Min Yoongi
O clima na pousada estava tenso e estranho, e eu não podia evitar me sentir culpado pela forma como havia terminado a última conversa com Hoseok. Kitty me olhava feio e não parava de falar sobre como Hoseok merecia uma segunda chance, e eu sabia que ela estava certa, mesmo que meu orgulho me impedisse de admitir.
— Oppa, por favor, deixe o Hoseok voltar. Ele não tinha a intenção de errar o troco. Todos cometem erros — Kitty implorou mais uma vez, seus olhos grandes e cheios de determinação.
— Ele gritou comigo!
— Mas você também gritou com ele. Ambos foram grosseiros e agressivos. — Ela cruzou os braços, levantando as sobrancelhas. — Você não é inocente nessa história!
Suspirei. Não podia demonstrar que ela tinha razão, não iria dar esse gostinho.
— Tudo bem. Se ele aparecer, eu vou falar com ele e talvez vou deixá-lo ficar — respondi, fingindo indiferença.
— Obrigada! Você é o meu irmão favorito. — Ela pulou e me puxou para um abraço, me sufocando.
— Sou o favorito? Mas eu sou seu único irmão! — eu disse, brincando e apertando ela de volta.
— Por isso mesmo. Não existe irmão como você. — Ela deu de ombros e gargalhei.
Ela me soltou e voltou a passar a vassoura no chão. De costas, deixei meus ombros tensos caírem e passei as mãos pelo rosto, um pouco cansado. Não sabia que salvar aquele garoto iria me trazer dor de cabeça, já bastava ter que cuidar de um negócio e agora eu teria que pensar em alguém que havia gritado comigo. Fiz careta, passando o pano molhado com força sobre o sofá, machucando as pontas dos dedos.
Continuei me lamentando, mas quando olhei para a entrada da porta, Hoseok estava ali, com uma expressão que misturava arrependimento e esperança. Ele levantou os lábios, tentando sorrir, e seus olhos ficaram maiores, como um gatinho depois de fazer bagunça. Estranhamente algo acendeu dentro do meu estômago, como borboletas querendo sair.
Segurei a respiração quando Kitty correu para ele, puxando-o para dentro antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. Eles mantinham suas mãos juntas.
— Oppa, ele voltou! — ela exclamou, olhando para mim com uma expectativa silenciosa.
Soltei a respiração.
— Hoseok, podemos conversar? — perguntei, tentando manter a calma e ser justo.
Ele assentiu, seguindo-me até o escritório que ficava no fundo da pousada. Assim que entramos no cômodo, cruzei os braços e sentei na ponta da mesa de madeira polida, observando Hoseok.
— Você voltou? — perguntei, tentando não ser tão intimidador.
— Eu não sei. Na verdade, eu nunca fui embora, você que decidiu isso por mim.
Mordi os lábios.
— Você disse primeiro que iria embora — comecei, mas minha voz falhou. Forcei-me a manter uma aparência firme. — Você sabe que não posso perder dinheiro. Isso não é apenas um negócio para mim, é tudo o que tenho.
Hoseok, em pé, se moveu nervosamente, como se estivesse procurando uma saída. A expressão em seu rosto era uma mistura de raiva e tristeza. Eu não queria ser o vilão da história, mas a frustração ainda fervia dentro de mim.
— Eu sei... Eu sei que errei. Mas você brigou comigo na frente de todos — ele respondeu, a voz trêmula. — Eu não sou um completo idiota.
Fechei os olhos por um momento, tentando encontrar as palavras certas. Sabia que a briga fora intensa, mas era difícil ignorar a dor que eu causara em ambos.
— Olha, eu não queria fazer isso. Não queria que você se sentisse assim — disse, tentando suavizar meu tom. — Tudo o que eu queria era que você entendesse a gravidade da situação!
Hoseok olhou para baixo, sua expressão se suavizando lentamente, o que fez acender uma chama dentro de mim.
— Eu entendo, mas você poderia ter falado de outra forma. Não precisava ter sido tão duro.
— Desculpa por isso! — O silêncio pairou entre nós por um momento. Senti a pressão no peito, um desejo de consertar o que estava quebrado. — Eu... eu não queria que você fosse embora — confessei, por fim, minha voz saindo quase num sussurro.
Hoseok levantou o olhar.
— Então por que você disse aquilo na frente de Kitty? Você me expôs.
— Eu estava irritado — respondi, a frustração voltou a subir.
— Isso não é desculpa — ele rebateu, cruzando os braços.
Levantei-me da mesa, a tensão aumentando.
— Eu sei que não é, mas precisamos nos entender. Não quero que isso acabe assim.
— Então, o que você sugere? — Hoseok me perguntou.
Respirei fundo, sentindo a fragilidade do momento.
— Talvez possamos começar com algumas regras. O que achando? Não podemos deixar que isso aconteça novamente.
Hoseok balançou a cabeça lentamente, considerando a proposta.
— Tudo bem, mas isso significa que você precisa me ouvir também.
As palavras dele atingiram um ponto sensível dentro de mim. Eu sabia que tinha sido autoritário demais.
— Eu prometo ouvir, mas você não pode sair por aí gritando com as pessoas.
— Então vamos começar do zero — Hoseok sugeriu, e eu senti uma leve esperança se formando. — A partir de agora, vamos nos comunicar melhor. Podemos estabelecer um espaço seguro para discutir as finanças e qualquer outra coisa que nos preocupe.
— Concordo — respondi, aliviado por ele estar disposto a tentar.
A atmosfera começou a mudar, mas a estranheza ainda pairava entre nós. As palavras fluíam, mas a lembrança do que havia acontecido não se dissipava facilmente. Sabíamos que nossa amizade e parceria não seriam as mesmas de imediato, mas o entendimento mútuo era um passo necessário.
— Então, o que você quer fazer agora? — Hoseok perguntou, e eu pensei por um momento.
— Que tal começarmos a contar as notas? — perguntei, pegando o maço de dinheiro sobre a mesa. — Posso te ensinar a fazer isso de uma forma mais fácil.
— Claro — ele respondeu, aproximando e pegando o dinheiro.
Ele estava tão próximo, que eu consegui sentir o cheiro da água do mar nele e, quando abaixei os olhos, notei algo estranho em seu braço, uma camada de escamas azuladas que brilhavam sob a luz. Franzi o cenho, intrigado.
Por que ele tinha escamas de peixe grudadas na pele? Tombei a cabeça para o lado, apertando os olhos para enxergar melhor. Aquilo era bonito e eu nunca tinha visto antes.
— O que é isso no seu braço? Tatuagem maneira — falei, tocando levemente nas escamas. Para minha surpresa, sob meus dedos, elas desapareceram como se nunca tivessem estado lá. Olhei para ele com os olhos arregalados. — O que acabou de acontecer? Não era uma tatuagem?
Hoseok parecia igualmente surpreso, mas rapidamente disfarçou, pigarreando alto.
— Eu não sei, eu não vi nada, mas deve ter sido a luz daqui do escritório — ele respondeu, desviando o olhar e se afastando.
Eu estava maluco? Dei de ombros, decidindo não insistir, embora a curiosidade e a confusão me consumissem por inteiro. Havia algo nele que eu não entendia, algo que o tornava diferente das outras pessoas, admito. Mesmo assim, concordei em deixar isso de lado, pelo menos por enquanto.
NOTAS
Eita, Hoseok, quase, hein!!
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Além das Ondas (Sope)
Fanfic[Em andamento] No profundo azul do oceano, Jung Hoseok é um sereio que leva uma vida pacífica, até que seu primo é capturado por pescadores. Determinado a salvá-lo, Hoseok faz um sacrifício ao se transformar em humano, emergindo em um mundo desconhe...