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CAMILA

O frio atingiu-me em cheio quando o táxi estacionou em frente ao prédio que seria minha moradia durante meu período acadêmico alemão. A faculdade proporciona aos alunos estrangeiros apartamentos alugados para dividir com outros estudantes e morar nas proximidades da universidade.

Agradeci quando o homem retirou minhas malas, dei seu dinheiro e desejei um bom dia. A viagem foi longa e mal posso esperar para dormir em minha cama nas próximas horas.

Era uma manhã de domingo fria em Munique e meus lábios ainda tremiam. Apertei meus braços em torno do meu tronco e suspirei frustrada. Devia ter trazido mais casacos impermeáveis.

Adentrei o modesto prédio e rapidamente o porteiro se mostrou prestativo me ajudando com as malas e mostrando o elevador. O povo alemão até então se mostrou bastante educado. Suspirei pesadamente enquanto o elevador subia.

Eu realmente espero que minhas duas companheiras brasileiras sejam legais.

Fiquei sabendo quem eram ainda no treinamento de intercâmbio antes de partir de Cuba virando uma página da minha vida. A faculdade realmente oferecia todo o suporte e por algum tempo, estudei em um curso de língua alemã. Os mentores anunciaram as regras e como se portar na Alemanha com cultura totalmente diferente da minha.

Chequei a folha de informações: apartamento 105 quarto andar. Rapidamente o encontrei, toquei a campainha e ouvi passos e risadas altas.

- Camila? - Uma moça alta e negra abriu a porta me oferecendo um sorriso gigante. Assenti sorrindo de volta.

- Guten tag! - Eu realmente espero ter pronunciado certo - É um prazer te conhecer...

- Normani Kordei - Ela sorriu um pouco mais e me deu passagem para que eu entrasse - Entre, vamos! Dinah, a Camila chegou.

Dinah era ainda mais alta que Normani e igualmente sorridente. Quando as duas pararam na minha frente entrelaçando as mãos eu imediatamente soube.

Ela usava um suéter de lã branco e uma calça justa modelando suas curvas e coturnos nos pés. Normani vestia o mesmo só que ao contrário de Dinah, seu suéter era vermelho e usava uma touca cinza em sua cabeça. Vestiam-se muito bem e praticamente deram um tapa na minha cara que apenas vestia um suéter sem graça marrom com um casaco grosso preto por cima. Além disso, eram donas de corpos invejáveis.

Me sinto ofuscada.

- Olá, Camila. Sou Dinah Jane – Estendi a mão para que ela a apertasse e me surpreendi quando ela me puxou e ambas me abraçaram – Sem formalidades nessa casa.

Nota mental: Brasileiros têm costume de abraçar quando cumprimentam.

Quando desvencilhamos do abraço grupal, decidimos deixar por arrumar a nova moradia depois que prepararmos algo para comer. Por sorte, as meninas já tinham abastecido a cozinha com alimentos comprados no mercado rua abaixo. Talvez por isso estivessem tão arrumadas.

Ou eu realmente me visto mal.

Prometi pagar minha parte da comida, mas elas logo me deram bronca dizendo que depois iríamos conversar sobre divisão de trabalho e economia por aqui. Sorri me admirando com a generosidade de ambas.

Enquanto Normani preparava o nosso almoço, elas me contavam um pouco sobre sua história. As duas se conheceram em São Paulo, ainda no processo de seleção para o intercâmbio na escola de ambas. Pelo que parece, Dinah e Normani se deram muito bem quando se conheceram e ficou melhor quando descobriram o mesmo gosto pela Beyoncé.

- Foi tudo muito rápido – Normani comentou enquanto mexia algo em uma panela – Mas não deixou de ser intenso.

Notava-se nas ações das duas o quão intenso era. Não restavam dúvidas. Compartilhavam o símbolo de uma pena no pulso esquerdo. Normani olhava para Dinah como se ela fosse a coisa mais bonita que Deus tinha feito e vice-versa. Causava-me inveja ao mesmo tempo felicidade ver tamanho companheirismo e amor.

reflection ➸ camrenOnde histórias criam vida. Descubra agora