A Chegada em Thornewood

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Chego à pousada Dangerfils; minhas mãos estavam suando. Podia sentir um calafrio se estendendo da ponta dos pés até os fios de cabelo. Entro na pousada o mais rápido possível. Nunca subi escadas tão rápido na vida. Eu estava eufórica. Destranco o quarto e entro. O quarto estava estranho; a energia dele estava estranha. Parecia que alguém havia passado por ali, deixando somente uma energia negativa.
-- Pare com isso, Ray! Você já tem trabalho demais para fazer. -- Falo comigo mesma, soltando um suspiro cansado. Arrumo os materiais de limpeza e começo a minha faxina.

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O tempo passou rápido; mal pude ver as horas passando. Já eram nove e cinquenta da noite, e só era possível escutar os barulhos dos grilos lá fora. Uma névoa se formou diante da pousada, não só aqui, mas na cidade inteira. Agora eu entendo o porquê de o senhor Flanger ter falado que, depois das oito, é perigoso. Não é possível enxergar uma agulha lá embaixo.
Me jogo na cama estreita e rangente, sentindo o meu corpo pesado como se estivesse feito de chumbo. Cada músculo doía após esfregar o chão de madeira áspera e varrer as teias de aranha dos cantos escuros. O ar mofado e a sensação constante de poeira grudada em minha pele só aumentavam o meu cansaço.
O quarto minúsculo parecia se fechar ao meu redor, com as paredes de madeira antigas exalando um cheiro rançoso. Enquanto olhava para o teto manchado e sentia os olhos se fecharem, um suspiro longo escapou de meus lábios. Tudo o que eu queria agora era descansar, mesmo que esse lugar sombrio e apertado, onde o silêncio só era interrompido pelo som distante e inquietante do vento passando pelas frestas.
Juntei todas as minhas forças e me levantei da cama, sentindo os meus ossos doerem por causa da cama rígida.
Vou até a janela e observo o que pode ser visto do bairro da pousada. Em frente à pousada, há um prédio; não sei para o que serve, mas não é grande. A neblina dominou o terraço do prédio, deixando à mostra somente os exaustores. Um corpo vem caminhando em meio à neblina, exibindo a máscara do Ghostface. Era macabro; em sua mão, havia uma faca, e era possível ver o quão afiada estava só pelo brilho.
Senti meu coração acelerar, minhas mãos começaram a tremer e um calafrio percorreu minha espinha. Meus olhos se arregalaram quando percebi que a faca que o homem segurava estava ensanguentada. O homem, parado a poucos metros de distância, com o olhar fixo em mim, levantou uma placa. Nela estava escrito: "Cuidado por onde olha, pois nem tudo que seus olhos encontram deseja ser visto."
Tento desviar o olhar, mas era como se meus pés estivessem presos ao chão. O silêncio ao redor parecia ensurdecedor, e o ar ficou mais pesado. Minha respiração ficou ofegante, e um nó se formou em minha garganta. Eu só queria gritar, correr, mas o medo parecia ter roubado o restinho de força que havia em mim. O olhar do estranho penetrava fundo, como se ele pudesse ver meus piores medos, e isso me deixou paralisada, sem conseguir mover um dedo sequer.
Junto toda a minha coragem e abro a janela. A brisa forte bateu no meu rosto, fazendo um desconforto se formar na minha barriga.
-- Ei, você, vá embora! Agora! -- Grito, tentando fazê-lo ter medo ou intimidá-lo.
-- Ei! Estou falando com você, esquisito. -- Grito mais alto dessa vez, deixando um ar de desprezo em cada palavra que sai.
-- Quer saber? Vá se foder! Eu não sei quem você é e nem me importo. Eu só sei que, desde que cheguei nessa maldita cidade, você vem me atormentando. E quer saber mais? Se está tentando me assustar, pode ir tirando o seu cavalinho da chuva! Porque você não conseguiu nem me fazer sentir um arrepio sequer. Eu não tenho medo de você, esquisito. -- Digo, levantando as minhas duas mãos e mostrando um dedo do meio para ele. Logo em seguida, fecho a janela e empurro com força a cortina.
-- Merda, merda, merda! Que caralhos eu tenho na cabeça!
-- Desafiar e provocar um doente que eu nem sei quem é.
-- Ele não está para brincadeira; aquele sangue na faca não era de mentira...
Tranco a porta do quarto e coloco o armário na frente dela.
-- Se ele tentar entrar aqui, pelo menos isso pode me ajudar a acordar.
Não era como um filme americano. Eu literalmente posso estar lidando com um psicopata. E, em vez de denunciá-lo e ligar para a polícia, eu estou aqui, provocando-o e mostrando o dedo do meio.
Eu sou muito tola mesmo.
Caminho até a cama de madeira e me deito. A cama era tão dura que parecia ter sido talhada por mãos ásperas e impiedosas. Suas tábuas rangiam sob o peso do meu corpo. O colchão não era tão grosso, mas deixava exposta a rigidez fria da madeira, que pressionava contra o meu corpo como dedos ossudos.
Eu podia acreditar que havia algo inquietante naquela cama, como se cada rangido fosse um sussurro antigo, uma promessa de pesadelos que não terminariam ao amanhecer.
Meu coração apertava enquanto a coberta fina me cobria. Posso sentir que algo ruim está por vir. Não sei se tem a ver com o psicopata mascarado ou com a minha chegada a Thornewood. Não vou mentir, estou imersa em um pavor absoluto, como se as sombras que cobriam a cidade dançassem à minha volta, esperando o momento certo para me levar.
Uma sensação opressiva se instala em meu peito, como se uma neblina gélida estivesse se arrastando lentamente em direção a mim, anunciando a chegada de uma presença sinistra. Sinto que a morte espreita nas sombras, seus dedos frios acariciando minha alma, sussurrando promessas de eternidade em um tom sombriamente suave. A cada batida do meu coração, a certeza de que seu toque implacável está cada vez mais próximo se torna mais inescapável, como um relógio que marca os segundos finais da vida.

Sombras de Desejo - Eduarda Araujo Onde histórias criam vida. Descubra agora