A Amante - Mirandy

Capítulo 1

Era uma tarde de outono em Nova York. As folhas tingidas de dourado caíam lentamente sobre o Central Park, misturando-se com a pressa dos transeuntes e o ritmo frenético da cidade. Andrea Sachs estava sentada em um banco, um bloco de esboços no colo e os olhos focados nas árvores à sua frente. A jovem artista gostava de capturar aquele momento efêmero - o equilíbrio entre a vivacidade da cidade e a tranquilidade do parque.

Ela desenhava quase sem pensar, imersa em seu mundo, até que uma presença a tirou de seu transe. Não foi um som ou uma palavra, mas a simples percepção de algo diferente ao seu redor. Instintivamente, ela levantou os olhos, e foi então que a viu.

Miranda Priestly.

A mulher estava a poucos metros de distância, de pé, com o celular em mãos e o olhar varrendo o ambiente. Era uma figura elegante, intocável em seu sobretudo de corte perfeito. Tudo nela exalava poder e controle, e ainda assim, naquele momento, Miranda parecia alheia ao caos da cidade ao seu redor. Por um breve instante, Andrea ficou hipnotizada.

Miranda levantou o olhar e seus olhos se encontraram.

Houve um silêncio absoluto no mundo de Andrea. O tempo pareceu parar, como se a própria cidade tivesse prendido a respiração. Miranda a observava com um olhar indecifrável, a sobrancelha sutilmente arqueada, talvez intrigada com a jovem que a encarava sem hesitação. Andrea não sabia o que pensar, apenas que aqueles olhos de aço penetravam profundamente nela, como se estivessem sondando cada pensamento.

Miranda inclinou a cabeça levemente, sem deixar de olhá-la. Seus lábios se moveram, formando palavras diretas, quase cortantes.

- Você pretende me desenhar, ou já terminou de me estudar? - Sua voz era baixa, afiada, mas carregava uma dose inesperada de curiosidade. Era o tipo de tom que fazia muitos recuarem, mas não Andrea.

Andy sentiu seu coração disparar, mas controlou o impulso de gaguejar. Em vez disso, sorriu de lado, mantendo a leveza em sua voz, apesar do impacto que sentia por dentro.

- Depende - ela respondeu, sem desviar o olhar. - O que você gostaria de ver no esboço?

Miranda não respondeu de imediato. Uma sombra de surpresa passou por seu rosto, quase imperceptível para quem não estivesse prestando atenção. A maioria teria se acovardado ou ficado nervosa diante dela, mas não essa jovem. Miranda fechou o celular com um movimento firme e deu um passo em sua direção, os olhos nunca abandonando os de Andrea.

- Não costumo me interessar pelo que outros veem de mim - disse Miranda, fria, porém cautelosamente intrigada. - Mas admito que você é, no mínimo, audaciosa.

Andrea riu suavemente, sentindo o peso daquele elogio, ainda que disfarçado.

- Eu sempre preferi pensar que audácia é um sinal de criatividade - respondeu, ainda com o sorriso no rosto, mas agora com um brilho nos olhos.

Miranda ficou em silêncio por um momento, como se a estivesse avaliando com mais profundidade. A tensão no ar parecia crescer, mas então ela deu um pequeno sorriso - um sorriso que não alcançou seus olhos.

- Andrea Sachs - ela pronunciou o nome com precisão, sua voz quase carregada de uma satisfação velada. - Pensei que reconhecesse você de algum lugar.

Andrea congelou, a surpresa evidente em seu rosto. Como ela sabia seu nome? Não tinha se apresentado, e certamente não era alguém conhecido no círculo de Miranda. Mas Miranda, sendo quem era, sempre parecia saber mais do que deixava transparecer.

- Eu... não sabia que era tão reconhecível assim - Andy brincou, disfarçando a súbita inquietação, tentando manter o tom leve, apesar de sentir o peso daquela revelação.

- Digamos que é meu trabalho saber - respondeu Miranda, com um ar de mistério. - Especialmente sobre aqueles que têm ambição.

Com essa última frase, Miranda se afastou, caminhando para fora do parque com a mesma elegância controlada de antes, como se o encontro tivesse sido apenas mais um detalhe de sua agenda implacável.

Andrea ficou observando-a até que ela desaparecesse entre as pessoas, ainda sentindo o impacto daquele breve, mas intenso, encontro. O coração batia acelerado, e uma coisa era clara: Miranda Priestly a notara, mesmo que apenas por um instante.

E aquele seria apenas o começo.