Dissimulado e Fascinante

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Ele ia morrer naquela noite.

Contou dois segundos antes de sentir a pele de seu ombro ser queimada com um aperto capaz de dilacerar as células e quase podia escutar sua articulação gritar de dor.

Sentia que ia morrer naquela noite.

Foram os dedos que subiram até sua garganta que quase arrancaram os globos oculares das cavidades de seu rosto, se é que seus olhos realmente podiam se arregalar ainda mais. Não precisava ser enforcado para se sentir sufocado, a falta de ar retumbando na sua caixa torácica e fazendo seus vasos sanguíneos doerem.

Sentia medo de tudo. Da escuridão da sala e das trovejadas incessantes do lado de fora. Tinha medo de não escutar passos alheios em sua direção. Aqueles olhos vermelhos de raiva enquanto adornados de uma falsa calmaria cínica o deixavam com medo.

Mais do que tudo, tinha medo de seu passado. Medo de todos os seus erros que brincavam com seus miolos todas as noites. Seus pontos fracos, seus arrependimentos.

— Acha que aquele seu colega vem te ajudar?

Um timbre denso e de repente tão assombroso, que cobria os trovões e parecia apertar ainda mais aquele punho em torno de sua garganta.

— Cavou tanto por causa de sua culpa. Acabou cavando sete palmos perfeitos para uma cova.

Ar. Pulmões. Respirar. Seus pés batiam no chão e ele desejava que suas mãos não tremessem tanto para que pudesse fazer alguma coisa. A sensação nublada da mente não era mais algo que apreciava, tinha medo.

O que você vai fazer, Han Jisung?

Tinha medo, era verdade. Medo do escuro, medo daqueles olhos, medo do seu passado, dos seus erros, de seus arrependimentos, daquela culpa que brotava no peito e enraizava em suas entranhas, cavando em sua pele um caminho quase sem volta.

Mas, além do medo, também tinha uma última coisa: uma única pessoa em quem confiar.

Coreia do Sul, Seoul

O sol ainda estava se pondo enquanto Lee Minho se afogava em pilhas e mais pilhas de papeladas. O escritório estava vazio e apenas ele residia em sua escrivaninha pessoal, os petelecos incessantes do teclado soavam altos e ele podia ver a sombra de sua carranca no projetor do computador.

O detetive costumava ser um cara mal humorado, mas não era de seu feitio travar a mandíbula daquela forma por causa de necessidades profissionais. Apesar de novo no departamento de crimes hediondos da cidade, o Lee levava o trabalho muito a sério e sempre parecia muito satisfeito com as tarefas com as quais era responsabilizado. Franzia o cenho apenas quando não conseguia resolver um mistério com nível recorde de tempo, o que também era uma raridade.

Bom, pelo menos até ter que redigir sua primeira carta de sinceras desculpas.

Começou quando o departamento foi acionado para uma suposta emergência há dois dias. Cinco detetives foram selecionados a dedo para investigarem um desaparecimento. Minho andava como um soldado destemido assim que receberam a ordem, ainda mais quando a pressão de encontrar a filha sumida de um dos mais influentes ministros da política sul coreana foi posta sobre as suas costas.

Trabalhou por um dia e uma noite inteiros para descobrir o paradeiro da jovem adolescente, com uma promessa ardente de que seriam capazes de encontrar a garota o mais rápido possível. Bem, era aquilo ou perdiam seus empregos, o Lee e seus companheiros.

Para se dedicar àquela operação, Minho havia tido que ser retirado de três outros casos violentos, casos em que já sentia que estava com todas as pistas em mãos. Três abandonos de casos tão importantes quanto para resgatar uma garota de seu suposto sequestrador ou, esperavam que não, seu corpo de seu assassino.

Solving a Case In The British Way | MinSungOnde histórias criam vida. Descubra agora