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Querido Diário

Hoje é Quinta. É amanhã. Sinto-me tensa e nervosa e acho que o Paulo também já se começou a aperceber de que algo não está bem. 

Esta manhã acordei por volta das oito horas, dormi de janela aberta para que os raios de sol me acordassem bem cedo! E assim aconteceu, às oito horas os raios entraram pela janela e fulminaram a minha pele dourada. Acordei, levantei-me e caminhei até à casa de banho onde tomei um banho quente, sequei o cabelo e tratei-o. Hoje fiquei-me pelo básico: coloquei espuma e os caracóis em forma de saca rolha mantiveram-se assim todo o dia. Depois maquilhei-me: Fiquei-me pela base habitual e eye-liner fino nas pálpebras, perfumei-me e saí.

Desci as escadas e caminhei até à cozinha, não tinha fome por causa dos nervos, mas sabia que o almoço não sairia tão cedo assim, e mais vale prevenir que remediar por isso acabei a comer corn flakes com leite. Paulo desceu poucos minutos depois e fez o mesmo procedimento, analisou todas as prateleiras, e concluindo que não havia nada melhor ficou-se pelos mesmos cereais.

"_Bom dia - ele disse com uma voz baixa e rouca.

_Bom dia, Paulo - respondi no mesmo tom.

_Está tudo bem? - ele perguntou com a mesma rouquidão erguendo uma sobrancelha.

_Claro. Porque não estaria? - perguntei erguendo também uma das sobrancelhas. Ele sabe de alguma coisa? Se souber estou tramada é tarde demais para abortar a missão...

_ Não sei... Pareces tensa ou assim... E depois da conversa do outro dia... Tu sabes... - ele disse evitando o contacto visual.

Por vezes instantes o único som audível na casa era o tilintar das colheres ao tocarem e rasparem na taça.

_ Paulo, o que aconteceu no outro dia ficou no outro dia. Não há ressentimentos entre nós, lembraste? - disse colocando a minha mão em cima a dele e apertando-a, depois fiz um sorriso caloroso.

_Obrigado. Obrigado por me dares uma segunda hipótese. - ao ouvir as suas palavras um peso horroroso instala-se no meu coração, um sentimento sombrio e gelado toma conta do meu corpo. 

Sinto-lhe o cheiro. Culpa. Sinto-me culpada, se calhar ele só precisava mesmo de uma segunda hipótese. 

_ Não tens de me agradecer - digo rapidamente, levantei-me coloquei a taça no lava loiças e voltei para o meu quarto."

Preparei a minha mala, telemóvel, carregador do telemóvel, fones, cartão do mini-bus, uma garrafa de água, carteira e um quimono dobrado em 4 partes. Olhei-me ao espelho uma última vez: estava bem. Antes que pudesse sair o telefone toca.

"_Estou? - perguntei

 _ Holla - não precisava de ouvir mais nada já sabia que era a Júlia. - posso saber o que é que a senhora Helena tem para fazer hoje?

 _ A senhora Helena ia agora apanhar o mini-bus para ir ter contigo.

 _Parece-me bem. Vens cá ter e depois vemos onde vamos. Até já Lena.

 _Até já, Ju."

Assim foi. Coloquei o telefone no bolso das calças e fui até à porta de casa. 

Saí de casa, e caminhei com um passo razoável até à paragem do mini-bus para meu triste fado, o mini-bus que eu pretendia tinha acabado de partir, ou seja teria de esperar mais meia hora até ele voltar. Não me incomodei, sentei-me no banco da paragem cruzei as pernas à chinês, tirei da minha mala os fones e comecei a ouvir a minha playlist de Verão.

Um suave toque no meu ombro esquerdo fez com que acordasse do meu transe e, consequentemente, tirasse o fone esquerdo do ouvido.

"_É bom ver-te de novo. Helena, certo? - uma voz masculina disse, era um pouco rouca, mas não tanto como a do meu irmão. Virei-me devagar e dei de caras com Tomás, o amigo de cinema do meu irmão.

 _É bom ver-te fora da minha casa. - disse fazendo um sorriso frio. - Tomás, certo? 

Ele ri.

 _Gosto da tua voz. -disse num tom de diversão. Os seus olhos deslizam suavemente para os meus fazendo-me corar.

_Pena eu não gostar da tua. - respondi-lhe.

_ Pena tu gostares dela, não é? Eu reparei na maneira como me olhaste no outro dia.

_Sim, o meu olhar admirado! Normal, não? 

_ Chama-lhe o que quiseres. Olha o teu mini-bus. - disse desaparecendo.

Olhei para a frente, era de facto o meu mini-bus, entrei.


***

Toquei à campainha pela terceira vez, mas onde raio se tinha metido aquela Júlia? A casa estava arejada, janelas abertas, persianas levantadas e cortinas esvoaçantes...

Coloquei a minha mão na maçaneta dourada da porta branca, estava quente, alguém a usara há não muito tempo. Abri a porta e entrei.

O andar de baixo estava totalmente adormecido. As cortinas brancas esvoaçavam para fora das janelas abertas, o chão de madeira estava brilhante e encerado, os sofás estavam impecáveis e a televisão apagada. Caminhei em frente e passei pelo arco que levava a cozinha. Toda a loiça estava lavada e no escorredouro a pingar, a mesa estava limpa com uma tulipa amarela no centro, a Anabela (mãe da Júlia) é apaixonada por tulipas. Um cheiro a lavanda pairava no ar, provavelmente proveniente da vela que estava a arder na lareira da sala, junto à entrada. Finalmente alguns passos ecoaram nas escadas.

"_Júlia?" 

Não obtive resposta. Caminhei até à sala calmamente e sem fazer barulho, quando lá chego encontro Willy, o cão da Júlia. Era um golden retriver e fazia jus ao nome porque era dourado. O cão não me estranhou em vez disso fios de baba escorreram pela sua boca ao ver-me.

Mas onde raios estava ela?


_ _ _Autora_ _ _

Mas onde raio está Júlia? A Lena não está com tempo para se "enfiar" numa embrulhada, afinal de contas amanhã é o grande dia, o plano para colocar Paulo no local onde ele já deveria estar há muito!

E o que raio irá acontecer entre Helena e o dito "amigo do seu irmão", Tomás?

Descubram no próximo capítulo, até lá não se esqueçam de continuar a ler e a votar na história

AbandonadaOnde histórias criam vida. Descubra agora