Capítulo 10.

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Agnes.

Me encolhi na cadeira, tentando o máximo me esconder debaixo da mesa. Eu realmente retiro tudo o que eu disse sobre os homens que me encaravam. Desde quando pus meus pés no que seria um refeitório, o breve momento que segui em meio a um corredor e quando me sentei na mesa principal. Durante esse breve tempo eu percebi.

Percebi a inquietude, hostilidade e a cautela que cada um sentia. Mesmo Kyro, com o seu jeito encantador de serpentes, fazendo seu breve discurso de como iria ganhar esse grande desafio, eu conseguia sentir a tensão. Não era por si só as escolhas do líder que se mostrava imprudente para seus súditos, mas sim por minha presença.

Fiquei constrangida, o medo me abalava e o desconhecido estava sendo um enorme incômodo. Todos aqueles dez homens que estavam à minha frente eram realmente assassinos, as características, nas quais eu reconheceria sem dificuldade, estavam em cada um: olhares cortantes e analíticos, a guarda sempre levantada e o rosto impassível.

Eu estava sentada na ponta esquerda da mesa ampla de madeira, ao lado de Theodore. Isso me acalmava minimamente, seria melhor ficar ao lado de um bobo do que de um leão. Com a maior coragem que consegui reunir me sentei, ajeitando a postura. Vagamente me lembrei da recomendação presunçosa de Kyro. Seja ousada e audaciosa. E eu iria seguir isso. Ergui meu queixo, imitando os nobres que eu já vi, infiel o pulmão e cerrei os olhos.

Depois que o moreno parou de falar, se voltou para sentar-se entre o ruivo e o pálido. Após isso, em algum ponto que não percebi inicialmente, algumas garotas traziam com si panelas largas e pratos cheios. Arregalo os olhos, surpresa. Eu já participei de banquetes antigamente, porém nenhum era de tanta fartura e para tão poucas pessoas.

As garotas, que pareciam ter orelhas tão pontudas, começaram a servir do final para onde estava. Achei incomum, normalmente serviam os duques e nobres primeiro, mas não me importei. Enquanto elas entregavam pratos lotados de carne e batata, os homens conversavam entre si. Não sabia exatamente o assunto, porém alguns grupinhos me encaravam, então acho que sou eu a notícia.

Enfim a nossa vez de sermos servidos. Elas foram mais cuidadosas ao pôr o alimento em cada prato, começaram pela ponta oposta. O cheiro, que já preenchia o lugar, ficou mais denso. Era maravilhoso, parecia um perfume agridoce e a cebola tostada. Uma das garotas, a mais baixa, me encarava enquanto colocava pedaços gordurosos da carne e um molhos vermelho. Ela parecia tão em dúvida quanto qualquer um e, talvez para tentar aliviar, abri um sorriso agradecido.

A mesma não me retribuiu, abaixou os olhos para meu vestido e se virou bruscamente, quase se desequilibrado pelo peso da panela. Meu sorriso murchou e eu apenas encarei o prato à minha frente. A carne brilhava, o molho aguçava meu olfato e consequentemente minha vontade de comer.

Acho eu que a tensão se esvai enquanto todos à minha frente apenas se concentravam em comer e conversar entre si, como se a minha presença fosse apenas uma miragem de um sonho antigo. Eu deveria fazer o mesmo. Certo?

Meu suor frio escorre pelo pescoço, mesmo depois daquele longo banho. Algo em tudo aqui é tão incoerente e é malignamente estupefato. Como se fosse um roteiro mal escrito, cheio de furos. Encaro novamente minha comida, pensando em tantas coisas.

Nos banquetes antigos, em como aquela menina me encarava e, acho, como serão os futuros almoços.

— Se você continuar a encarar a carne de seu almoço assim, temo eu que ela possa até fugir. — Ele fez uma pausa, para que talvez eu possa ter escutado e interpretado ou para continuar dramaticamente. — E olha, o pobre animal já está morto.

Eu tremo, mas o comentário me tira dos devaneios cortantes. Viro meu rosto, percebendo o olhar devendo do ruivo. Como se à nossa frente não tivesse vários homens que estavam doidos para olhar e se perguntarem o que estava acontecendo aqui.

Nunca tenha medo das SombrasOnde histórias criam vida. Descubra agora