam a testa e o cinza de fios esbranquiçados brincando nas têmporas. O melhor de tudo aquilo era o sorriso tranquilizador que só ele sabia oferecer.

Solving a Case In The British Way | MinSungOnde histórias criam vida. Descubra agora