Liam estava exausto. Faltava pouco mais de um mês para sua formatura e logo teria o diploma que tanto sonhou. Naquela noite vinha da faculdade quando chegou na pensão onde alugava um quartinho nos fundos para dormir, após um dia exaustivo de trabalho duro como operador de caixa no mercado. O expediente encerrava e tinha que ir correndo para a faculdade a noite. Já passava das dez e começava a chover quando viu um homem abrigado na calçada do bar ao lado, apoiando as mãos em dois carrinhos de bebê. Tentava se manter acordado, embora o sono quase o dominasse. Foi um dia duro para ele também.— Posso ajudar? — Liam perguntou.
O desconhecido esfregou os olhos e o encarou, franzindo o cenho. Era um homem jovem e bonito. Os olhos em um tom caramelado, barba rala e os cabelos molhados batiam na altura de seus ombros. Usava um conjunto preto de moletom e carregava consigo uma mala grande, além de uma bolsa azul clara com desenhos de nuvens.
— What? Sorry. I don't understand portuguese. — disse, em inglês. Liam assentiu, compreendendo. Embora morasse no Brasil desde os dez anos de idade, ainda se desenrolava bem no inglês. O sotaque britânico era quase imperceptível algumas vezes.
— Ok. I speak english. Do you need anything?
Ele assentiu, seguro para falar em sua língua materna com aquele solícito rapaz. Tantas e tantas pessoas já passaram por ali, mas nenhuma ousou questionar se precisava de ajuda. Era como se fosse invisível.
— Eu preciso de um lugar pra ficar. Na verdade, nós precisamos. E está fechado. — apontou para a pensão — Por ser bem tarde, considerei dormir por aqui, mas… — ainda considerava. Passava das dez e não tinha condições de ir longe, tanto por falta de dinheiro, quanto pela chuva torrencial que certamente molharia os seres humanos pequenos.
Liam achou injusto e de imediato se aproximou. Os bebês estavam calmos, acordados e bem agasalhados. Eram lindos, pareciam ter em torno de dois ou três meses de vida.
— Vamos dar um jeito, não se preocupe. Vai ficar tudo bem. Eu tenho um quarto so pra mim nos fundos. Fique por la essa noite. Venha comigo. — ofereceu, tirando a chave do bolso as pressas e abrindo o portão enferrujado, dando passagem para que o desconhecido pudesse passar com os carrinhos.
Caminharam por um beco de concreto até os fundos. Por sorte haviam poucos hóspedes naquela semana. Quando enchia, era uma grande chatice ter que dar explicações para a proprietária idosa e fumante.
O quarto de Liam ficava atrás de uma porta sustentada por três degraus. Não era tão grande, mas confortável para que coubesse o quatro. Tinha uma bicama, o pequeno, frigobar, um fogão de duas bocas, seu notebook, um armário multiuso funcionando como despensa e guarda roupas. A luz central era em led azul e branca. Liam acionou a branca para que pudessem se observar melhor.
— Seus filhos? — questionou, trancando a porta para garantir privacidade.
— Acabei de descobrir. A mãe me abordou na rua quando eu estava a caminho do aeroporto e deixou os carrinhos comigo. Eu estou a ponto de ter um surto. — tirou os sapatos próximo à porta e caminhou descalço, precisava muito sentar e respirar.
— Se acalme. Vamos nos abrigar primeiro, nos ajeitar e depois conversar. Tem alguém que eu possa chamar?
— Eu não sou daqui. Vim a trabalho. Eu jogo futebol … — pôs as mãos na cabeça — Estava prestes a voltar pra Inglaterra quando aquela irresponsável apareceu.
Liam se impressionou. Coragem da mulher em confiar os filhos a ele. Imaginou qual seria o motivo dela, mas isso era o de menos. O cuidado com os bebês era mais urgente.
Deixou a mochila sobre uma cadeira velha e tirou os tênis. Se aproximou dos carrinhos, vendo os bebês interagirem com chocalhos, cada um segurando e levando até a boca seu próprio objeto.
— Você vai sair daqui com duas ótimas lembranças. O menino é mais a sua cara. — tocou o nariz dele, vendo ele sorrir e sorriu junto. Tinha os olhos dele, cabelos loiros em tons mais escuros. A menina tinha olhos azuis e cabelos loiros em tom mais claro. Talvez suas características mudassem com o tempo.
— Eu não sei sequer os nomes deles! — grunhiu, ainda agindo como se tivesse dentro de um sonho.
Liam lamentou por ele. Não era uma situação simples ou melhor, esperava que não fosse. Já que também havia a possibilidade dele mentir para dar um golpe. Se fosse, era uma forma errada de fazer, visto que o quarto onde se alojava mostrava bem que não era o tipo de pessoa que carregava por aí uma carteira recheada.
Resolveu procurar mais vestígios na bolsa de nuvens. Nela tinha roupas, sapatos, mamadeiras, chupetas, uma lata de leite pela metade, cartões de vacina e certidões.
— Se chamam Khai e Kion. — disse, achando nomes originais. Zayn também achou isso, tanto que descobriu o rosto e lentamente se levantou.
— São bonitos. Combina. — olhou para eles. Achou curioso como o acompanhavam com o olhar, como se soubessem que ele seria o bote salva vidas daquela noite em diante — Eles ainda não choraram. Mas vão em algum momento! E eu também.
Entrou em pânico novamente e se pôs a sentar. Queria esganar aquela mulher. Não era mais simples querer que ele assumisse a paternidade ao invés de empurrá-la goela a baixo para ele digerir? Mal conseguia cuidar de si mesmo, que dirá de dois bebês.
Liam teve pena. Devolveu os documentos para a bolsa e se aproximou, tocando o ombro dele.
— Eu imagino que seja uma loucura, mas se controle. Só vai piorar se perder a cabeça. Como você se chama?
— Zayn Malik. — respondeu com a voz trêmula.
O universitário se agachou e procurou seu olhar.
— Sou Liam. Muito bem, Zayn. Conte comigo, ok? Vamos fazer isso juntos. Eu vou te ajudar. Você não está sozinho. — segurou suas mãos, vendo ele respirar devagar e assentir, tentando acreditar que ele poderia estar certo.
— Você entende de crianças?
— Muito pouco. — esboçou um sorriso — Mas duas cabeças pensam melhor juntas. E temos responsabilidade em dobro… — olhou para os carrinhos, puxando os dois para o campo de visão deles — Mas vai funcionar. — ofereceu a ele um sorriso. Zayn olhou em seus olhos, depois olhou para os filhos.
— Eu sou pai, Liam. Eu tenho filhos.
E finalmente chorou.
Depois de quatro horas com fome, frio, apático, sem direção, despreparado e preocupado, ele expôs suas fraquezas. Mas Liam não viu dessa forma, tanto que o abraçou, vendo sinceridade naquele choro e mesmo com a vida tumultuada que tinha, ajudaria.
*amando eternamente Liam Payne. ♡
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Talismã - Ziam
FanfictionOnde ninguém jamais tiraria a certeza que o jogador Zayn tinha sobre Liam ser o seu talismã da sorte.