Prólogo

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Eu costumava pensar que entendia o mundo

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Eu costumava pensar que entendia o mundo. Que as coisas tinham uma ordem, um propósito. O que era luz e o que era trevas sempre parecia tão claro. Mas agora, tudo que eu achava saber está desmoronando, e eu me pergunto se algum dia foi real.

Cresci cercada pelo poder e pela expectativa, herdeira de uma dinastia que, em teoria, deveria me proteger. Mas tudo que senti foi o peso disso sobre meus ombros, e a pressão para ser algo que nunca quis ser.

Até onde uma assassina pode ir, antes de se perder na escuridão que ela mesma escolheu abraçar? Antes dele, era fácil distinguir entre a luz e as sombras, entre o bem e o mal. Mas agora, o que antes era preto e branco se dissolveu em cinzas, em tons de sangue e aço.

Eu fui ensinada a caçar os monstros que se escondem nos becos, a trazer justiça para aqueles que o mundo esqueceu. Mas nunca pensei que um dia eu própria fosse me olhar no espelho e ver uma sombra de mim mesma.

Há segredos que o mundo não deveria conhecer, forças que não deveriam ser desafiadas. Ele, com sua crueldade sem limites, me desafia a cada passo, a cada momento. Ele é a sombra que dança na borda da minha visão, a voz que me seduz e me empurra para além dos meus próprios limites. Seus olhos escondem um oceano de verdades, e cada sorriso que me lança, guarda uma promessa de destruição.

E eu? Eu fui treinada para não temer o escuro, para ser a lâmina na noite. Mas como você luta contra algo que nunca pertenceu ao mundo dos vivos? Algo que conhece os segredos da sua alma, que usa suas fraquezas contra você como se fossem armas?

Eu posso ser a assassina, mas ele me fez perceber que há um preço por cada alma que levo. Ele é a prova viva de que, às vezes, o abismo olha de volta, e o monstro que você caça pode ser a única coisa que entende a fome que você tenta esconder.

Então me pergunto, até onde uma assassina pode ir antes de se tornar um monstro ela mesma? E se eu cruzar essa linha, quem estará do outro lado para me salvar... ou para me destruir?

E talvez eu já tenha cruzado essa linha. Talvez, quando decidi aceitar suas provocações, suas promessas de poder e verdade, eu tenha selado meu próprio destino. Há um fogo que queima por dentro, uma chama que ele acendeu, que me faz questionar cada certeza, cada escolha que fiz. Afinal, o que resta quando a própria justiça se torna um fardo, e a única verdade que resta é o caos?

Ele me vê. Sempre viu. Não a pessoa que todos em volta acham que sou, mas a pessoa que reside dentro de mim. Aquela coisa maligna que se alimenta de caos e sangue. Ela sorriu para ele, e ele, sorriu de volta.

Ele faz com que eu veja o abismo que se abre dentro de mim, me faz questionar se essa sede por justiça sempre foi tão pura quanto eu acreditei, ou se, desde o início, era apenas uma máscara para esconder algo muito mais sombrio.

E ainda assim, eu não recuo. Não posso recuar. Não depois de ter visto o que ele pode fazer, o que ele é capaz de oferecer. Há um poder ali, um conhecimento que sussurra nos recantos mais profundos da minha mente. E mesmo sabendo que há um preço, que há sempre um preço, eu continuo a segui-lo, a tentar desvendar o que há por trás daquele sorriso frio, daqueles olhos que conhecem segredos que eu mal posso imaginar.

Ele me oferece um mundo onde as regras humanas não importam, onde a moralidade se dissolve no véu da noite. Um mundo onde eu posso ser livre de todas as amarras, mas ao mesmo tempo, um mundo onde me perder pode significar perder minha própria alma. E talvez, só talvez, eu esteja disposta a pagar esse preço para descobrir até onde posso ir.

Até onde uma assassina pode ir antes de se tornar algo além de humana? E o que acontece quando a linha entre caçador e presa desaparece no crepúsculo? Eu sou o fio da navalha, e ele, o abismo que espera pelo meu próximo passo em falso. Talvez a resposta esteja nas sombras, e talvez eu já tenha ido longe demais para voltar atrás.

E quer saber? Eu não me arrependo.

Sim, há um abismo dentro de mim.

O mundo que eu conhecia antes dele já não existe mais. Estou à deriva em um oceano de incertezas, e tudo que eu pensava ser sólido está desmoronando. Ele é a causa disso. E, de alguma forma, eu sei que não posso voltar atrás. Não depois de tê-lo conhecido.

Talvez, no fundo, eu nem queira.

E se o preço por abraçar o poder é perder quem eu fui, que seja. Eu aceito a troca. Porque, no fim, o que resta de uma vida sem controle, sem propósito, além de submissão?

Eu não me curvo a ninguém.

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