Prólogo

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Nota: o capítulo será dividido em diversas partes e tópicos para que vocês possam entender o contexto.

A era das mil escamas

Ninguém sabe exatamente de onde os dragões surgiram. Alguns diziam que tinham vindo das distantes terras do norte, além do grande mar de ébano — um conjunto de cordilheiras feitas de um mineral que leva o mesmo nome —, onde temerosos vulcões estavam em erupção, o que teria sido a causa da migração dos dragões para Wyrmsgrith, o continente dos homens. Mas ninguém realmente sabia ao certo.

Contudo, o que todos sabiam era que o continente, outrora preenchido por vastos pastos férteis e paisagens lindíssimas, havia sido tomado pelas criaturas aladas, que incendiavam tudo e possuíam poderes com os quais humanos comuns não tinham como lidar.

Isso levou a um período chamado 'A Era das Mil Escamas', em que os dragões tomaram conta de toda Wyrmsgrith, desde a capital até as terras assombrosas dos valentes guerreiros de Ebonspire, que já estavam acostumados a lidar com dragões comuns, mas nunca haviam enfrentado as bestas aladas com poderes mágicos.

E foi assim, por mil anos, que os humanos tiveram que viver nas cavernas do continente, sobrevivendo das águas e dos animais que as cavernas podiam fornecer.

A era das escamas místicas
1002 D.D. (depois dos dragões)

Em um dia memorável, a luz do sol irrompeu pela escuridão das cavernas, trazendo esperança aos humanos.

Após 1002 anos de sofrimento, um homem que afirmava ser de um continente distante, localizado a milhares de quilômetros de Wyrmsgrith e inabitável por ser uma selva repleta de perigos, declarou-se um Flamehart — conhecidos por não morrerem devido às propriedades curativas das lágrimas de fênix que ingurgitavam durante o processo de aprendizagem para se tornarem aqueles arcanos misteriosos. Esse mesmo Flamehart, cujo nome se perdeu com o tempo, tornou-se mestre de várias casas influentes no continente dos homens, embora desconfiassem dele, pois não só havia chegado até ali — tendo cruzado a maior parte de Wyrmsgrith — como vinha de Saskia, uma terra abandonada e inabitável há milênios.

Diferentemente do que as casas Wisberys e Exenes pensavam sobre o Flamehart desconhecido, ele acabou se revelando verdadeiramente útil para os humanos, ensinando-os a imbuir magias em armas que, a princípio, eram apenas velhas foices, mal capazes de cortar carne, mas que mais tarde se transformaram em poderosas espadas. Contudo, não foi apenas isso que o arcano ensinou — ele também compartilhou seus conhecimentos de magia e feitiçaria antiga.

No final do ano 1002 D.D., as famílias Wisberys de Ebonspire, Exenes de Brillaterra e Fiskor de Thornedral — a capital de Wyrmsgrith — reuniram os homens e mulheres que aprenderam as magias ensinadas pelo Flameheart e partiram para a guerra contra os dragões. No entanto, a família Exenes, sempre mais conectada à natureza e desejando preservar o equilíbrio do mundo, utilizou seus conhecimentos de feitiçaria para domar os dragões, encerrando, assim, de uma vez por todas aquele tormento.

Assim, com o passar dos anos e após muitas pesquisas, os seres humanos de Wyrmsgrith finalmente aprenderam a viver em harmonia com os dragões. Um acordo justo foi o que consolidou esse pacto de paz. Os humanos cederam uma parte de seu território para que os dragões pudessem viver e se reproduzir livremente. Em troca, os dragões ofereceram suas escamas mágicas, que, ao serem consumidas, concediam amplos poderes místicos. Com isso, os humanos não precisavam mais de recipientes ou encantamentos para adquirir magia, pois o poder passava a fazer parte de seus próprios corpos.

O declínio das escamas
315 D.D

Por quase 300 anos, humanos e dragões conviveram em paz, sem guerras ou conflitos, apenas prosperidade. Porém, a incessante sede de poder da humanidade deu início a uma conspiração contra as majestosas criaturas aladas.

A família Fiskor sempre foi ambiciosa, a ponto de, antes da chegada dos dragões, iniciar pequenas batalhas contra as outras duas casas mais importantes: Wisberys e Exenes. Entretanto, nunca obtinham sucesso, pois, embora fossem influentes devido ao seu poder inquisitivo, seus homens não eram bem treinados. Isso se devia ao fato de Thornedral ser cercada por aldeias e povos pacíficos, que viviam exclusivamente da pesca. Ebonspire, por outro lado, sofria constantes ataques de dragões por estar no extremo norte, enquanto Brillaterra, acostumada a guerras, defendia suas magníficas cidades feitas de diamante lunar.

Ainda assim, a falta de habilidades em combate não impediu que os Fiskor se destacassem como excelentes manipuladores. Aos poucos, foram envenenando a mente da família Wisberys —  que foi a mais prejudicada pela chegada dos dragões — com intrigas e falsas notícias. Inicialmente, os nortenhos rejeitaram a proposta, em nome da lealdade ao pacto firmado entre as três famílias. No entanto, os Fiskor, astutos como sempre, descobriram um antigo feitiço capaz de aprisionar, e não apenas domar os dragões, como os Exenes haviam feito. Diante dessa nova possibilidade, os Wisberys acabaram cedendo e aceitaram a proposta.

Com isso, os Exenes e os habitantes de Brillaterra se viram obrigados a acompanhá-los, e, ao longo do tempo, os dragões foram levados à beira da extinção.

Toda a supervisão ficou a cargo dos Fiskor, que controlavam quem entrava e saía de Wyrmsgrith. Os Wisberys passaram a ser conhecidos como os açoitadores de escamas, encarregados de torturar os dragões e remover suas escamas. Os Exenes, após 15 anos de participação na escravização dos dragões, decidiram se recusar a continuar, embora alguns sacerdotes da lua, por conta própria, tenham acabado trabalhando para a casa Fiskor.

Considerando que o declínio das escamas continuaria, a família Exenes tomou uma decisão que nunca havia imaginado antes. Toda a casa, incluindo criados, soldados, sacerdotes, o próprio senhor de Brillaterra, sua esposa e a primogênita, viajaram para Saskia, um continente devastado pela selva, mas que poderia representar uma oportunidade de recomeço para os dragões que levaram consigo.

Com os Exenes deixando Wyrmsgrith para trás, Natrix Fiskor — o atual lorde da casa Fiskor — tomou para si um trono construído sobre o grande esqueleto de Thornedral, onde ocorrera a primeira morte de uma das maiores bestas aladas já vistas: Dern, conhecido como Murmúrio das Trevas, que fora abatido por Caliban Wisberys.

E assim, iniciou-se uma nova era que perdurou por cerca de 20 anos.

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