A floresta do elfo

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Anne sempre foi uma criança curiosa, com o coração selvagem e aventureiro. Cresceu em uma pequena vila cercada por uma floresta densa e misteriosa, um lugar que todos evitavam por medo de antigas lendas. Mas Anne não tinha medo; desde pequena, sentia-se atraída pela natureza, especialmente pela floresta que se estendia como um mundo encantado ao lado de sua casa.

Certa tarde, quando tinha apenas sete anos, Anne, em um de seus passeios solitários, se perdeu no coração da floresta. Desesperada, chorava ao lado de um grande carvalho quando ouviu uma voz suave e melodiosa chamando por ela. Ao levantar os olhos, viu um menino com orelhas pontudas e olhos verdes como as folhas da primavera. Ele era diferente de qualquer pessoa que Anne já tinha visto, mas havia algo em seu sorriso gentil que a fez se sentir segura.

O garoto se apresentou como Lysander, um elfo da floresta. Ele a acalmou, prometendo ajudá-la a voltar para casa. A partir daquele dia, Anne e Lysander se tornaram inseparáveis. Sempre que Anne se aventurava na floresta, Lysander aparecia, e juntos, exploravam os segredos daquele mundo mágico. Eles cresceram lado a lado, compartilhando risos, histórias e sonhos.

Com o passar dos anos, Anne começou a sentir algo diferente quando olhava para Lysander. Seus sentimentos por ele deixaram de ser apenas amizade. Seu coração acelerava quando ele estava por perto, e um desejo profundo de estar sempre ao seu lado a consumia. Mas esse amor também a fazia se sentir culpada. Lysander era seu melhor amigo, e ela temia estragar a amizade que tanto valorizava. Assim, ela tomou uma decisão difícil: afastar-se.

Anne parou de visitar a floresta. Ela se forçou a ignorar a saudade e a dor que sentia ao ficar longe de Lysander. Mas Lysander, percebendo que algo estava errado, não podia deixá-la partir tão facilmente. Ele sentia que estava perdendo sua amiga, e isso o dilacerava por dentro.

Numa tarde chuvosa, quando Anne se aventurou pela floresta mais uma vez, tentando escapar de seus próprios pensamentos, o destino interveio. A chuva caía pesada, e os trovões ecoavam entre as árvores quando Lysander a encontrou, molhada e com o rosto marcado por lágrimas. Ele a agarrou pelos ombros, os olhos ardendo de preocupação e amor.

“Por que você está fugindo de mim?” ele perguntou, sua voz quebrada pela dor.

Anne tentou se desvencilhar, mas não conseguiu. Suas emoções, reprimidas por tanto tempo, finalmente vieram à tona. “Eu... eu não posso mais esconder o que sinto. Não é justo com você. Eu te amo, Lysander, mas... mas isso não pode acontecer. Somos de mundos diferentes.”

Lysander a olhou em silêncio por um momento, e então, sem dizer mais nada, ele a puxou para si e a beijou com a intensidade de anos de sentimentos guardados. A tempestade ao redor parecia desaparecer, e naquele momento, o mundo inteiro se resumia apenas a eles dois.

Depois de se entregarem ao amor que sempre existiu entre eles, Anne sabia que não poderia mais negar o que sentia. “Eu quero que você venha comigo, que conheça o meu mundo,” ela disse, esperançosa.

Lysander a olhou com tristeza. “Eu não posso sair desta floresta, Anne. Estou preso a ela, parte de sua magia. Se eu tentar sair, eu desapareço. Este é o meu destino.”

O coração de Anne se partiu ao ouvir essas palavras, mas ao invés de desistir, ela tomou sua decisão. “Então, eu vou ficar aqui. Vamos construir nossa casa na floresta. Este será o nosso lar.”

E assim, Anne abandonou sua antiga vida. Com a ajuda de Lysander, eles construíram uma casa aconchegante em meio às árvores. O amor que compartilhavam floresceu na tranquilidade daquele lugar mágico, longe do resto do mundo. Meses depois, Anne deu à luz seu primeiro filho, um menino com os mesmos olhos verdes brilhantes e as orelhas pontudas do pai.

O tempo passou, e Anne e Lysander viviam em paz. Seu amor prosperava entre as árvores antigas, e seu filho, assim como Lysander, nunca poderia sair da floresta. Contudo, havia um detalhe que ninguém fora da floresta sabia: para os olhos comuns, nem Lysander nem seu filho existiam. As pessoas da vila, ao visitarem a borda da floresta, viam apenas Anne, sozinha, conversando com o vento e sorrindo para o vazio. Logo, começaram a chamá-la de "Anne, a Louca".

Histórias sombrias começaram a circular pela vila. Diziam que a floresta era assombrada, que quem entrasse nela acabaria como Anne, perdida para sempre em sua própria mente. As crianças eram avisadas para nunca se aventurarem para além das árvores, e logo a floresta foi evitada por todos.

Mas Anne não se importava. Ela sabia a verdade. Ela tinha Lysander e seu filho, e juntos, formavam uma família. A magia da floresta os protegia e os mantinha unidos, e isso era o que realmente importava.

O mundo fora da floresta continuava a girar, mas dentro daquele refúgio verde, Anne e Lysander viviam uma vida de amor e harmonia. Eles sabiam que, aos olhos dos outros, ela poderia parecer uma louca, mas para ela, a única loucura seria viver sem seu verdadeiro amor.

A floresta que todos temiam, para Anne, era o lugar mais seguro e mais feliz que ela poderia imaginar. Era ali, entre as árvores que sussurravam segredos antigos e os ventos que carregavam canções esquecidas, que ela encontrou seu verdadeiro lar, sua verdadeira família.

E, no final, enquanto a vila se distanciava cada vez mais da floresta, Anne vivia seu amor eterno com Lysander, sabendo que, para aqueles que acreditam no poder do amor, nenhum sacrifício é grande demais.

E isso, afinal, era tudo o que importava.

O amor além da floresta Onde histórias criam vida. Descubra agora