Nove

29 6 4
                                    

Era mais uma noite de reflexão em seu quarto.

Katsuki decidiu voltar para casa logo após se despedir de Uraraka, assim que chegaram a Masutafu. As coisas haviam tomado um rumo estranho, e ele não sabia como reagir ou como continuar agindo perto dela. Nos primeiros minutos após ela segurar sua mão, e logo depois entrelaçar os dedos nos seus, Katsuki sentiu uma felicidade imensa. O sentimento o percorreu como uma onda de calor, e ele pôde sentir cada célula do seu corpo reagindo ao toque dela. Era como se sua temperatura aumentasse a cada segundo, com o coração acelerando e uma euforia se espalhando por todo o seu ser. Ele se imaginou como Ícaro, não no momento em que caía, mas enquanto ainda subia, sentindo o calor do sol em seu rosto.

Ele sabia que estava se aproximando de algo que não compreendia completamente, e, após alguns minutos de felicidade, seus pensamentos o levaram a um lugar sombrio. Não queria soltar a mão dela, e o que mais o deixava à beira de um colapso era a certeza de que Uraraka sentia o mesmo. Todo o calor acolhedor evaporou, transformando-se rapidamente em uma tempestade cinzenta e desconcertante, como se a mudança tivesse ocorrido num piscar de olhos.

Seus pensamentos estavam um verdadeiro caos. Eles haviam passado toda a viagem no Shinkansen de mãos dadas. Quando o trem anunciou sua chegada, Katsuki, sem saber como lidar com o que viria a seguir, soltou a mão de Uraraka apressadamente, agradeceu pelo dia e pela bota, e saiu o mais rápido que pôde de perto dela. Agora, de volta ao seu quarto, trancado no conforto de casa, ele se sentia um completo idiota por ter agido daquela maneira.

A batalha interna que travava era intensa. Cada vez que pensava no assunto, uma nova camada de conflito surgia: ele não devia pensar nela daquele jeito, não devia ter ficado tão feliz com o tempo que passaram juntos, não devia ter segurado sua mão, e, definitivamente, não devia ter saído daquela forma, especialmente depois do esforço que ela fez para que ele conhecesse Yuuto. O mais perturbador de tudo era a certeza de que ele não deveria aceitar a campanha por sua causa.

Uma pontada de raiva cobria esses pensamentos sempre que se lembrava da cobrança dela sobre sua suposta dívida pela bota, mas logo isso se dissolvia com outra lembrança: a de Uraraka afirmando que ele podia fazer qualquer coisa muito bem.

"Maldita garota", ele pensou.

Arrancando suas roupas com certa pressa, ele decidiu correr para se livrar do acúmulo mental que parecia prestes a explodir dentro de sua cabeça. Vestiu as roupas de ginástica que havia deixado penduradas no banheiro desde a última vez que se exercitara e, sem hesitar, desceu para a academia. O silêncio da casa estava ao seu favor, já que seus pais ainda não haviam voltado de onde quer que estivessem. Isso lhe dava a liberdade necessária para se concentrar inteiramente no que queria: entrar naquele estado de puro esgotamento físico, onde sua mente finalmente se calaria.

O estresse parecia pulsar em seus nervos, e as pontas de seus dedos formigavam levemente.

Katsuki começou a correr, mantendo um ritmo acelerado, como se cada passada fosse uma tentativa de escapar dos pensamentos que o consumiam. O som de seus pés batendo contra a esteira ecoava na academia, enquanto o suor começava a escorrer pela testa e pescoço, formando pequenas gotas que logo se espalharam por todo o seu corpo.

Ele não parou, forçando seus músculos a acompanharem o ritmo frenético que havia imposto a si mesmo. Sentiu suas pernas começarem a queimar, mas ignorou a dor, acelerando ainda mais. Por quase 45 minutos, manteve-se nessa corrida insana. O esforço físico era o único jeito de silenciar a confusão que tomava conta de sua mente.

Quando finalmente se sentiu satisfeito com o esforço, Katsuki parou. Respirou fundo várias vezes, permitindo que a sensação de alívio se espalhasse. A calma que vinha com o aumento dos níveis de dopamina era reconfortante. Seu cérebro, antes sobrecarregado, agora parecia mais leve, como se os pensamentos que o atormentavam tivessem ficado para trás na esteira.

Ele ficou ali por mais alguns minutos, apenas respirando e sentindo o ritmo de sua respiração se normalizar. A paz momentânea era um alívio bem-vindo, e tudo ficou ainda melhor quando ele entrou no chuveiro, finalizando seu ritual de escape.

Novamente em seu quarto, ele olhou para a sacola de papel pardo que havia ganhado, seu presente exclusivo.

Com um longo suspiro, Katsuki se viu revivendo todos os acontecimentos do dia, e a imagem de Uraraka se refletiu em sua mente diversas vezes, como várias capturas de tela tiradas no celular. Quem ele queria enganar? O que realmente o assustava era que ele gostava dela.

Katsuki estava completamente apaixonado por ela.

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: 7 days ago ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

As Malditas Botas Onde histórias criam vida. Descubra agora