Aleksei: "Reflexos do Passado: Anya e a Nova Vida"

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Ela é linda, uma rusalka* com certeza, não é possível que isso esteja acontecendo. Essa garota me lembra Yeketerina, o amor da minha vida, tudo o que sempre desejei em uma mulher, tirada dos meus braços, da minha companhia. Não há um dia ou noite sequer que eu deixe de pensar nela. Ela ainda está tão presente na minha vida. Não consigo ir em frente porque a amo demais, e foi me tirada por Marzanna*. Será essa mesma Marzanna quem está trazendo uma lembrança de que a minha zhena*(esposa) está com ela? E aqui há uma garota idêntica? Chert vozmi*(maldição)!

A inocência brilha em seus olhos verdes esmeralda. Se não soubesse que ela mora no Brasil, diria que é uma perfeita mulher russa. Não há sotaque em sua voz, que aliás é uma melodia de se ouvir. O seu penteado em coque era como Yeketerina arrumava o cabelo para as apresentações de ballet. E o seu perfume? Por rusalka, tinha que ser o mesmo? Nunca me esquecerei de seu cheiro, o perfume que abusava em me seduzir.

Por Lada*, porque brinca assim comigo? Já não basta o quanto sofro? Já não basta além de não tê-las mais, nem a minha malishka*(pequenina) foi poupada, sendo também tirada de mim? Como trabalharei com ela? Se demiti-la, serei tachado de perverso, louco e talvez a loucura esteja se instalando em mim. E se quiser ela ao meu lado? Estou tentado a descobrir quem é ela, o que faz e como veio parar aqui na minha empresa para me sufocar com a aparência de minha zhena.

Sandu ficará preocupado comigo; acreditará que estou surtando com essa brincadeira de rusalkas. O que dirá Dmitri se me ver abalado? Os dois ficarão no meu pé, cobrindo-me de cuidados. E não aceitarei, esses dois mais o Nikolai não vivem as suas vidas para estarem comigo. O Nikolai, mesmo estando na Rússia, fica a me proteger, questionando se estou bem. Agradeço a Bog*(Deus) por tê-los, mas não posso sacrificá-los por mim.

A minha cabeça está doendo, não quero e não posso ter outro episódio de dor de cabeça aguda. Gerou em mim uma condição neurológica resultante do trauma e do estado comatoso. Tenho essas crises sem aviso prévio, principalmente quando me emociono demais ou fico nervoso.

Preciso respirar fundo e me acalmar, estou sozinho e não quero que Sandu presencie novamente meu corpo convulsionando no chão. Da última vez, machuquei-o sem querer; meu braço ficou rígido e ao tensioná-lo um tapa acertou seu rosto, cortando seu lábio. Sou perigoso quando estou nessas crises.

Pego um copo de água, minhas mãos tremem, quase não consigo levar o copo à minha boca.  Com dificuldade bebo alguns goles, esqueço de me hidratar, a água desce por minha garganta como um bálsamo, aliviando a secura que acompanha essas crises.

Sento no sofá, coloco minha cabeça entre as minhas mãos e rogo a Perun* que me dê forças, que não me deixe, como sempre me amparou. Não o culpo pelo que aconteceu com a minha família, não entendo o por que não pude salvá-las. Terei que conviver com a culpa de não ter feito o meu melhor para protegê-las, para cuidar dos meus dois tesouros, que não posso mais tocar.

Tenho que aceitar a realidade que não fui feito para amar ou ser amado, não quero me apaixonar por ninguém. Sandu tem que compreender que amei apenas Yeketerina em toda a minha vida; nunca tive outras namoradas ou outras mulheres em minha cama.

Chert vozmi, quando pensei que estava me acostumando a viver sem o olhar terno dela, sem seu sorriso travesso, sem sua voz hipnotizadora, e que nunca mais poderia tocar sua pele de pêssego, surge um esboço dela. Essa garota não é idêntica à minha zhena, mas a lembra como um quadro inacabado, onde podemos apreciar a arte não acabada como um mistério a nos prender atenção naquele que se tornará uma obra-prima.

Sandu entra em minha sala sem bater; adentra com passos apressados. Vejo seu nervosismo e a ansiedade pulsando nas veias de seu pescoço. Ele me encontra no sofá, aproxima-se, ajoelha-se em minha frente e envolve meu corpo com seus braços fortes, apertando-me contra o seu peito. Quando foi que ficou tão musculoso e forte desse jeito? Está me esmagando?

Aleksei: Amor & Mistério Onde histórias criam vida. Descubra agora