Capítulo 3

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-- Complicado, mas não quero falar sobre isso, estou tentando descobrir algumas coisas que podem causar muitas confusões. -- digo sentando.

-- Compreendo, e entendo caso não queira tocar no assunto, mas às vezes, falar sobre o que te perturba pode trazer clareza nas decisões que quer tomar. -- afirmou a psicóloga, sentando na cadeira que fica de frente para o sofá, ao sentar ela me encara com um olhar penetrante, como se buscasse entender o que se passa em meu interior.

-- Não quero falar sobre isso hoje... -- coloco uma almofada em meu colo.

-- Está bem, vou respeitar o seu tempo. -- afirmou a psicóloga, mantendo a serenidade, sem desviar o olhar, exibindo paciência e acolhimento em seu rosto.

-- Queria então retornar de onde paramos, sobre a sua infância, quero entender se possui alguma relação sobre o que está passando agora... Sabia que é muito frequente traumas passados se expressar de formas que não conseguimos compreender no presente? -- pergunta a psicóloga, com um tom de voz suave e seu olhar fixo, enquanto ajustava os óculos e pegava seu caderno.

-- Pode ser, até porque acredito que estou aqui para decifrar o porquê estou assim... -- pego o celular e coloco no silencioso.

-- Este esforço para compreender seus sentimentos é uma etapa crucial e isso pode lhe ajudar muito. Você acredita que isso pode estar ligado a algo em particular? -- questionou a psicóloga, cruzando os braços e pronta para escutar.

-- Gostava de ir para a escola? -- escolho não responder e assim vejo ela, confirmando com a cabeça. -- Eu detestava, ninguém da minha sala gostava de sentar perto de mim ou fazer trabalho escolar comigo, para poder evitar desconfortos da minha parte pedia para os professores que deixasse que eu fizesse os trabalhos sozinha, alguns deixavam e outros não. Um dia quando uma equipe descobriu que eu estava com eles, chegaram para professora e pediu para me retirar, lembro até hoje dela dizer que eles teriam que ficar comigo. Parecia que era um fardo para eles.

-- Chegou a pedir para sua mãe te retirar da escola, depois desta situação? --ela se inclina levemente para o lado, observando minhas reações com um olhar tranquilo.

-- Não, ela vivia ocupada, mas mesmo assim era uma boa mãe... -- respiro devagar, meu coração começou a acelerar.

-- Como você lidava com sua mãe está sempre ocupada? -- ela questiona delicadamente como se procurasse por mais detalhes enquanto fazia anotações em seu caderno.

-- A primeira vez que ela foi à escola foi quando a diretora ligou com urgência, foi uma confusão, uma falação insuportável. -- decido não responder sua pergunta, então paro de falar e pego um Rivotril dentro da bolsa, tomando com o copo de água que ela sempre deixava para os pacientes. -- Um dia, qualquer, estava discutindo com um garoto da minha sala. Aquele que disse que queria ficar comigo... Enfim, ele me encostou contra a parede, passou a mão no meu peito e disse que ninguém nunca iria querer ficar comigo, que ele era o único disposto. -- eu inspiro lentamente após essa revelação, como se o oxigênio fosse denso em meus pulmões. A memória parece me asfixiar, e o meu tórax se contrai devido angústia da lembrança do que já vivi. O coração dispara, e por um instante, aponto a mão sobre o peito, percebendo o mal-estar. Então me pego refletindo que só preciso aguardar o Rivotril agir. -- Uma professora viu a cena e nos levou para a sala da diretora. Os pais dos dois vieram, e o garoto recebeu uma advertência. Mas, por vergonha, os pais dele o retiraram da escola. Foi aí que tudo mudou. As pessoas se afastaram ainda mais, ele era o mais popular da turma... o silêncio deles me machucava ainda mais, como se a culpa fosse minha. -- minha voz se extingue ao final, e permaneço em silêncio. Meu olhar se concentra no chão, com os olhos cheios d'água. Tento conter as lágrimas, mas a angústia da rejeição parece penetrar em mim, fazendo meus ombros se curvarem, como se estivesse suportando um fardo insuportável.

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⏰ Última atualização: Oct 22 ⏰

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