Na manhã seguinte, Isa acordou com a luz do sol atravessando as frestas da janela. O som das conversas na rua e o barulho de motores já anunciavam o início de mais um dia na Penha. Mas hoje, diferente dos outros dias, Isa sentia uma inquietação no peito. A ideia de reencontrar Lobo se misturava com a responsabilidade de cuidar da casa e da avó.
Ela se levantou, ainda meio sonolenta, e seguiu a rotina. Depois de arrumar o quarto, foi até a cozinha onde Dona Maria já estava preparando o café.
"Bom dia, vó."
"Bom dia, minha filha. Dormiu bem?" Dona Maria perguntou, servindo café para Isa.
"Mais ou menos. Aconteceram umas coisas ontem, mas tô bem agora."
Dona Maria franziu o cenho, preocupada. "Que tipo de coisa? Aquela operação te deu trabalho, né?"
Isa hesitou, sem querer alarmar a avó com os detalhes. "Sim, só isso mesmo. Os policiais tavam barrando a entrada, mas no fim deu tudo certo."
"Essas operações só trazem confusão," Dona Maria comentou, balançando a cabeça, antes de mudar de assunto. "Mas, e aí, vai pra loja hoje?"
"Vou sim, preciso sair daqui a pouco," Isa respondeu, tomando um gole de café e sentindo o calor do líquido ajudar a clarear seus pensamentos. Porém, antes de sair de casa, decidiu que, de alguma forma, teria que encontrar Lobo. Precisava entender o que estava por trás daquele jeito rude e desinteressado, mas que a fazia se perguntar quem ele realmente era.
Ao fim do expediente na lojinha, Isa caminhava de volta para casa. O sol já começava a baixar, tingindo o céu com um laranja suave. A tensão do dia anterior ainda estava no ar, mas agora, algo dentro dela a impulsionava. Ela sabia onde Lobo costumava aparecer.
Seguiu em direção a um beco próximo a um dos pontos de encontro da galera da área. Sabia que, se ele estivesse por ali, seria com seus comparsas. O que ela não esperava era dar de cara com ele tão rápido.
Quando virou a esquina, lá estava ele, encostado na moto, o olhar distante e a postura relaxada. Ao lado dele, alguns caras riam alto, trocando piadas, mas Lobo parecia alheio a tudo. Até que os olhos dele cruzaram com os dela.
Isa hesitou por um segundo. O que estava fazendo ali? Mas, decidida a não recuar, deu mais alguns passos em sua direção.
"Tá perdida, mina?" a voz de Lobo cortou o ar, fria e direta, mas com um toque de sarcasmo.
"Não tô perdida, não. Tava te procurando," respondeu Isa, firme.
Lobo levantou uma sobrancelha, um sorriso debochado surgindo nos lábios. "Me procurando? Tu sabe quem eu sou, né? Cê não parece doida pra ficar se metendo onde não deve."
Isa cruzou os braços, sem perder a postura. "Eu sei quem você é, Lobo. Mas acho que quem não tá entendendo aqui é você."
Ele a encarou, o sorriso sumindo, enquanto os amigos ao redor ficaram em silêncio, observando a troca de palavras com interesse. "Ah, é? E o que eu não tô entendendo, princesa?"
"Você acha que eu vou abaixar a cabeça pra grosseria só porque você é o dono do pedaço? Tô pouco me lixando pra isso. Ontem você me tirou do sério, mas eu não vou fugir de você."
Lobo deu uma risada baixa, sem emoção, e descruzou os braços, se aproximando lentamente. "Tu é corajosa, hein? Acho que não te disseram, mas aqui eu mando. Não tem essa de 'não vou fugir'. Todo mundo foge de mim. Tu tá brincando com fogo, garota."
"Eu não brinco com fogo, eu controlo ele," Isa retrucou, o coração batendo acelerado, mas o olhar firme.
Por um instante, Lobo pareceu surpreso. Ele a observou mais de perto, como se estivesse tentando decifrar o que fazia aquela menina ser tão diferente das outras. Algo nele se suavizou, mas foi só por um segundo.
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𝐒𝐨𝐛 𝐨 𝐂𝐞́𝐮 𝐝𝐚 𝐏𝐞𝐧𝐡𝐚 ☼︎
FanfictionEm meio às vielas perigosas da Penha, Isa, uma jovem trabalhadora que mora com a avó, se vê envolvida com Lobo, o frio e temido líder do morro. O destino dos dois se cruza de maneira intensa e inesperada, trazendo à tona uma relação cheia de tensão...