Capítulo sete

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Alumbramento: momento em que a escuridão dá lugar à clareza, quando aquilo que estava escondido surge diante de nós.

Jay.

Eu deveria ser um idiota. Luna achou mesmo que eu não iria notar que ela estava ali? O problema com ela é que, por mais que tente se esconder, sempre deixa um rastro. Pequenos detalhes que só alguém como eu perceberia. Agora, ela estava se divertindo, fingindo ser uma policial, uma ratinha tentando levar um pedaço de queijo para a toca. Um pedaço bem maior que ela.

Quando Brendan me ligou ele estava em Gary, me disse que Melissa havia ligado para ele, com medo. Ela mencionou que estava sendo perseguida. Naquele instante, eu fui atrás dela, mas mesmo se eu tivesse passado por cima de todos os carros, teria sido impossível encontrar a garota viva.

Não havia ninguém na rua, apenas o corpo de Melissa, com o olhar aterrorizado, como se a morte tivesse se materializado nela. Liguei para a polícia e fiquei no local, esperando a primeira viatura chegar. Eu devia isso ao Brendan. Mas quando finalmente a vi, tudo fez sentido. Luna surgiu, caminhando ao lado de um dos policiais, com uma naturalidade que me encheu de raiva. Eu deveria ter acabado com ela desde a primeira vez que nos encontramos.

Mas, confesso, essa brincadeira de gato e rato estava começando a me divertir. Luna ficou ao lado do corpo de Melissa o tempo todo, como se precisasse fazer isso. Então quando finalmente me viu, o seu olhar foi o suficiente para mim. Ela não aguentaria isso por muito tempo. E eu pretendia transformar sua vida em um verdadeiro purgatório, porque o poder era o meu maior prazer.

Assim que coloquei a gata de volta no caminhão, um vulto desaparecendo pela rua me fez ter certeza de que eu não estava ficando maluco. Já tinha sentido o seu cheiro adocicado, era impossível não reconhecer. Sem falar que a carroceria do caminhão estava aberta, e eu tinha certeza de que quando entramos com as caixas, ela estava fechada. Eu ia deixar que Luna se enforcasse sozinha, com toda a corda que eu dei. No fim, só ela seria culpada pela própria ruína.

Deixar Brendan sozinho naquela não deveria ser uma opção, mas eu não tinha outra alternativa. Na verdade, eu não queria ter. Segui a policial e, pelo caminho, algumas balas de arma caídas no chão formavam um rastro. Peguei uma por uma e guardei todas. Sem pressa, esperei ela entrar no carro e ligar o motor. Seria uma injustiça não dar alguns minutos de vantagem. Batendo ritmadamente a mão na perna, comecei a cantarolar, quase feliz.

Pela estrada a fora, eu vou bem sozinha

Levar esses doces para a vovozinha.

Ela mora longe, o caminho é deserto,

E o lobo mau passeia aqui por perto.

Com o farol desligado, segui Holly —ou melhor, Luna — até o Lincoln Park. A princesa morava em um dos bairros mais caros da cidade, quem diria. Isso pode até justificar o motivo de nos encontrarmos aqui perto, mas não explica o que ela estava fazendo naquela noite, me seguindo. As intenções dela estavam longe de ser claras. Um fudido como eu nunca pisaria num lugar como esse, mas hoje eu tinha passe livre, graças à minha nova diversão preferida que me trouxe até aqui.

Esperei a garota entrar em casa antes de me aproximar do carro. Parei em frente à porta do motorista e fechei o punho. Com um golpe rápido, acertei o primeiro soco na janela, deixando o vidro completamente opaco. Olhei ao redor em busca de algum movimento, mas nada. Então cerrei o punho novamente e estilhaçei o vidro de vez. Enfiei o braço pela janela e alcancei a alavanca de liberação do capô ouvindo um clique logo em seguida.

Caminhei até o capô e o ergui, alcançando um isqueiro em meu bolso. Todo mundo tem a capacidade de se tornar um vilão. As vezes, a linha entre o heroi e o vilão é mais tênue do que se imagina. Enquanto alguns se rendem à escuridão, outros lutam contra ela, tentando fazer o que é certo. Eu, por outro lado, lutava com pessoas, na forma mais literal possível. Esse era eu.

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