2- bad boy

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Eliza Hartmann

Poderia passar horas a observar cada aluno, cada ser humano que cruzava meu caminho. Era fascinante pensar que, por trás de cada olhar, havia um universo único, repleto de pensamentos, sonhos e desejos. Minha paixão pelas pessoas, especialmente pelas crianças, sempre me guiou em direções diversas: já sonhei em ser psicóloga, enfermeira, médica, professora... tudo que envolvesse o calor humano. Curiosamente, isso é estranho, já que meu maior problema é me enturmar e interagir com pessoas.

Quando o sinal do início das aulas toca pelo ar, os alunos se aglomeram na entrada. Eu permanecia à sombra de uma árvore, sentada em um banco de madeira. Enquanto esperava a agitação se esvaziar, meus olhos foram atraídos por um garoto do outro lado da gramada. Encostado em uma árvore, ele tinha a perna direita levantada, apoiando-se com a tranquilidade de quem se sente parte do cenário.

Observei cada detalhe seu, seus lábios carnudos e rosados pareciam sussurrar segredos ao vento; seus cabelos eram como um lago sereno em dias sem brisa, negros como a noite e reluzentes como as asas de um corvo. Vestia uma jaqueta preta de couro desgastado e calças jeans largas que dançavam ao ritmo de sua presença. Um colar de correntes adornava seu pescoço, como se carregasse consigo histórias não contadas.

Credo, acho que estou lendo poesia demais.

Ele tinha um olhar desafiador e um sorriso provocante que se direcionou a uma garota que passava, exalando mistério e rebeldia. Era como se cada passo que ele dava fosse um convite ao perigo.

Seus olhos se desviaram da jovem e, de repente, se fixaram em mim.

A mim???

Senti meu rosto aquecer ao desviar o olhar, o rubor subindo pelas bochechas.

Quando levantei o olhar novamente, ele já havia desaparecido.

Consegui vislumbrar sua silhueta se afastando para o interior do colégio, enquanto percebia que não havia mais ninguém por perto e decidi seguir adiante.

No terceiro ano do ensino médio, turma AM, a porta estava entreaberta e apenas alguns alunos ocupavam as mesas.

Logo percebi dois problemas: todos me observavam com olhares tortos e as mesas eram dispostas em duplas.

"Será que minha menstruação desceu e estou toda manchada na frente de todos eles? Ou será meu cabelo?"

Com a respiração trêmula, examinei meu corpo em busca de qualquer sinal de estranheza.

- Pode entrar! A gente não morde novata! - gritou uma loira do fundo da sala, seguida por risadas que ecoaram entre os colegas.

Envergonhada, procurei uma mesa vazia logo à frente. Isso me ajudaria a enxergar mais adiante, já que uso óculos desde os dez anos.

- Epa! Aí não, queridinha! Não está vendo minha bolsa? - A loira levantou-se de sua mesa, empunhando sua bolsa como se fosse um troféu.

- Eu vi, sim, mas são dois lugares... eu não posso... - minhas mãos suavam como folhas de outono sob a chuva.

- Não! Querida. Não pode! - disse ela com um tom firme, sentando-se de volta de forma despojada, bloqueando qualquer espaço vazio.

- Eu preciso de bastante espaço! Não sei dividir nada com ninguém! - A loira falou, levando-se e logo apertando meu queixo com força. Seus olhos brilhavam com uma mistura de desafio e desprezo.

- Me solta! - empurrei seu corpo para longe, fazendo-a tropeçar sem cair.

- Olha só! Não é que ela tem força? Mas deixa eu te avisar uma coisa, novata: as coisas aqui não funcionam como você pensa. - Sua voz era doce a princípio, mas escondia a dureza de palavras rudes.

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