Quase Anjos - A Ilha de Eudamon (1 TEMPORADA)

1.1 Dois Compromissos

Zeca, Rama e Aleli chegaram ao circo e entraram facilmente pela parte traseira. Na parte da frente, debaixo do grande cartaz que dizia "Circo Mágico", havia um mais pequeno que dizia: "Com a participação especial de A Dançarina do Ar". Quando saíam para roubar juntos, Rama tentava evitar que Aleli participasse, pois fazia dupla função, para ele e para ela. Sabia também que a sua querida irmãzinha adorava circos.

Por isso, nessa tarde, Rama gastou algumas moedas que tinha conseguido esconder dos olhos de coruja de Justina e comproulhe um grande algodão-doce. Arranjou-lhe uma cadeira vazia e sentou-a lá para apreciar o espetáculo enquanto ele e Zeca faziam o trabalho. Os três tentavam continuar com a vida normal que tinham na Fundação BB há cinco anos. Já eram especialistas na matéria. Nunca chamavam ao que faziam de roubo, mas sim "trabalho". Aleli ficou grata quando Rama lhe disse para não trabalhar, que ele trabalharia para ela. E, com um grande sorriso de felicidade, aplaudiu aos artistas de circo que se apresentavam. A que mais lhe agradou foi a dançarina do ar, uma bela acrobata loira com enormes olhos azuis. Aleli observava fascinada como a moça parecia voar pendurada num pano, com enormes asas brancas nas costas.

Mas, nesse momento, um homem muito gordo estava alguns centímetros à sua frente e ela viu que uma carteira muito gorda estava a sair do seu bolso de trás, como as que Justina adorava. Viu que o bom e velho Rama estava trabalhando e achou que devia ajudá-lo. A carteira estava à vista de todos e, graças a isso, quase sem parar de comer o algodão-doce, tirou-a do dono, que nem deu se deu conta. Aleli viu o homem ver as horas no pequeno relógio dourado - Justina adorava relógios dourados - e depois meteu-o no bolso da frente do colete. E, com a mesma calma de antes, tirou-lhe. Mas não reparou que, à frente deles, estava uma mulher que a observava. Resultou ser a esposa do homem gordo. E os dois eram os novos donos do Circo Mágico. 

— LADRONA! ELA ESTÁ TE ROUBANDO! — gritou a mulher ao marido. 

O homem reagiu rapidamente e olhou para a menina com incredulidade. 

— SIM, ELA, A MORENINHA ROUBOU O SEU RELÓGIO! — precisou a mulher. 

O homem não conseguiu confirmar o que disse, porque Aleli já tinha fugido. A mulher tentou apanhá-la e Aleli teve de subir ao picadeiro para escapar. Cielo, a dançarina do ar, viu a situação de cima e compreendeu imediatamente o que se passava: os desagradáveis novos donos do circo perseguiam uma menina que acusavam de ser uma ladra e que fugia pelo picadeiro. Sem hesitar, Cielo decidiu ajudá-la e, com um gesto para o seu assistente, disse-lhe que a pusesse no chão. Cielo desceu como um anjo para o picadeiro e pôs-se à frente do homem. Ele tentou evitá-la, mas ela o impediu.

Naquele momento, havia vários artistas no palco, entre eles o lançachamas, que claramente detestava o novo empresário. E em resposta a uma piscadela que ela lhe deu, ele começou a dirigir as suas chamas para o homem que estava no picadeiro. O mesmo fizeram os palhaços em monociclo, os malabaristas e os anões. Começaram todos a rodeá-lo, a encurralá-lo. Houve uma grande agitação, idas, vindas e quedas. Tudo parecia fazer parte do espetáculo.

Rama e Zeca tinham assistido a toda a situação e, quando viram que ela tinha fugido, saíram da tenda, procuraram-na sem sucesso entre as carroças e deduziram que Aleli tinha fugido diretamente para a Fundação. Rama pediu a Zeca que voltasse pela praça. Ele faria o mesmo caminho que tinham feito para chegar ao circo. Eles se separaram e Rama começou a procurar a irmã angustiado. A alguns quarteirões dali, Rama começou a ouvir uma música. E a música era uma paixão para ele, qualquer tipo de música atraía-o como um ímã.

Aproximou-se do local de onde vinha a música e viu uma moça de cerca de quinze anos, vestida com tules e saias verdes muito compridas, dançando apaixonadamente, levantando os calcanhares e movendo as mãos como se fossem asas. Ao seu lado, uma pequena aparelhagem com uma canção de flamenco tocando. Assim que a viu, reconheceu-a. Era Jasmin Romero, uma menina que tinha vivido na Fundação há alguns anos.