Minjeong nunca foi de gostar de saídas em grupo. Se pudesse, passaria a maior parte do tempo em casa, enrolada em uma manta, assistindo filmes antigos ou mergulhada em livros. A companhia de si mesma era suficiente, ou pelo menos ela se convencia disso. Mas ultimamente, essa tranquilidade era perturbada toda vez que o nome de Karina surgia em uma conversa.Dois anos haviam se passado desde que tudo deu errado entre elas, e, mesmo assim, Minjeong ainda não sabia como lidar com o turbilhão de emoções que Karina provocava. Estavam agora no início do terceiro ano do ensino médio, mas parecia que os acontecimentos daquele primeiro ano ainda estavam frescos, como uma ferida que nunca cicatrizou de verdade.
O problema é que Ningning e Giselle, as melhores amigas de Minjeong, não pareciam dispostas a deixar o passado quieto. Sempre encontravam um jeito de colocar as duas no mesmo ambiente, como se pudessem magicamente consertar o que havia sido quebrado. Claro, elas faziam isso com boas intenções, mas para Minjeong, a ideia de encarar Karina de novo, de verdade, era uma tortura.
— Por favor, Minjeong! — Ningning implorava pela quinta vez naquela semana, agarrando o braço da amiga. — Vai ser só uma noite, eu prometo que se for horrível, a gente sai mais cedo! Eu te levo para comer pizza depois!
Minjeong revirou os olhos, exasperada. Estava sentada na cama, tentando se concentrar em um livro, mas já tinha lido o mesmo parágrafo três vezes sem realmente absorver nada.
— Ningning, eu já falei que não quero ir. — Ela suspirou, fechando o livro com força. — Você sabe quem vai estar lá.
O nome de Karina pairou no ar, mesmo sem ser dito. Ningning mordeu o lábio, percebendo a frustração crescente na amiga.
— Eu sei, Min. Mas vocês precisam resolver isso de uma vez. Não dá para passar o resto do ensino médio assim, fingindo que a outra não existe. — Ningning insistiu, sentando-se ao lado da loira. — Já faz dois anos. O que aconteceu no primeiro ano... vocês já deviam ter superado, não acha?
Minjeong ficou em silêncio por um momento, encarando o chão. Ela sabia que Ningning tinha razão, mas superar era muito mais fácil de dizer do que de fazer. Ela e Karina foram inseparáveis no início do ensino médio. Melhores amigas, sempre juntas, compartilhando segredos, risadas e... sentimentos que Minjeong não sabia como lidar na época. E foi por causa desses sentimentos que tudo se desmoronou.
No primeiro ano, quando Minjeong finalmente percebeu que o que sentia por Karina não era só amizade, ela ficou apavorada. Karina era tudo para ela, e a ideia de estragar isso a deixava em pânico. Mas, ao mesmo tempo, as coisas entre elas começaram a mudar. Havia uma tensão diferente, olhares demorados, toques sutis. Até que, um dia, elas se beijaram.
Aquele beijo foi o ponto de virada. Para Minjeong, era a confirmação de que seus sentimentos eram reais, de que talvez Karina sentisse o mesmo. Mas as coisas não foram tão simples. Karina começou a agir de maneira confusa, indecisa. Ora se aproximava, ora se afastava, e isso deixava Minjeong em um estado de constante incerteza. Ela queria acreditar que Karina estava apenas tentando entender o que sentia, mas a dúvida era dolorosa.
Tudo culminou em uma noite fatídica, no fim do primeiro ano. Elas estavam em uma festa, e Minjeong, finalmente decidida a confessar seus sentimentos de uma vez por todas, viu algo que partiu seu coração: Karina beijando outra pessoa. A visão foi como um soco no estômago. Minjeong se sentiu traída, magoada, e em um impulso desesperado, beijou alguém também, bem na frente de Karina.
A briga que se seguiu do lado de fora da festa foi um verdadeiro caos emocional. O ar noturno estava fresco, mas nada conseguia dissipar o calor sufocante da discussão que crescia entre elas. A música e as vozes da festa, agora distantes, pareciam pertencer a outro mundo, enquanto Minjeong e Karina estavam presas em sua própria tempestade. Minjeong sentia as lágrimas ardendo em seus olhos, mas não queria ceder completamente à dor, segurando-se com força para não desabar. Por mais que tentasse manter a cabeça fria, a decepção era esmagadora. Tudo o que ela tinha visto dentro da festa, o beijo entre Karina e o garoto, havia despedaçado qualquer resquício de esperança que Minjeong ainda guardava dentro de si.
Karina estava à sua frente, tentando se explicar, mas suas palavras soavam vazias, como se fossem incapazes de alcançar Minjeong. O rosto de Karina estava marcado por arrependimento, mas, para Minjeong, nada daquilo parecia suficiente. Ela estava furiosa, magoada, como se todos os sentimentos que mantivera trancados a sete chaves tivessem sido jogados no chão e pisoteados. A sensação de traição era profunda, uma dor que Minjeong não conseguia descrever. Seus sentimentos por Karina, que ela havia lutado tanto para entender e aceitar, pareciam agora insignificantes, como se não tivessem tido valor algum.
Para Karina, a confusão era esmagadora. Ela queria se fazer entender, queria que Minjeong acreditasse que nada havia sido intencional. Mas, ao mesmo tempo, ela própria não sabia ao certo o que estava sentindo. Tudo era um emaranhado de emoções conflitantes, e isso só piorava a situação. Karina não conseguia explicar para Minjeong algo que ela mesma não compreendia. Isso apenas aumentava a frustração de Minjeong, que se sentia perdida entre o amor que ainda carregava por Karina e a dor de perceber que, talvez, tudo tivesse sido apenas uma brincadeira para a outra.
A frustração e a mágoa explodiram naquela noite. Dois anos de amizade, momentos que pareciam inquebráveis, desmoronaram como um castelo de areia, levado por uma onda de sentimentos que nenhuma das duas conseguia controlar. E assim, em meio a lágrimas, palavras amargas e corações partidos, elas se afastaram. A amizade, que antes parecia ser sólida como rocha, se desfez ali, naquela noite, do lado de fora da festa, sob o céu silencioso e indiferente.
Agora, no início do terceiro ano, a distância entre elas era quase tangível. Mesmo que estivessem na mesma escola e no mesmo grupo de amigas, era como se houvesse um abismo entre as duas. Elas evitavam se olhar, falar ou até mesmo estar perto uma da outra. Mas esse silêncio não tornava as coisas mais fáceis. Pelo contrário, ele carregava o peso do que nunca foi resolvido.
— Eu não sei se consigo, Ning. — Minjeong murmurou, voltando à realidade. — Não depois de tudo o que aconteceu.
Ningning suspirou, jogando os braços ao redor da amiga em um abraço apertado.
— Eu sei que é difícil, mindungie. Mas ficar fugindo não vai mudar nada. — Ningning deu um sorriso reconfortante. — Você precisa, pelo menos, tentar. Se não por ela, então por você mesma. Você não quer carregar essa coisa pelo resto da vida, quer?
Minjeong olhou para o teto, sentindo o peso das palavras da amiga. Ela sabia que não podia fugir para sempre, mas a ideia de enfrentar Karina de novo, de reviver toda aquela dor, era assustadora. No entanto, uma parte dela sabia que talvez Ningning estivesse certa. Talvez fosse hora de tentar seguir em frente, mesmo que isso significasse encarar o passado que ela tanto evitava.
— Tá bom, eu vou. — Minjeong finalmente cedeu, com um suspiro derrotado.
Os olhos de Ningning se iluminaram imediatamente, e ela deu um gritinho de alegria, pulando da cama.
— Isso! Vai ser ótimo, eu prometo! — Ningning exclamou, já pegando o celular para avisar Giselle. — Você vai ver, Minjeong, vai ser o primeiro passo para deixar tudo isso para trás.
Minjeong apenas assentiu, sem muita convicção. Ela não estava tão certa de que uma noite com Karina por perto seria a solução para seus problemas, mas talvez, só talvez, fosse o começo de algo. Seja para encerrar o passado ou para, quem sabe, abrir uma nova porta.
E com esse pensamento, ela se preparou mentalmente para o que estava por vir, sentindo o coração bater mais rápido à medida que o nome de Karina ecoava em sua mente.

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APT. / Winrina
FanficEm uma noite que parecia ser apenas mais uma diversão entre amigas, Ningning e Giselle convencem Minjeong e Karina a se juntarem a elas em um karaokê. Mesmo relutantes, as duas acabam cedendo, apesar de não se verem por alguns anos, quando um pequen...