Vivendo, mas não intensamente

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Eu tenho um problema. Na verdade, tenho vários problemas... Mas um deles é não saber quem eu sou.
Claro, eu sei quem eu sou. Tenho 14 anos, gosto de ler, gosto de brincar, gosto de imaginar.
Mas eu não sei quem eu sou de verdade, isso deve fazer parte da adolescência, com certeza.

Bom, a Sol (minha professora de língua portuguesa), é parecida comigo, eu já havia falado. Ela gosta de ler, até porque ela é mestre em português, ela também gosta das coisas mais simples possíveis, como uma borboleta voando.
Isso faz com que eu me identifique com ela, mas mesmo que nós sejamos parecidas, eu sou diferente dela.

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Isso já é um começo. Encontrei alguém que eu possa me espelhar como pessoa. É importante encontrar alguém que possa ser seu exemplo de pessoa, isso ajuda você a se encontrar e se entender e também te ajudar no futuro.
Ter alguém sábio ao seu lado te dando conselhos e ensinando faz você repensar sobre a vida.
A Sol é isso para mim, um exemplo de pessoa. Por isso admiro tanto ela e me identifico, por esse motivo ela é importante para mim.

É difícil conversar sobre meus problemas, por mais que eu seja uma pessoa sorridente e de bem com a vida, eu também sofro e passo por coisas difíceis. Então quando me acontece algo eu sempre guardo para mim, e nunca falo para ninguém. Sabe por quê? Porque as pessoas estão acostumadas com a imagem que passo que é família perfeita, boas notas, boa aluna, feliz, vida perfeita. Sem contar o medo que sinto todas as vezes que penso em contar para alguém sobre meus problemas. Porque geralmente quando alguém está com problemas sempre recorrem a mim, mas eu... A quem vou recorrer? Será que devo confiar nessa pessoa? Será que eu não estou sendo dramática demais?
Quando algo me acontece, a única coisa que faço é ficar em silêncio e me guardar. Assim nada muda, e também daqui a pouco eu esqueço tudo e vivo normalmente.

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Gatilho, gatilho e mais gatilho.

Fingir que está tudo bem e no final eu me esquecer do que aconteceu é ótimo! Mas depois... Isso tudo volta, tudo volta. Acontece tudo de novo.

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Problemas em casa... Já devem imaginar. Não gosto de falar sobre isso, me faz lembrar de tudo o que aconteceu. Ainda não tive coragem de conversar com a Sol sobre isso, por mais que confie nela, ainda tenho dificuldade de me expressar.
Oportunidade é o que não falta, o que falta é coragem! Passei tanto tempo na minha vida escondendo o meu choro, e agora eu não sei nem dizer se estou bem.
Não sei qual é a situação que me encontro, é boa e ruim. Boa porque independente dos problemas ainda tenho meus amigos, a Sol, e minhas avós que tanto me ajudam sem nem saber. E ruim porque sei que algum dia esses problemas em casa irão acontecer novamente... Eu rezo tanto para que não aconteça, tanto.
E como eu sou a irmã mais velha, sim, eu sou a irmã mais velha. Sinto que é minha responsabilidade proteger meu irmãozinho de todas as coisas ruins que acontecem, seja fora ou dentro de casa. Então quando esses problemas voltam, eu estou ali para o meu irmão, tento fazer de tudo para que ele não perceba o que está acontecendo no momento, mas infelizmente ele já percebeu... Há muito tempo ele já havia percebido o que está acontecendo.

E eu... Ah, eu me viro. A escola é um dos lugares que mais gosto de ir, tirando a casa da vovó que é realmente o melhor lugar do mundo. A escola realmente é um dos meus lugares favoritos, é onde está meus amigos, e onde eu me encontro com a Sol. E também onde eu me distraio e consigo esquecer tudo isso.
Às vezes é difícil carregar esses problemas tudo nas costas, e quando as coisas apertam... Eu desabo.

Infelizmente todos estão ocupados com coisas do trabalho, e no tempo livre estão muito cansados. Eu entendo que não é fácil sustentar duas crianças, mas as crianças precisam mais do que serem sustentadas, crianças precisam de atenção.
E meu irmão tem a mim para se refugiar, claro tem a mamãe. Mas todos nós temos um amigo que confiamos em conversar sobre qualquer coisa. E para o meu irmão eu sou esse amigo.
E para mim... Vocês não perceberam?
Claro, a Sol.
Ela é o amigo que confio para conversar sobre qualquer coisa. Mas como eu já havia falado, tenho dificuldades em me expressar, porque só agora a Sol apareceu, e quando eu passava pelos problemas ela ainda não tinha aparecido.

Acredito que Deus põe as pessoas em nossas vidas na hora certa. Então não acho ruim a Sol ter aparecido só agora. Esses problemas realmente me machucaram, me fizeram chorar a noite e me fizeram ficar exausta. O que eu menos quero é que meu irmão passe pelo mesmo o que passei, quero que ele seja criança no tempo dele, e que ele seja uma criança saudável sem se preocupar tanto com o que vai acontecer amanhã. Quero que ele seja criança enquanto é criança.