San perdeu a conta de quantas vezes precisou saltar do metrô por estar atrasado ou porque simplesmente não queria descer em sua parada. Acostumou-se a chegar às aulas fora de horário, pois passava alguns bons minutos observando um garoto que pegava o mesmo metrô que ele.
Todas as manhãs pareciam iguais. Ele era quieto, sempre chegava com livros volumosos, uma bolsa preta transversal com um brasão de universidade estampado. Baixinho, com os cabelos sempre muito bem arrumados e, possivelmente, cheirosos. San gostaria de cheirá-los.
Vestia roupas discretas, variando entre preto, branco e algumas peças vermelhas. Parecia até um idol. Havia vezes em que o garoto usava máscara descartável, o que não era incomum na Coreia.
Ele era muito bonito e educado. Deixava seu assento disponível para senhorinhas, ajudava gestantes que carregavam peso e também compartilhava alguns snacks com crianças curiosas. Fora os cumprimentos, sempre que seu olhar cruzava com o de alguém. San fazia um pequeno esforço para entrar no campo de visão dele.
Aquele dia não deveria ser diferente. Ele entrou, alheio ao tumulto, procurando um lugar para sentar, mas o metrô estava mais cheio que o normal. As pessoas se espremiam, tentando achar um local de apoio que também fosse minimamente confortável. San notou quando o par de pés já conhecidos parou próximo a si, tão perto a ponto de sentir o cheiro do perfume dele: uma colônia masculina, porém doce, que lembrava mel. San adorava mel.
Ele estava perto o suficiente para San notar uma pintinha logo abaixo de seu olho e como ela era graciosa e solitária. Pôde notar também que ele tinha belos cílios, curvando-se suavemente para cima, deixando seus olhos grandes ainda mais bonitos. Como a maquiagem de cor marrom combinava com seus traços, os lábios levemente avermelhados e um pouco rachados, assim como os traços masculinos muito bem adornados em si.
San prendeu a respiração; ele estava perto demais. Nunca havia estado tão próximo antes, a ponto de sentir o perfume impregnando em suas narinas. Mal conseguia processar todas aquelas informações. Mordia os lábios nervosamente, enquanto sua mão, que segurava o apoio do teto, suava, ameaçando escorregar.
Apesar do barulho das pessoas e de seus pensamentos que pareciam querer gritar, ele estava alheio a tudo e sequer percebeu quando o metrô deu um solavanco e um corpo chocou-se contra o seu.
Seus olhos se arregalaram, e ele não pensou muito antes de agarrar a cintura daquele que se chocou com ele, evitando uma queda.
— Você está bem? — San perguntou quase em um sussurro, afastando-o minimamente, mas ainda com a mão o segurando.
— Sim — ele respondeu rapidamente. Livrou-se das mãos de San e se abaixou para pegar os pertences que caíram no chão. San umedeceu os lábios e abaixou-se para ajudá-lo. — Obrigado.
Pela primeira vez em semanas, San ouviu sua voz. Era suave, baixa, melódica. Sentiu que poderia ouvi-lo falar por horas sem se cansar daquele timbre.
— Sem problemas — San respondeu, entregando um dos livros ao rapaz, que o aceitou prontamente com um sorriso tímido.
Quando se levantaram, voltaram a se segurar para evitar outro acidente, ainda um pouco próximos, em um silêncio levemente desconfortável. San sentia o olhar do outro oscilar entre ele e algum ponto distante, tão perdido quanto ele próprio. Sua boca abria e fechava algumas vezes, buscando palavras para iniciar um diálogo, mas falhando todas as vezes.
— Eu te vejo aqui com frequência — a voz do garoto cortou o silêncio, suave e inesperada.
San congelou, e seus olhares finalmente se encontraram. Ele engoliu seco ao se sentir tão exposto. Perguntava-se se o garoto havia notado que, além de frequentar o metrô, San passava o trajeto inteiro o observando.
Seu coração batia rápido, quase tão alto quanto o som do metrô passando pelos trilhos. Estava a centímetros de distância do garoto, e a única coisa que passava por sua mente naquele momento era que qualquer passo em falso, uma palavra mal colocada, e ele provavelmente arruinaria tudo.
— Ah... é, eu... venho todos os dias — ele conseguiu responder com um sorriso tímido. Suas bochechas adquiriram uma coloração rosada, e ele sentia seu rosto queimar de vergonha.
O garoto acenou com a cabeça com um sorriso curto. San percebeu como seus lábios se moviam de forma quase hipnótica, precisando desviar o olhar rapidamente antes que parecesse que ele o encarava.
— Eu também — o outro respondeu, voltando a focar em um ponto qualquer.
San engoliu seco, sentindo um misto de alívio e decepção. A conversa havia sido curta, mas, de certa forma, suficiente para um dia atípico como aquele. Eles trocaram olhares e palavras, e, no fim, San sentiu-se um pouco satisfeito.
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O garoto do metrô | Woosan
FanfictionQuando San observava todos os dias um garoto que entrava no mesmo vagão que o seu, que estava sempre inquieto. Contudo, San não ficava até a última parada para saber o que deixava o outro tão ansioso. *Não tenho nenhuma intenção de ofender os mencio...