Bar

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Pov. Maraisa Henrique

A noite não começou exatamente como eu planejava. O trabalho tinha sido pesado naquele dia, com uma pauta delicada que eu estava investigando há semanas. Minha cabeça ainda estava processando as informações do caso, mas eu sabia que precisava de uma pausa. O ambiente do jornal já não ajudava, e eu não queria voltar para casa e me afundar nas anotações.

Eu sempre tive o hábito de sair sozinha de vez em quando. Era uma maneira de recarregar as energias, de me desconectar da pressão de ser jornalista. Aquela quarta-feira não era diferente. O bar não era dos meus preferidos, mas era tranquilo o suficiente para garantir que eu não fosse importunada por alguém querendo detalhes sobre meu trabalho.

Quando entrei, o ambiente estava com a iluminação baixa, a música ao fundo criando uma atmosfera aconchegante. Passei os olhos pelo lugar, observando as pessoas conversando em grupos, rindo, alguns já animados com as bebidas que tinham tomado. E foi aí que a vi.

Marília Mendonça.

Eu já tinha ouvido falar dela, claro. Como não ouviria? Goiás é pequeno, e no nosso meio, ela era uma advogada conhecida. E confesso que, por trás de todo o respeito profissional, sempre houve uma curiosidade a mais. Ela era bonita, mas havia algo mais que a tornava diferente. Ela carregava uma força visível, algo que a fazia destacar-se mesmo em um bar cheio de gente. Sentada sozinha no balcão, ela parecia um pouco deslocada, como se não estivesse acostumada a estar ali. Havia um ar de concentração, mas ao mesmo tempo de alguém que precisava desligar o botão de 'profissionalismo' por algumas horas.

Eu me aproximei, não exatamente com um plano em mente, mas com uma curiosidade que não pude conter.

"Posso pagar uma rodada?" A pergunta saiu com naturalidade, mas no fundo, eu sabia que estava querendo muito mais do que apenas uma conversa amigável. Eu queria entender quem era Marília fora dos tribunais.

Pov. Marília Mendonça

Eu estava ali para espairecer, mas, como sempre, minha mente vagava para o trabalho. Mesmo com a cerveja em mãos e a música ao fundo, eu não conseguia me desligar completamente. Já estava pensando no caso do dia seguinte quando ouvi uma voz ao meu lado. Uma voz suave, mas firme.

"Posso pagar uma rodada?"

Eu me virei e, por um segundo, achei que a cerveja tinha me feito alucinar. Maraisa, a jornalista que todo mundo conhecia pelas investigações profundas e pelas matérias que desvendavam segredos bem guardados. A última pessoa que eu esperava ver em um bar como aquele. Nossos caminhos já tinham se cruzado em alguns eventos, mas nunca tivemos uma conversa propriamente dita.

Ela estava mais perto do que eu esperava, e o perfume dela logo invadiu meus sentidos antes mesmo que eu pudesse processar a pergunta. De repente, a minha noite ganhou um ar bem mais interessante.

"Só se eu puder retribuir a próxima", respondi, tentando soar mais tranquila do que realmente estava.

Ela sorriu, aquele sorriso meio de canto que sugeria que sabia exatamente o efeito que tinha sobre as pessoas. Nosso brinde foi quase casual, mas o som dos copos se tocando pareceu mais íntimo do que qualquer outra coisa naquela noite.

"Então... você vem muito aqui?" Tentei puxar conversa, mantendo o clima leve, mas ao mesmo tempo curioso. Havia algo nela que fazia meu corpo inteiro despertar, como se cada pequeno detalhe importasse.

Ela riu, e o som era genuíno, quente. "De vez em quando. Gosto de lugares mais discretos... e você?"

"Hoje foi improviso. Minha amiga me arrastou até aqui, mas parece que ela me largou." Eu dei outro gole, tentando não pensar demais no jeito que ela estava me olhando. "Mas não estou reclamando da companhia."

Entre Linhas e Leis - MalilaOnde histórias criam vida. Descubra agora