eight; Coraline

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Certa vez, minha mãe me disse que o dinheiro honesto era melhor do que o dinheiro sujo

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Certa vez, minha mãe me disse que o dinheiro honesto era melhor do que o dinheiro sujo. Naquele momento, eu não entendia bem o que ela queria dizer. Mas à medida que as contas médicas começaram a chegar em nossa casa e a saúde dela se deteriorava cada vez mais, mesmo com o câncer consumindo seus órgãos, o conceito de dinheiro honesto parecia uma cruel ironia. Era como se essa "honestidade" estivesse nos condenando a uma morte lenta e agonizante.

Minha mãe era uma mulher boa, e tinha princípios inabaláveis, e não pagar as contas nunca foi uma opção, mesmo que isso custasse toda a sua energia e os poucos momentos de felicidade que restavam para ela. Quando ela começou a se desfazer na cama do hospital, eu me vi forçada a buscar formas de sobreviver nas ruas. A verdade é que a honra era a última coisa que nos restava, e agora, quase cinco meses após a sua morte, eu não tinha mais um pingo de honra. O que eu tinha era apenas meu nome e a roupa do corpo quando entrei em um bordel luxuoso.

As vozes masculinas que vinham de um salão afastado, acompanhadas de gargalhadas e gritos animados, sobressaíram com a música lenta e sensual que preenchia o ambiente. Eu tremia como nunca, sabia de que era apenas uma questão de tempo até a porta que me separava daqueles homens ricos e pervertidos se abrir. Na pequena sala de espelhos, sentia os olhares sobre meu corpo coberto por roupas surradas.

O formigamento desconfortável começou a subir dos meus pés, calçados com um par de all-star desbotados e sujos, até minhas pernas. Eu tentava me esconder involuntariamente dentro de um moletom com pequenos rasgos e três vezes maior que meu tamanho; ao menos a calça era nova, um presente de Noah, mas isso era apenas um detalhe que facilmente se perderia na bagunça em que eu estava.

A cafetina, que me foi apresentada poucos minutos antes, olhava para um bloco de folhas e depois para mim. Três minutos se passaram enquanto ela checava os dados, e o silêncio foi quebrado por sua voz rouca e ríspida.

— Tem alguma doença sexualmente transmissível?

Neguei com a cabeça, fitando a ponta dos meus tênis, parecia mais fácil olhar para o chão do que encarar o rosto daquelas mulheres.

— Ela é virgem, senhora! — murmurou Noah, sentada ao lado da cafetina.

Esse parecia ser um detalhe cobiçado aqui.

A cafetina se levantou e, após dois ou três passos, parou à minha frente. Seus olhos azuis falsos me encaravam com seriedade, uma mistura de desprezo e curiosidade estampada em seu rosto marcado pelo tempo. Ela deveria estar na casa dos quarenta, mas o cigarro que fumava ao me ver entrar poderia explicar seu semblante cansado.

— Como posso saber se ela não se deitou com nenhum mendigo enquanto perambulava pelas sarjetas da cidade?

Recuei um passo. Noah engasgou, lembrando-se do que me disse, sobre o ambiente ser rude e hostil, mas que ela estaria ao meu lado para me apoiar.

Poderia estar suja, e Noah pensou em uma boa tentativa de disfarçar isso, utilizando quase meio frasco de um perfume importado em mim. Eu admitiria que isso apenas piorou a situação, mas sua intenção era boa, e ela foi gentil comigo quando eu não tinha muito a oferecer além de um grande nada.

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