0.0 Prólogo

21 4 4
                                    

Bull

Eu podia ouvi-los cochichar, exatamente como no dia em que Varys me trouxe para a loja de Mott. A diferença é que não sou mais uma criança assustada. Mesmo assim, ainda não entendo o que dizem.

- Achou mesmo que eu não saberia da presença do lobo aqui? - A voz de Varys mantém aquele tom irritantemente aveludado, sempre sussurrando segredos com uma falsa serenidade. - E veja só o que aconteceu, agora ele está morto! Os dois estão mortos!

Um lobo morto. Há, sim. O homem do Norte que esteve aqui algum tempo atrás tinha bordado no peito um brasão de lobo. O que ele queria mesmo aqui? Acho que algo sobre mim.

- Ele simplesmente apareceu aqui perguntando sobre o garoto. - Mott bufa. - Analisou ele da cabeça aos pés. Você foi ingênuo em imaginar que conseguiria esconder a imagem escarrada e esculpida do porco.

Porco? Quem é esse Porco? Minha mãe era uma prostituta de Mindinho, disse que era tão requisitada que ninguém conseguiria saber quem era meu pai nem que a própria Velha iluminasse o caminho. Sempre quis bater nele quando dizia isso. Eu sei o que minha mãe era, mas não é assim que me lembro dela. Minhas lembranças são banhadas de cabelos dourados, olhos verdes brilhantes e uma voz que fazia até os pássaros ficarem em silêncio para ouvi- la cantar.

- Ingênuo? - Varys solta uma risada aveludada. - Tudo tem um porquê querido ferreiro. Até mesmo o motivo de você tê-lo criado. Veja só, o garoto só tem 15 anos e poderia derrubar Red Keep com um martelo.

- Cale a porra da boca. - Mott diz entre os dentes, obviamente irritado. - O que faremos agora? Se o bastardo loiro souber da existência de Bull....

- Aquele garoto é um idiota. O verdadeiro problema é a Leoa. - Sinto os olhos vindo em minha direção, fecho os meus e finjo estar dormindo. - Haverá uma matança, bebês serão jogados no mar e o sangue de crianças será espalhado pelas ruas de Fleam Bottom, escorrendo pelas canelas com os dejetos.

- Pelo menos teremos um cheiro diferente além de bosta e urina. - Mott torce o nariz. - Escute, não sou um homem sentimental, mas se o sangue do garoto irá escorrer pelo meu chão, prefiro que o tire daqui.

- O sangue do garoto continuará em suas veias. - Varys sorriu suavemente e tirou uma bolsa de veludo vermelha da túnica. Tilintando com moedas douradas dentro. - Obrigado pelos seus serviços, amanhã os corvos partiram levando homens para o Norte, basta entregar o garoto e dizer que os ventos sussurrantes o enviaram.

- Então, o garoto irá para o Norte como um corvo. - Mott cospe no chão. - Espero, Mestre dos Sussurros, que seus planos dêem certo.

- Ora, Mott. - Varys vira em direção a saída. - Achei que não era sentimental.

- Ele é um bom garoto, Varys.

- Por isso terá uma coroa de ouro ao invés de ferro e fuligem. - Varys dá uma última olhada em minha direção. - Quando estiver habilidoso para empunhar um martelo e coragem para martelar mais que bigornas.

"Leões", "Porcos", "Corvos", "Martelos" e "Coroas". São muitas palavras para um simples bastardo que nunca aprendeu nada além de fundir metal. Meus olhos pesados se fecham, ignorando o significado de uma conversa com tantos códigos e segredos. A única certeza é que o homem que me criou me vendeu a Patrulha da Noites por moedas de ouro e que a partir de amanhã toda minha vida irá mudar.

OUR GAMEOnde histórias criam vida. Descubra agora