Capítulo cinco

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O vento fresco da noite batia no meu rosto enquanto eu me encostava no muro, observando o vai e vem de pessoas no galpão. Os gravadores, discretamente presos na minha roupa, me lembravam que essa missão era diferente. Hoje, eu estava oficialmente a serviço da polícia de Chicago. Duas semanas depois da minha primeira entrada desastrosa nesse lugar, tudo o que eu fazia agora era monitorado de perto.

O disfarce? Talvez menos elaborado do que o anterior, mas suficiente. Cabelo preso em um rabo de cavalo, lentes de contato escuras, calça jeans e uma jaqueta de couro desgastada. Nesta operação, tudo estava calculado, desde o visual até a forma como me indicaram. Ninguém entra aqui sem ser recomendado por alguém de dentro.

O submundo de Chicago não abre suas portas facilmente.

Do meu lado, estava o prêmio da noite. Uma jovem com vestido vermelho justo e maquiagem carregada, que aparentava ter a minha idade. Ela mantinha uma expressão entediada, e parecia acostumada com o ambiente.

— Você não vai entrar? Acho que estou um pouco perdida, é a minha primeira vez aqui.

Ela ergueu uma sobrancelha, me estudando por um instante antes de soltar uma risada curta e cansada.

— Eu fico por aqui mesmo, esse é o meu lugar.

Fiz uma expressão confusa, como se não entendesse, o que pareceu despertar algo de simpatia nela.

— Sou o prêmio da noite.

— Prêmio? — forcei um sorriso, como se não estivesse entendendo completamente.

— Isso mesmo, o vencedor de hoje me "ganha" — ela deu de ombros, sem emoção.

— Então, vai ser uma noite agitada, hein? — eu disse, puxando conversa. Precisava parecer curiosa, mas desinteressada, o que era mais difícil do que parecia. — Como funciona? O vencedor só... te leva?

Ela deu uma risada curta, sem humor, acendendo um cigarro.

— Não é bem assim. Eles dizem que somos um prêmio, mas não somos um troféu de verdade, sabe? Estamos aqui para agradar, mas tem quem jogue diferente... — ela soltou a fumaça devagar, como se já estivesse acostumada com a dinâmica. — Alguns só querem intimidar, outros... nem chegam a me tocar. Depende do cara que vence.

Inclinei a cabeça, mostrando interesse.

— E esses caras... você conhece alguns deles?

Ela me olhou de canto, avaliando minha pergunta, talvez tentando decidir se podia confiar em mim.

— Conheço alguns, sim. Tem os lutadores regulares, aqueles que você vê toda semana. Mas os caras que realmente mandam aqui... eles não se misturam — ela deu uma tragada longa, depois me encarou. — Você já ouviu falar do Jay?

— Já ouvi falar — respondi, tentando parecer casual. — Ele é bem famoso por aqui, né?

Ela hesitou, olhando em volta antes de se inclinar um pouco mais perto.

— Dizem que ele tem uma relação especial com os donos. Ele não faz parte só das lutas... está envolvido em outras coisas também. Coisas grandes, perigosas — ela abaixou a voz, quase sussurrando. — Ouvi dizer que ele cuida de alguns problemas deles, se é que me entende. Tipo... apagando gente.

— E você já... conversou com ele?

Ela deu de ombros, mas a tensão em seu rosto entregava o quanto o nome dele a incomodava.

— Não muito. E nem quero. Quando Jay aparece, a gente sabe que é melhor se manter longe. Se ele quer falar com você, ele vem até você. E, quando isso acontece... — ela parou, mordendo o lábio inferior como se quisesse medir as palavras — Bem, você só torce pra sobreviver à conversa.

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