Natália correu para o ponto de ônibus segurando as lágrimas em seus olhos. Ventava forte na Cidade das Rosas, uma pequena cidade com um nome piegas que ficava perto do centro do Rio de Janeiro. Uma brisa forte passou e a menina dos olhos azuis tristes juntou mais o casaco azul que usava em seu corpo numa tentativa de se esquentar.
"Dia péssimo, tempo péssimo" ela pensou e deixou uma lágrima cair.
O ônibus que esperava chegou e Natália entrou no transporte. Pagou a passagem e sentou-se no banco próximo à janela na terceira fileira à esquerda. O veículo estava meio vazio. Outra lágrima havia caído e a garota limpou o rosto com as costas da mão direita, mas logo caiu outra, e outra, e outra...
- Com licença moça, mas por que está chorando? - Natália ouviu a voz do seu lado e olhou para a pessoa.
Era um garoto que aparentava ter vinte anos. Seu cabelo era castanho, mas num tom mais escuro que o dela e seus olhos da mesma cor. Usava uma blusa estampada com o emblema do Strokes. Natália amava essa banda.
- Não é nada. - ela respondeu com a voz embargada e virou seu rosto para a janela. Ela não queria divir aqueles sentimentos com ninguém, ainda mais com um desconhecido!
- Olha, eu sei que é estranho você contar isso para uma pessoa que nunca viu na vida, como eu. Mas eu sempre reparo quando você pega o ônibus, sempre sorrindo ou balançando a cabeça ouvindo uma música com os fones - ele disse como se tivesse lido os pensamentos dela - Pegamos o ônibus no mesmo horário às sextas- feiras. Enfim, vi você chorando e fiquei preocupado.
Ela voltou a direcionar para ele e deu um sorriso triste. Não estava com humor para socializar, mas o que custava ser simpática com alguém que se importava com ela no momento?
- Meu nome é Natália e o seu? - ela perguntou como uma criança fazendo amizade. Estava tentando disfarçar o choro em sua voz.
- É Gustavo - ele disse sorrindo e sentou no banco ao lado dela - Sente-se bem em me contar o motivo do choro?
A janela do ônibus estava aberta e o vento batia e balançava o cabelo ondulado de Natália. Ela fechou a janela e prendeu seu cabelo num tavo de cavalo.
- Meu namorado me traiu com a minha melhor amiga e eu vi isso com meus próprios olhos - disse suspirando - Simples e trágico - as lágrimas voltaram vagarosamente.
Gustavo realmente não sabia o que dizer. Mas o silêncio já estava ficavando constrangedor.
- Ela com certeza não é sua amiga - ele falou, observando ela de cabeça baixa.
A menina balançou a cabeça afirmando, ainda fitando o chão do ônibus.
- Mas olha, ele com certeza não te merece. O que ele fez foi imperdoável. Mas tente conversar com ele outro dia sobre isso. Quando estiver com a cabeça "mais fria".
- Eu irei. Obrigada por me aconselhar - ela riu fraco.
- De nada - Gustavo respondeu - Eu vou descer aqui. Até sexta, Natália.
- Até - Natália acenoy e quando o garoto saiu, voltou a olhar a paisagem pela janela.
Apesar do péssimo dia, a nova amizade que Natália acabara de fazer mudou seu humor. Ela sabia que as sextas-feiras no ônibus não seriam as mesmas.
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The Bus
RandomSaber que as pessoas que voce ama sao uns traíras não é o melhor dia para se fazer amizade. Natália pode comprovar o contrário disso, encontrando alguém curioso e desconhecido mas que parece conhecê-la bem.