Chegou a hora da festa, e Malvina continuava desaparecida. Bartolomeu, que estava a ter uma crise nervosa, avistou a Justina, quem ainda estava se recuperando do episódio dos romenos e estava mandando os meninos para os quartos para se trocarem para a festa. Bartolomeu aproximou-se dela quando os meninos saíram.
— Onde é que está a lesada?
— Não sei, senhor. Mas tenho duas notícias para dar-lhe.
— Agora não.
— Tem que saber agora.
— O quê?
— A primeira é que Jasmin Romero está de volta. Ela foi trazida por Rama.
— Olha só. Mais tarde a vejo...
— A segunda...
— Não tenho tempo, Justina, falamos mais tarde.
— É que...
— Toma conta dos pivetes, Tini! Eles devem dar vontade de chorar só de olhá-los! — e foi embora, sem deixar que Justina o avisasse do retorno de Thiago.
Isso seria um problema para outra hora, pensou ela. E saiu para preparar os meninos para a festa, que, além do noivado, seria mais uma ocasião para comemorar. Estariam presentes muitas pessoas da alta sociedade que facilmente se comovem com a miséria e aliviam a sua consciência social com um cheque. Justina chegou ao pátio coberto, onde todos a esperavam, incluindo Jasmin, e explicou as regras, sobretudo à novata, Marianella: eles entrariam e sairiam conforme as instruções, e sorririam com carinhas tristes.
Cielo esperava que Nicolas saísse do jardim para fugir, mas isso não aconteceu, pois ele nunca saiu; pelo contrário, instalouse com o menino e aquele homem estranho e desgrenhado. Cielo estava em sérios apuros, mas como sempre encontrava uma solução, neste caso recorreu a um belo vestido e a uma máscara que viu dentro do motorhome. Talvez disfarçada ela conseguisse fugir. Não parou para pensar, teve um impulso e seguiu-o. Despiu-se e vestiu o vestido. E depois a máscara. Olhou-se no espelho: o vestido era um sonho. Se ela tivesse lido Cinderela alguma vez, teria-lhe ocorrido alguma analogia.
Olhou com atenção para o exterior: um homem de traje bege e cachos aproximou-se do loiro e dos seus companheiros, cumprimentou-os a todos com grande alegria - grande demais para Cielo - e conduziu-os para dentro da mansão. Então ela achou que era hora de fugir e, furtivamente, saiu do motorhome pronta para partir. Mas, de repente, alguém apareceu do nada e agarrou-a pelo braço.
— Finalmente, lesada! Onde estava? — perguntou apressadamente o homem de cabelo encaracolado e traje bege.
Ela ficou sem palavras, compreendeu que ele a estava confundindo com outra pessoa, mas não podia desfazer a confusão, pois o loiro que pensava que ela era uma ladra estava provavelmente a poucos metros de distância. Concluiu, sensatamente, que o melhor a fazer era não falar.
— O que aconteceu com você para não falar, estúpida? Anda, vamos, o Nicolas já foi para a sala e está à sua espera!
E levou-a para dentro da casa. Cielo não pensaou naquele momento como iria escapar da situação, acabara de descobrir o nome do loiro: Nicolas. Antes de conhecê-lo, Nicolas pareceria um nome comum, mas naquele momento parecia um nome único, divino, e perfeito para ele.
Bartolomeu conduziu a Cielo para dentro da mansão, entraram pela cozinha, e de lá ele a conduziu por uma escada até o andar superior. Eles caminharam por um corredor cuja escuridão e cheiro de madeira velha e lustra-móveis fizeram o peito dela apertar. Cielo não se lembrava, mas foi naquele corredor que ela recebeu a notícia da morte da mãe no dia em que esqueceu tudo. Ela estava atordoada, sentia aquela sensação estranha no peito. E para piorar, tinha que aturar aquele estranho que não parava de dizer coisas. Bartolomeu deu-lhe mil recomendações que Cielo não entendia, até que ouviu uma fanfarra pretensiosa, reagiu e disse-lhe:
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Quase Anjos - A Ilha de Eudamon (1 TEMPORADA)
RomanceNuma noite de fevereiro de 1854, três pontos luminosos desenham um triângulo perfeito no céu: três relógios idênticos começaram a funcionar ao mesmo tempo, e um deles está no sótão da mansão Inchausti. E embora pareça uma cena que ocorreu por acaso...